quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Os bons de caixa - José Roberto de Toledo

- O Estado de S. Paulo

Há duas maneiras de medir as chances de um candidato na campanha eleitoral de prefeito: pesquisas de intenção de voto e dinheiro arrecadado. Em ambas, quanto mais altos os valores, obviamente melhor. Estar bem em só um dos quesitos não garante nada, mas ter números elevados em ambos aumenta a possibilidade de o candidato ir ao segundo turno e, eventualmente, até eleger-se no primeiro. Poucos candidatos conseguem essa combinação, porém.

Prefeito mais bem avaliado das capitais – junto com sua colega de Boa Vista –, ACM Neto (DEM) lidera a disputa em Salvador com 60 pontos de vantagem sobre a segunda colocada no Ibope. Mas não só. O candidato à reeleição arrecadou até agora 5 vezes mais do que a soma angariada por todos os seus adversários juntos. Isso porque R$ 3 de cada R$ 4 de sua campanha vieram do DEM. Os R$ 2,5 milhões foram o maior investimento do partido, por ora.

O PMDB fez a mesma coisa com seu candidato a prefeito do Rio de Janeiro, mas sem o mesmo sucesso. Pedro Paulo (PMDB) é quem mais arrecadou até agora entre as centenas de milhares de políticos e aspirantes que disputam as eleições deste ano: R$ 7,3 milhões. Metade do dinheiro veio do seu partido, que tenta manter a hegemonia na cidade e no Estado. Não está fácil: no Ibope, Pedro Paulo subiu e se embolou com outros quatro candidatos no segundo lugar, mas tem que suar para garantir lugar no segundo turno.

O PMDB despejou quase quatro vezes mais recursos por enquanto em seu pesado candidato carioca do que em Marta, ex-Suplicy. No entanto, a candidata do partido em São Paulo aparece em segundo lugar no Ibope e subindo, com boas chances de ir ao segundo turno até o momento. Ela aparece em segundo lugar também na arrecadação, logo atrás do tucano João Doria, mas já à frente do líder nas pesquisas, Celso Russomanno (PRB).

A ultrapassagem de Marta sobre Russomanno na arrecadação é um fato de campanha relevante. O candidato do PRB saiu na frente nas pesquisas e também na arrecadação – graças à generosa doação inicial de seu partido –, mas acabou suplantado em grana por causa das doações à peemedebista feitas por empresários amigos do marido de Marta, como Ivan Correa de Toledo Filho, e de amigos do presidente Michel Temer, como José Yunes.

Já Doria lidera no caixa porque, além das doações do PSDB, é autofinanciado. O tucano é o segundo que mais tirou dinheiro do bolso até agora (R$ 1,6 milhão) entre todos os candidatos, atrás apenas do atual prefeito de Palmas (TO), Carlos Amastha (PSB), que concorre à reeleição (está empatado em primeiro lugar no Ibope) e já investiu R$ 1,9 milhão na própria campanha.

As diferenças de recursos e pontos no Ibope entre os peemedebistas Marta e Pedro Paulo mostram que, embora exista uma correlação entre dinheiro e desempenho eleitoral no Brasil, ela não é automática – principalmente no começo da campanha, quando ainda não está claro quem são os favoritos, e os investidores estão esperando para avaliar em quem apostar suas fichas.

À medida que as pesquisas vão mostrando quem está subindo e quem está caindo, é de se esperar que as doações comecem a favorecer os líderes (ainda que isso fosse mais natural quando havia doações empresariais). Daqui até a eleição, vale comparar as curvas de arrecadação e de intenção de voto dos candidatos. Quanto mais sobrepostas estiverem, mais consistentes tendem a ser seus movimentos – seja de ascensão, seja de estagnação.

Sob esse aspecto, o quarto lugar de Fernando Haddad (PT) no Ibope em São Paulo é tão ruim quanto seu quarto lugar em arrecadação na cidade – especialmente levando-se em conta que ele é o atual prefeito. Mais difícil, só a situação de candidatos sem dinheiro nem tempo de propaganda, como Luiza Erundina (PSOL), que caiu no Ibope após o horário eleitoral.

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