domingo, 4 de setembro de 2016

Para Temer, engajamento a protestos é ‘inexpressivo’

• Presidente diz que manifestações são naturais, mas condena depredações

Vivian Oswald - O Globo

HANGZHOOU, CHINA - O presidente Temer disse na China que os protestos contra seu governo são feitos por “grupos mínimos”. Defendeu o direito à manifestação, mas condenou as depredações. Para ele, quem o rotulou de “golpista” foi bem-sucedido, mas críticas ao impeachment não têm amparo na Constituição. -HANGZHOU, CHINA- O presidente Michel Temer minimizou ontem os protestos realizados no Brasil contra o impeachment. Segundo ele, as manifestações estão sendo realizadas por “grupos mínimos” que se valem do direito democrático à manifestação para depredar, o que é ilegal. Em conversa com jornalistas brasileiros na China, ele também disse que “não vai participar de nada” nas eleições municipais deste ano. E que é cedo para avaliar o apoio popular a seu governo.


Para Temer, o rótulo de golpista usado pelos manifestantes foi “bem-sucedido”, mas não encontra amparo na Constituição. Ele defendeu a lisura do processo de impeachment :

— Nós temos o hábito de apadrinhar certos rótulos, e este é um rótulo, digamos assim, muito bem-sucedido, mas contrário ao texto constitucional. Na verdade, dá-se golpe quando você tem uma ruptura constitucional. Qual é o golpe? O golpe é destruir o sistema normativo. Quando você tem uma violação do texto constitucional, você pode falar em golpe, porque golpe tem um sentido jurídico, não tem um sentido político. E a palavra golpe foi usada no sentido político e não no sentido jurídico.

Segundo ele, cabe ao Congresso examinar um eventual pedido de impedimento:

— Isso se deu. Ainda deu-se com a participação da Corte Suprema do Brasil. A pergunta mais do que razoável é: Quais são os golpistas? Os representantes do povo que numericamente, expressivamente decretaram o impedimento e sob a presidência do presidente do Supremo Tribunal Federal?

Em Hangzhou, onde participará da cúpula do G-20, ele pregou a pacificação.

— Vou insistir nesse discurso. São pequenos grupos, parece que são grupos mínimos, né? Não são movimentos populares de muito peso. Não tenho numericamente, mas são 40, 50, cem pessoas, nada mais do que isso. No conjunto de 204 milhões de brasileiros, acho que isso é inexpressivo — afirmou.

Temer disse que se preocupa quando os atos são violentos e há depredação:

— O que preocupa, isto sim, é que se confunde o direito à manifestação com o direito à depredação. O que está se exercendo lá é um direito que não existe no nosso sistema, que é o direito à depredação. O tal “Fora Temer”, tudo bem, é um movimento democrático.

Para o presidente, é natural que pessoas se reúnam para protestar. Frisou, porém, que os protestos recentes foram realizados por grupos pequenos e de depredadores:

— Não foi uma manifestação democrática. Manifestação democrática é aquela que pode eventualmente sair às ruas e pregar uma ideia. Quando se trata de depredação, não, isso daí não está previsto na ordem normativa. E o que está acontecendo lá são movimentos depredatórios.

Temer disse, no entanto, considerar as manifestações “mais do que naturais”, devido ao momento político marcado pelo processo de impeachment. E voltou a pregar a pacificação mas, desta vez, admitindo que isso pode levar tempo:

— Pacificar logo no primeiro dia? É absolutamente impossível — avaliou.

Sentado numa das poltronas do saguão do hotel onde está hospedado, Temer disse achar natural que pesquisas de opinião não indiquem agora apoio a seu governo:

— Acho mais do que natural que neste momento não haja apoio. Muitas vezes há também um desconhecimento. Você pode pegar as pesquisas, mais de 30%, 35% não sabiam quem era o vice-presidente e não sabiam quem era o presidente. Seria muito estranho que a esta altura tivéssemos unanimidade absoluta, 80%, 90% apoiando. Daqui a dois anos, se você me fizer essa pergunta e estiver na mesma situação, daí eu reconheço as dificuldades.

Para Temer, a pacificação é questão de tempo: — No breve pronunciamento que fiz, meu único desejo é, em dois anos e quatro meses, entregar um país reunificado, pacificado e nos trilhos.

Perguntado se resistiria à tentação de indicar um sucessor, também pediu mais tempo.
— Isso daqui a dois anos você me pergunta. Como temos uma base parlamentar muito ampla, preciso tomar muito cuidado político. Por exemplo, nas eleições municipais, não vou participar de nada.

Mais cedo, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, também minimizou os protestos no Brasil, aproveitando para alfinetar a Venezuela.

— Mini, mini, mini, mini, mini, mini. Manifestação de verdade é a de Caracas, com um milhão de pessoas na rua protestando contra o desabastecimento, a falta de remédios e contra prisões políticas que existem naquele país.

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