domingo, 9 de outubro de 2016

Pesquisa mostra que maior preocupação é desemprego

• Em comunidades de baixa renda, famílias temem perder conquistas

Daiane Costa - O Globo

Entre os mais pobres, o desemprego preocupa mais do que a qualidade de serviços essenciais fornecidos pelo poder público, como saúde, educação e saneamento básico. É o que apontam os resultados preliminares de uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), em parceria com a organização internacional ActionAid, em três comunidades de baixa renda da região metropolitana do Rio. Foram ouvidas famílias de Japeri, Cidade de Deus e São Gonçalo, que têm renda per capita de até meio salário mínimo (R$ 440) ou ganham um total de até três mínimos (R$ 2.640) e integram o Cadastro Único (que reúne a população elegível ao Bolsa Família).

O resultado surpreendeu o economista e coordenador da área de Desigualdade e Pobreza do Ibase, Francisco Menezes, tendo em vista que os últimos indicadores oficiais, de 2014, apontavam melhora na renda e queda da desigualdade. Em uma década até 2014, a distribuição de renda captada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) melhorou a cada ano: a média cresceu e a desigualdade diminuiu. No mesmo período, a renda domiciliar per capita real pulou de R$ 549,83 para R$ 861,23. E, entre 2013 e 2014, a taxa de pobreza extrema recuou 29,8%.

Diante de dados como esses, Menezes conta que costumava dizer que dentro de casa a situação tinha melhorado bastante, mas fora ainda havia problemas, em referência à qualidade dos serviços públicos. Esperava ouvir isso das famílias:

— Os moradores confirmaram que a situação deles havia melhorado bastante nos últimos anos, mas já começavam a sentir os efeitos da recessão. Hoje, a maior preocupação é com o desemprego.

Nesse contexto, a insegurança alimentar ressurgiu. O coordenador do Ibase conta que famílias passaram a consumir produtos mais baratos e as refeições servidas nas escolas assumiram um papel importante na alimentação das crianças, cobrindo as dificuldades causadas pela perda do emprego.

— É evidente que as pessoas constroem estratégias para enfrentar essa situação. Na questão da alimentação, por exemplo, elas não estão passando fome. Faz uma década que isso não ocorre. Mas começam a substituir, muitas vezes, por alimentos de qualidade nutricional mais baixa.

Comportamento semelhante foi identificado pela Kantar WorldPanel, empresa que realiza pesquisa de mercado na que não foi agraciada a ter direitos e vive dessa forma. Outra coisa é perder algo que você conquistou. Perguntamos na Cidade de Deus e em Japeri o que aconteceria se acabasse o Bolsa Família: “a gente quebra tudo”, disseram. São situações que podem desmantelar uma família.

EFEITO DA EDUCAÇÃO
Segundo Menezes, o fato de os filhos frequentarem a escola leva essas famílias a crer que, independentemente da situação econômica do país, terão um futuro melhor que eles e seus avós, que têm um grau menor de escolarização.

Para o economista do Ipea Miguel Foguel, o aumento do grau de escolarização é o caminho para fazer com que a mobilidade social se sustente ao longo dos anos, independentemente do nível da atividade econômica, pois ela tem reflexos na capacidade de auferir renda em qualquer momento:

— Quanto mais alto seu nível educacional, maiores as chances de você conseguir um emprego melhor, que pague mais e permita fazer investimentos ou economizar, para não sofrer tanto num momento de recessão como o que vivemos.

A Pnad mais recente, de 2014, mostrou que a média de anos de estudo da população brasileira pouco mudou de 2013 para 2014: subiu de 7,6 anos para 7,7 — o que significa que o país desrespeita a Constituição, já que ela fala em ensino fundamental universalizado no país.

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