quinta-feira, 6 de outubro de 2016

O impeachment venceu nas urnas - Roberto Freire

- Blog do Noblat

Pouco mais de um mês após o Senado votar o impeachment de Dilma Rousseff e colocar um ponto final no desgoverno do PT, os brasileiros foram às urnas e deram o seu recado inequívoco. O resultado das eleições municipais expressou um sentimento que já era predominante nas ruas e sepultou definitivamente a narrativa estapafúrdia de que a petista teria sido afastada da Presidência da República por meio de um “golpe”. O fato inconteste é que as forças políticas que apoiaram o impedimento experimentaram um crescimento significativo no pleito, enquanto os lulopetistas e seus satélites foram fragorosamente derrotados nos quatro cantos do país.

A indignação contra o desmantelo, a irresponsabilidade e a corrupção desenfreada que levaram o Brasil ao buraco após 13 anos sob o comando de Lula e Dilma foi traduzida em votos que não dão margem a qualquer dúvida. O PT sofreu uma redução de mais de 60% no número de prefeitos eleitos em relação a 2012. No estado de São Paulo, onde o partido teve sua origem, a queda vertiginosa atingiu níveis nunca antes imaginados sequer pelos adversários mais ferrenhos da legenda: de 70 para apenas 8 prefeituras. Tais dados indicam que, se quiser continuar existindo como uma força política relevante, o PT terá de passar por uma profunda autocrítica, ainda que tardia.

Por outro lado, é perceptível o avanço dos partidos que integravam a antiga oposição e apoiaram o impeachment. Nesse grupo, é importante destacar o crescimento das três legendas que compõem um campo mais progressista e representam a esquerda democrática brasileira – o PPS (sucessor do Partido Comunista Brasileiro), o PSB e o PV –, também como forma de desmistificar a equivocada tese lulopetista de que o PT detém o monopólio das esquerdas no país, o que não passa de uma falácia.

Em 2016, o PPS elegeu 118 prefeitos e 1.669 vereadores em todo o país. Entre os eleitos no 1º turno, está Rafael Diniz, em Campos dos Goytacazes (RJ), município com mais de 200 mil eleitores. Além disso, o partido está na disputa do 2º turno em oito cidades, entre as quais Vitória, a capital do Espírito Santo, muito bem administrada pelo prefeito Luciano Rezende, que busca a reeleição. Também estão na rodada final de votação Humberto Souto (Montes Claros/MG), Marcelo Rangel (Ponta Grossa/PR), José Luiz Nanci (São Gonçalo/RJ), Juninho (Cariacica/ES), Pollyana Gama (Taubaté/SP), Haifa Madi (Guarujá/SP) e Alex Manente (São Bernardo do Campo/SP).

Em levantamento feito pelo jornalista Fernando Rodrigues, que analisou as 26 capitais brasileiras e as 67 cidades com mais de 200 mil eleitores (o chamado “G93”), o PPS também registra um crescimento importante e pode alcançar a marca de nove prefeitos eleitos em 2016 (um no 1º turno e outros oito no 2º) – em 2012, foram três. Essa maior presença em nível nacional certamente se deve ao protagonismo assumido pelo partido na firme oposição aos governos de Lula e Dilma e também durante o processo de impeachment.

Outro dado sobre o qual devemos refletir nessas eleições é o grande contingente de eleitores que se abstiveram, votaram em branco ou anularam o voto. Segundo o TSE, o índice de abstenção ultrapassou os 17,5% (ante 16,4% de 2012), o maior percentual dos últimos 20 anos. Entretanto, é necessário evitar conclusões precipitadas sobre esse fenômeno. Apesar de a taxa de não comparecimento às urnas ter subido em 17 das 26 capitais em relação a 2012, ela caiu nas cidades em que houve o recadastramento biométrico obrigatório. Nesses municípios, o índice foi de apenas 13,2% (em 2012, 16,55%). Assim, é provável que o índice geral de abstenções tenha sido inflado em decorrência da desatualização dos dados nas cidades que não fizeram o recadastramento. É evidente que a classe política deve estar atenta em relação à descrença e ao desencanto dos eleitores, mas o grande número de abstenções não se explica somente por esses fatores.

O que se explica, de maneira didática e indubitável, é a ampla rejeição dos brasileiros a um projeto de poder que chega ao fim de forma melancólica. O impeachment de Dilma, que se tornou realidade graças à mobilização da sociedade nas redes e nas ruas, e a derrota fragorosa de Lula e do PT nas eleições municipais mostram que o país virou uma página infeliz de nossa história e está pronto para construir o futuro. As urnas sepultaram a falácia do “golpe”. O Brasil venceu.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

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