terça-feira, 4 de outubro de 2016

Candidatos adotam estratégias distintas por eleitorado de centro

• Crivella busca alianças formais; Freixo aposta em se diferenciar

Luiz Gustavo Schmitt, Miguel Caballero, Fernanda Krakovics, Marco Grillo – O Globo

Adversários na disputa pela prefeitura do Rio, Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL) estão em busca dos eleitores de centro, que direcionaram seus votos para Pedro Paulo (PMDB), Indio da Costa (PSD) e Carlos Osorio (PSDB) no primeiro turno. As estratégias, no entanto, são distintas: Freixo aposta que pode se diferenciar do oponente ao mostrar os nomes com os quais pretende governar; Crivella busca alianças formais, já conversou com o presidente licenciado do PSD, Gilberto Kassab, e vai procurar hoje o presidente do PSDB, Aécio Neves.

Pedro Paulo, Indio e Osorio alcançaram um terço dos votos válidos na primeira fase do processo eleitoral. As movimentações para atrair este eleitorado incluem também ajustes no discurso e gestos em direção aos candidatos derrotados, à exceção de Pedro Paulo, que não será procurado e já indicou que vai se manter neutro.

‘GOLPE’ FICA DE LADO
Freixo traçou como estratégia principal reforçar o contraste com Crivella. O PSOL pretende emplacar no segundo turno o mote “quem vai governar com Freixo” versus “quem vai governar com Crivella”. A ideia é mostrar que Freixo, sem compromissos originados nas alianças com outros partidos, terá em sua eventual equipe de governo quadros das universidades e de outros setores da sociedade. Além disso, o discurso vai apontar aliados incômodos de Crivella, como o ex-governador Anthony Garotinho e o ex-secretário municipal Rodrigo Bethlem.

Assim, a bandeira do “golpe” em referência ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, que marcou seu discurso anteontem, deixará de ser predominante. Segundo Freixo, não por moderação de tom, mas porque o PMDB já foi derrotado:

— O foco é fazer contrastes de programas e na forma de fazer política com o Crivella. Nós dois falamos contra o PMDB no primeiro turno. Agora é hora de marcar as diferenças.

O discurso de Freixo após a confirmação da ida ao segundo turno incomodou setores do PSDB e do PSD. Integrantes dos partidos, naturalmente distantes do PSOL, consideram que a nacionalização da campanha inviabiliza um eventual apoio formal, ainda que a possibilidade já fosse remota. Para quebrar resistências, Freixo enviou aos dois uma versão resumida do programa de governo do PSOL. O candidato diz que aceitará sugestões pontuais, mas que uma aliança só se dará em torno do programa, sem discutir cargos. Jandira Feghali (PCdoB), Alessandro Molon (Rede) e o PT já manifestaram apoio ao PSOL.

— Já declaramos apoio, mas, se houver alguma coisa além disso, dependerá de como o PSOL vai requisitar a nossa participação. Não queremos provocar constrangimentos — explicou o ex-deputado federal Wadih Damous (PT).

CRIVELLA SEM O PSB
Freixo também terá o apoio do PSB, partido ao qual Crivella esteve perto de se filiar no início do ano. O senador Romário (PSBRJ) permanece com o PRB.
— Eu cheguei a ter uma boa impressão de Crivella, mas depois o conheci mais profundamente e vi que o Rio não o merecia como prefeito — disse o presidente do PSB, Carlos Siqueira.

Em contraponto, o candidato do PRB aposta nas conversas com líderes partidários e em apoios dentro da máquina peemedebista, como os dos vereadores Rosa Fernandes e Dr. Jairinho, com ampla base nas zonas Norte e Oeste. Crivella também terá o apoio de Flávio Bolsonaro (PSC).

— Nós temos que procurar os eleitores do Bolsonaro e todos os outros (candidatos). Tenho conversado com vereadores de diversos partidos, até mesmo do PMDB — disse Crivella.

Formalmente, no entanto, o PMDB deverá ficar neutro. O presidente do PMDB no Rio, Jorge Picciani, defendeu que a legenda não embarque em nenhuma das campanhas:

— A minha posição pessoal é de não apoiar nenhum dos dois candidatos.

O PDT, que indicou Cidinha Campos na chapa de Pedro Paulo, deve seguir o mesmo rumo.

— O caminho da maioria é liberar. O povo fez uma opção que não era a gente — afirmou o presidente do PDT, Carlos Lupi.

O vereador Cesar Maia (DEM) também defende que o partido libere os filiados:

— Ainda não conversamos internamente. Minha opinião é que (o partido) deve dar liberdade a todos para decidirem individualmente.

Já o PTB negocia apoio a Crivella. O ex-deputado federal Roberto Jefferson, principal liderança da sigla, atacou Marcelo Freixo (PSOL):

— Para o Freixo eu não declaro apoio em hipótese nenhuma. O chefe dos black blocs, estou fora. Esquerdinha de universidade pública, estou fora.

No PSDB, o caminho mais provável é liberar os filiados. Caso a legenda opte por Crivella, caminho visto hoje como improvável, o apoio será “discretíssimo”, segundo um integrante do partido.

— Nenhum desses dois candidatos ou dessas propostas nos representam. De fato, nenhum dos dois lados me representa. Acho que nossa visão de Rio e de Brasil é muito distinta — disse Osorio, em vídeo publicado no Facebook. (Colaboraram Guilherme Ramalho, Maria Lima, Renato Grandelle e Suellen Amorim)

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