sábado, 10 de setembro de 2016

Só 30% devem ser reeleitos nas capitais

Valor Econômico /Eu & Fim de Semana

• A projeção é do cientista político Antonio Lavareda

Por Monica Gugliano

SÃO PAULO - A menos de um mês das eleições municipais, é difícil responder com o mínimo de segurança quais candidatos e partidos serão mais atingidos pelos sobressaltos da política e da economia. No entanto, a desconfiança e o cansaço dos eleitores com as promessas de campanha que não foram cumpridas devem afetar todas as siglas, sem distinção. E devem bater em cheio nos prefeitos que disputam mais um mandato. A previsão do cientista político Antonio Lavareda, de 65 anos, é que 2016 tenha o menor percentual de reeleição, na comparação com as duas últimas eleições municipais.

"Se 2008 foi o ano celestial da reeleição, 2016 poderá ser um ano infernal", diz Lavareda, presidente do Conselho Científico do Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas), no livro "A Lógica das Eleições Municipais" (FGV Editora).

Organizado em parceria com a cientista política Helcimara Telles, o livro, que acaba de ser lançado, traz 13 artigos escritos por pesquisadores acadêmicos. "Acreditamos que apenas 30% dos prefeitos devem ser reeleitos. Em 2008 foram 95% e, em 2012, 50%", afirma Lavareda nesta entrevista ao Valor.

Nas capitais e nos grandes centros, a taxa de reeleição deverá atingir o menor patamar. Nas pequenas e médias cidades, os prefeitos têm mais chance de permanecer por outros quatro anos no cargo, observa Lavareda. Nesse cálculo, aponta o cientista político, entra o uso da máquina, mais fácil nos municípios menores.

"Com poucos recursos financeiros, menos tempo para as campanhas, a crise econômica e política, os prefeitos nas capitais e nas cidades maiores terão muita dificuldade para convencer o eleitor de que merecem mais um mandato. A reeleição será varrida dos grandes centros", afirma o cientista político.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Valor:

• Valor: Em uma eleição antecedida por tantas crises, quais critérios o senhor projeta que os eleitores vão usar para escolher os candidatos?

Antonio Lavareda: O eleitor vai construindo a percepção do que chamamos de "caráter" do candidato. É a capacidade política dele, a retidão, a percepção sobre o que esse candidato fez ou deixou de fazer. Com as informações positivas ou negativas, o eleitor vai construindo uma opinião que decide o voto.

• Valor: Qual é o peso que a Lava-Jato pode ter em uma eleição municipal?

Lavareda: Uma das principais consequências foi o impacto que a Lava-Jato teve nos índices de confiança no sistema político. Há uma crise de representação magnificada pelo impeachment que trouxe muita desesperança. É o segundo impeachment em 24 anos.

• Valor: Em que medida essa desesperança vai interferir na escolha do candidato?

Lavareda: Em 1992, no primeiro impeachment, houve um consenso sobre a necessidade de afastar o presidente da República. Hoje a situação foi oposta. Mas o eleitor percebeu que Dilma Rousseff perdera a condição de governar. O eleitor passou a intuir a importância do apoio político que este ou aquele candidato possa ter. É um cenário singularíssimo sobre o qual só vamos ter uma análise razoável e segura após a eleição. O eleitor está desconfiado e cansado das promessas.

• Valor: Esse cansaço vai prejudicar a reeleição dos prefeitos?

Lavareda: A reeleição está muito ligada ao maior ou menor otimismo dos eleitores. A sensação de bem-estar ou não predomina na opção de conceder mais um mandato ao ocupante do cargo. Em 2008, quando o Brasil passava por uma situação muito boa, 95% dos prefeitos foram reeleitos. Esse percentual já caiu para 50%, em 2012, quando o cenário já dava sinais de que não ia bem. Agora, nas capitais e cidades maiores, estimamos que só 30% dos ocupantes dos cargos consigam mais quatro anos.

• Valor: Além do otimismo, as novas regras para as campanhas também vão interferir no índice de reeleição?

Lavareda: Com poucos recursos financeiros, menos tempo para as campanhas, as crises econômica e política, os prefeitos nas capitais terão muita dificuldade para convencer o eleitor de que eles merecem mais um mandato. A reeleição será varrida dos grandes centros.

• Valor: Muitos dos prefeitos têm avaliação negativa, isso pode ser revertido? Pode se aplicar isso também ao presidente Michel Temer?

Lavareda: Em todos os casos o eleitor decide pragmaticamente. Virado o capítulo do impeachment, no caso do presidente Michel Temer, ele necessitará de ações que mostrem resultados rapidamente, em pouco tempo.

• Valor: Na propaganda eleitoral gratuita, há muitas promessas com poucas chances de serem cumpridas. Por que os candidatos mantêm essa estratégia?

Lavareda: Os candidatos contam com o fato de os eleitores não escolherem com base nas propostas. Sabe-se que no ranking de problemas, saúde e segurança são os que mais afetam a população. Mas os eleitores não são analistas políticos nem especialistas. Por isso, sempre permanece o discurso de que "eu conheço seus problemas e estou preocupado com eles. Vou fazer alguma coisa".

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