- Folha de S. Paulo
A disputa, a esta altura quase simbólica, pela Prefeitura do Rio de Janeiro talvez seja o fato sociologicamente mais interessante destas eleições municipais, elas próprias cheias de novidades.
Marcelo Freixo, mais querido nas elites, mostra que o PSOL jamais ocupará o lugar deixado pelo recolhimento do PT. A sigla de Freixo ainda vive nas brechas produzidas pelo entrechoque dos grandes partidos, embalada nas paixões fugidias de um eleitorado jovem e metropolitano.
A trajetória do PSOL em seus 12 anos de idade não faz sombra à impressionante marcha do petismo de 1980 a 1992.
Vem da provável vitória do adversário de Freixo, o popularíssimo Marcelo Crivella, o acontecimento marcante deste certame. Pela primeira vez, um candidato egresso da denominação mais coesa e simbólica do movimento neopentecostal brasileiro credencia-se para governar uma capital com o porte e as tradições do Rio.
Crivella não é só mais um político a ter militado na Igreja Universal do Reino de Deus. É sobrinho de Edir Macedo, fundador da organização. O longo esforço de Crivella para distanciar-se da etiqueta da Iurd, óbvio passivo em pleitos majoritários, está prestes a ser recompensado.
Se Crivella se descola da Universal, a marca do levante evangélico não sai dele. Esse movimento, popular demais para ser abraçado pela centro-direita tucana e conservador demais para a centro-esquerda petista, talvez consiga afinal eleger gente egressa de seus próprios quadros, e não apenas para o Legislativo.
Os evangélicos, mal compreendidos e muitas vezes tratados com preconceito no lado de cá do túnel Rebouças, recusaram o paternalismo oferecido seja pelo catolicismo tradicional, seja pelo progressista. Vão atrás do próprio pão. Cultuam o progresso individual e a coesão familiar.
Esses sinais de vitalidade não deveriam ser desprezados.
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