sexta-feira, 30 de setembro de 2016

PF acha indícios de repasses ilícitos a Mantega, Vaccarezza e Zarattini

Por André Guilherme Vieira - Valor Econômico

CURITIBA - A Polícia Federal (PF) encontrou indícios de repasses ilícitos relacionados a contrato firmado pela Odebrecht com a Prefeitura de São Paulo, em 2011, que teriam sido destinados ao ex-ministro da Fazenda no governo Dilma Rousseff, Guido Mantega, ao deputado Carlos Zarattini (PT-SP) e ao ex-deputado que foi líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT).
As suspeitas surgiram após o aprofundamento de análises sobre codinomes usados pela Odebrecht para, segundo os investigadores, contabilizar pagamentos de propinas em obras das quais participava em todo o país.

Uma das anotações foi encontrada no celular de Marcelo Odebrecht, apreendido pela Lava-Jato.

"BMX: Vacareza e Zaratini 3%, sendo 3 deles, mais 1GM [Guido Mantega, diz a PF] até outubro. Depois 21M p/GM e 2 para V + Z".

Para os investigadores, a menção aos nomes do ex-ministro, do parlamentar e do ex-deputado tem relação com a obra da BMX Empreendimento Imobiliário e Participações S.A, responsável pela construção do Parque da Cidade, por empreendimentos residenciais e pela obra de um shopping na cidade de São Paulo.

O delegado Filipe Pace, que lidera as investigações da Operação Omertà, 35ª fase da Lava-Jato, afirma em relatório de inteligência policial que Marcelo Odebrecht "relacionava projetos que geravam lucro para as empresas da holding Odebrecht como motivos para pagamentos ilícitos".

Pace diz também que as anotações "evento" e "evento out" seriam referências às eleições.

"Cândido Elpidio Vaccarezza e Carlos Zarattini receberiam R$ 3 milhões relacionados ao 'evento out' e R$ 2 milhões relacionados a 'evento 2014', este último valor sobre orientação de Guido Mantega", relata o investigador no documento de análise policial.

Para Filipe Pace, "ao que parece", Guido Mantega "definiria a destinação de R$ 1 milhão, relativo ao 'evento out', e de R$ 21 milhões, relacionado ao 'evento 2014'".

O delegado destaca o fato de Marcelo Odebrecht ter recebido e-mail com anotações sobre diversos projetos da empresa para os quais daria prosseguimento, segundo ele.

Em um deles, o "Projeto BMX (SP)", é mencionada uma preocupação de que a Odebrecht obtivesse as "aprovações finais" da proposta feita à prefeitura da capital paulista, além de viabilizar a compra de Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs), emitidos pelo Executivo municipal.

Zarattini tem privilégio de foro por ser parlamentar. As menções feitas a ele foram encaminhadas ao Supremo Tribunal Federal. Procurado, o deputado disse que desconhece o material citado no relatório. "Não sei o que quer dizer. Todas as doações eleitorais que recebi foram regulares", garantiu.

Vaccarezza já era investigado pela Lava-Jato em Curitiba desde o ano passado. O advogado dele, Marcellus Pinto, disse que as anotações do celular de Marcelo Odebrecht "são infactíveis". Segundo o criminalista, elas "não guardam pertinência com o momento político daquela época. As obras ocorreram durante a gestão Gilberto Kassab, então filiado ao DEM, que fazia oposição ao PT nas esferas municipal e federal. Por isso seria impossível qualquer tipo de ingerência naquelas obras", justificou.

Sobre as doações recebidas por Vaccarezza em 2014, o advogado afirmou que são públicas e que "o Ministério Público Eleitoral já se posicionou por sua aprovação em manifestação ao TSE".

O advogado de Guido Mantega, José Roberto Batochio, disse que a existência de "qualquer código cifrado, de quem quer que seja, nunca foi do conhecimento do ministro Mantega". Segundo o criminalista, "isso [os códigos cifrados] só existe na cabeça dos investigadores".

O ex-ministro teve prisão temporária decretada na quinta-feira, durante a fase "Arquivo X" da Lava-Jato. Ele foi solto horas depois por decisão do juiz federal Sergio Moro.

Mantega é suspeito de ter pedido pagamento de US$ 2,3 milhões ao empresário Eike Batista, em 2012, quando era ministro, para saldar dívida do PT, segundo Eike. O empresário procurou o Ministério Público Federal em maio e depôs como testemunha do caso.

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