quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Um bom começo - Rosângela Bittar

- Valor Econômico

• Currículo entupido é produto de ideologia e corporativismo

O governo ter declarado seus princípios para uma reforma do ensino médio por medida provisória não é nenhum problema insuperável nem fere a democracia como se quer fazer crer. O abuso do recurso às medidas provisórias tem sido uma constante e transformou-se em forma autocrática de governar sem a participação do Congresso, na última década, o que saturou a paciência da sociedade. No caso, porém, o assunto é relevante para constar de MP em um começo de conversa, um primeiro passo. O ensino médio entraria, com certeza, como já entrou junto com outras reformas educacionais, no buraco negro do Congresso e seria votado, se o fosse, lá pelo fim do ano que vem.

A normatização indicada na MP vinha sendo discutida há anos - só os professores de história sugeriram 10 milhões de mudanças - e, mais importante, as principais alterações de conteúdo desse nível de ensino não estão no ato assinado agora, mas virão com o novo currículo que ainda será muito debatido antes de ter sua base definida.

Tudo será feito de forma descentralizada, dando liberdade ao aluno e ao seu sistema de ensino de escolher o que ensinar e o que estudar. E só o fato de a forma (MP) ter se transformado na principal crítica à iniciativa é indicativo de que a reforma não tem calcanhar de aquiles mais sério até aqui. Exatamente porque a reforma para valer será moldada depois. Agora apenas se soltaram suas amarras.

O ensino médio como principal gargalo do sistema educacional brasileiro é vilão há três décadas. Em maio deste ano especialistas reuniram-se para fazer algumas recomendações essenciais diante do diagnóstico repetitivo e sem saída que passou incólume por vários governos. Como o problema da educação não é mais oferta de escolas, hoje suficientes, a União, os Estados e os municípios não puderam mais se ocupar desse problema de fácil solução - erguer edifícios -, tiveram que enfrentar a realidade crua da qualidade em todos os níveis, da falta de identidade do ensino médio, da má formação e remuneração dos professores.

Especialistas consideram em suas pesquisas o ensino médio o problema principal, então a atenção a ele passou a ser prioritária. O currículo que oferece, com 13 disciplinas obrigatórias, uma distorção que leva o estudante a não ter tempo para se aprofundar em nenhuma, é o principal foco da reforma. Serão menos disciplinas obrigatórias e os estudos serão completados por uma opção do sistema estadual de ensino, responsável pela gestão do ensino médio, e do estudante.

Os pais dos alunos cobram pouco e reclamam quase nada das instituições de ensino, mas se os alunos fossem mais ouvidos há muito as disciplinas obrigatórios do currículo teriam sido reduzidas.

Fora do português e da matemática, incluindo o inglês como língua estrangeira necessária ao projeto de estudos e de vida, tudo o que entra e sai é resultado da guerra de lobbies dos professores, da luta ideológica, do corporativismo impregnado no sistema a que os alunos estão submetidos.

A filosofia, a sociologia, a educação física, a física, entre outras áreas do conhecimento, são disciplinas que não precisam atravancar o desenvolvimento exatamente nessa etapa da educação dos jovens. Enquanto se distrai com as obrigatoriedades que não lhe falam ao projeto futuro, o estudante deixa de lado questões fundamentais, como a aprendizagem do inglês, por exemplo.

Foi a falta dele que fez naufragar o mais inovador e importante programa educacional do governo Dilma Rousseff, o Ciência sem Fronteiras. Sem noção de inglês, os estudantes beneficiados foram fazer turismo em vários países, um aproveitamento quase nulo.

Ao obrigar menos disciplinas e deixar espaço para as matérias de opção do estudante, o currículo do ensino médio passará a ser instrumentos real de formação. Por que todos têm que estudar a mesma coisa? Não terão se houver competência na implantação da reforma.

Currículos enxutos, mais flexíveis e realistas será o primeiro passo para se chegar a uma reforma do ensino médio, desafio amplo e irrestrito. A segunda questão relevante é a da formação dos professores que não se sabe ainda que rumo tomará. Também no diagnósticos especialistas mostram que o problema básico é que o professor se forma sem nunca ter dado aula. Estuda teoria na faculdade de educação. E não é só teoria o que vai ensinar. E as secretarias estaduais de Educação, responsáveis pela gestão do ensino médio, não se envolvem na formação do professor que precisa para seus alunos.

Os Estados vão ganhar, se conseguirem implantar a reforma cujo primeiro passo foi dado agora, autonomia real para organizar seus cursos. O nome da reforma do ensino médio é flexibilização em todos os sentidos.
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A maioria dos milhares de candidatos a prefeito que desfilam por aí em carreatas e sumárias aparições na TV, sem possibilidade de vitória, sabe que não está na disputa para valer e, se estivesse, não teria a menor chance. Estas figuras estão apenas aproveitando para fazer isso mesmo, figuração. A campanha, na verdade, é para a Câmara Federal, ou para o Senado. Pretendem eleger ou reeleger-se nas próximas eleições proporcionais.

A disputa agora é uma fantasia, um meio de se tornarem mais conhecidos, ou de fixarem a imagem. É a campanha hoje olhando para 2018. A renovação do mandato será difícil, não só pelo financiamento eleitoral, escasso, como pelo conjunto da obra dos parlamentares que, este ano, ficaram mais expostos às intempéries.
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O ministro da Justiça vai de "bottom" e tudo a um palanque de campanha eleitoral e, a título de apoiar e não boicotar a Lava-Jato, anuncia operação da Polícia Federal, a ele subordinada. O ministro da Saúde deixa que no site do órgão seja contrabandeada uma agenda sua em que constam, às 18 h, "renúncia do (vice) presidente da República #ForaTemer." E às 19 h, "reunião com ministros e líderes da base aliada do GOLPE". E depois o problema do governo é de Comunicação?

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