segunda-feira, 3 de outubro de 2016

A extensão do desemprego – Editorial / O Estado de S. Paulo

A existência, no fim de agosto, de 12 milhões de trabalhadores sem emprego no País, número 37% maior do que o de um ano antes, dá a dimensão da tragédia que a crise econômica está impondo às famílias brasileiras. Iniciada na segunda metade de 2014 – ano em que Dilma Rousseff conquistou seu segundo mandato – a crise não tem se limitado, porém, a gerar números que mostram a assustadora velocidade da deterioração do mercado de trabalho e, consequentemente, da renda da população. Ela afeta também a qualidade do emprego preservado.

As pesquisas continuam a registrar recordes negativos do mercado de trabalho. Em um ano, 3,22 milhões de pessoas se juntaram aos que estão à procura de uma vaga, como constatou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com base em dados colhidos em mais de 3 mil municípios. Nesse período, a população ocupada encolheu 2,2%, com o fechamento de 1,991 milhão de postos de trabalho.

A taxa de desemprego aferida no final do trimestre encerrado em agosto, de 11,8% (era de 8,7% um ano antes), só não foi maior porque, como constatou o IBGE, a população inativa, isto é, a que deixou de procurar emprego, cresceu 1,3%. Isso significa que, no período, 809 mil pessoas saíram da força de trabalho porque deixaram de buscar alguma ocupação remunerada. Muito provavelmente, essas pessoas, em sua maioria, fizeram isso porque não acreditavam que poderiam conseguir uma vaga. Essa hipótese foi apontada pelo coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, que viu nesse fenômeno a possibilidade do aumento do desalento do brasileiro. É o impacto negativo da extensão e da profundidade da crise no ânimo do trabalhador.

A Pnad Contínua constatou que a maior parte dos postos de trabalho fechados é de empregos com carteira assinada. Isso mostra outro aspecto da deterioração do mercado de trabalho. O total de trabalhadores formais – com contrato assinado e protegidos pela legislação que lhes assegura diversos benefícios – diminuiu 3,8% em um ano. Já o número de trabalhadores sem carteira assinada admitidos pelas empresas privadas cresceu.

Outro dado que mostra a deterioração do mercado é o fechamento de 1,42 milhão de postos de trabalho na indústria. Isso significa a redução de 11% do total de empregados da indústria em um ano. Dado o nível de qualificação e de habilidades exigido para o preenchimento das vagas na indústria, esses empregados são, em geral, os mais bem preparados do mercado e, por isso, têm remuneração superior à dos trabalhadores de outros setores.

O fechamento em maior número de postos de trabalho na indústria, por isso, tende a reduzir a remuneração média dos que continuam empregados. Além disso, a crise vem impondo aos empregadores severa contenção de custos, o que implica a compressão dos gastos com pessoal.

Dessa combinação o resultado só poderia ser, como constatou a Pnad Contínua, a redução da renda média real do trabalhador. No trimestre encerrado em agosto, a renda foi de R$ 2.011, resultado 1,7% menor do que o de um ano antes. Com a redução também do número de empregados, a massa de renda real habitual paga aos ocupados somou R$ 177 bilhões no período da pesquisa do IBGE, valor 3% menor do que o do mesmo período de 2015.

Menor renda média e massa salarial em queda significam menos gastos e menos consumo. “É um ciclo vicioso”, observou o pesquisador do IBGE responsável pelos estudos sobre trabalho e renda. “Menos rendimento, menos pessoas ocupadas, menos consumo.” Vendendo menos, o comércio demite e faz menos encomendas à indústria, que igualmente se vê forçada a demitir.

O rompimento desse círculo pernicioso exige indicações concretas do governo de que está fazendo o necessário para propiciar a retomada dos investimentos. O necessário – e urgente – no momento é criar as condições para o equilíbrio de suas contas.

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