sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Temer afirma que prisão de Cunha não afeta agenda do país

• Porta-voz: ‘Reconstrução do Brasil não se confunde com investigações’

Eduardo Barretto, Cristiane Jungblut, Júnia Gama - O Globo

BRASÍLIA- Um dia após a prisão preventiva de Eduardo Cunha, de quem era aliado, o presidente Michel Temer afirmou ontem, por meio do porta-voz, que a agenda política do governo não se confunde com investigações da Justiça. O porta-voz Alexandre Parola disse ainda que o Poder Executivo “jamais” interferirá na Operação Lava-Jato.

— A agenda política, de recuperação e reconstrução do Brasil, não se confunde com investigações levadas adiante pela Justiça — disse Parola. — Na Operação Lava-Jato, relacionada à Justiça, o (Poder) Executivo jamais interferirá em suas decisões.

O porta-voz citou parlamentares ao falar da pretendida retomada do crescimento econômico, e disse que o governo “será firme” para responder a “urgências” do povo brasileiro.

Foi o primeiro posicionamento oficial do Palácio do Planalto desde a prisão de Eduardo Cunha, quarta-feira. Até então, os ministros foram orientados por Temer — que passou as 24 horas seguinte à prisão em um voo de volta do Japão — a não dar qualquer declaração sobre a decisão do juiz Sérgio Moro, para tentar descolar a Lava-Jato do governo.

O porta-voz negou que Temer soubesse da prisão antes de decolar para o Brasil, e afirmou que o presidente não adiantou o retorno à Brasília por conta do fato. Parola declarou que a decisão de regressar 12 horas antes do previsto foi tomada na noite anterior.

O governo quer dar normalidade às votações no Congresso das propostas que considera cruciais. Temer foi recebido ontem na base aérea pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), que estava interinamente na presidência da República. Na Câmara, o governo quer aprovar em segundo turno, na próxima terça-feira, a PEC 241, que cria um teto para os gastos públicos.

Em seguida, a matéria será enviada ao Senado, onde precisa passar por dois turnos de votação. Na segunda-feira, ainda haverá tentativa de votar o projeto que trata do pré-sal, de iniciativa do ministro José Serra (Relações Exteriores).

MAIA: PRISÃO É “NOTÍCIA TRISTE”
Antes de receber Temer, Rodrigo Maia se reuniu com os líderes de partidos aliados, onde a prisão de Cunha foi mencionada. Na saída, Maia disse que a prisão não vai atrapalhar o andamento dos trabalhos na Casa e negou qualquer temor sobre uma eventual delação do peemedebista. Maia disse ainda não acreditar que Cunha possa atingir Temer.

— Tenho a convicção de que o governo do presidente Michel Temer vai aprovar as matérias no momento adequado, dentro da regra adequada, respeitando a Constituição. E não acredito mesmo que uma delação do deputado Eduardo Cunha possa atingir o presidente da República — afirmou.

Maia classificou a prisão de Cunha como “notícia triste”, mas afirmou que o episódio demonstra que as instituições funcionam “com independência”:

— É uma notícia triste. Eduardo Cunha foi deputado conosco, foi presidente da Câmara. A prisão de um exdeputado, ex-presidente da Casa, nunca é um momento feliz para ninguém. Tenho certeza que não é um momento feliz, nem para os deputados nem para o Brasil. É um momento de dificuldade que o Brasil vive, mas, pelo menos, nós temos a clareza de que as instituições continuam funcionando com independência e com a liberdade necessária para tomar suas decisões.

O líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), minimizou o impacto de eventual delação de Cunha no ritmo de votações no Congresso.

— Se houver alguma acusação e ela for admitida pelo Ministério Público como algo consistente e sólido, essa pessoa terá que pagar e o Brasil seguirá em frente — disse Aloysio.

O presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), disse que o governo não vai parar por causa da prisão:

— O governo não tem preocupação. Não afeta as votações: na Câmara vamos votar na semana que vem a PEC 241 e já temos um cronograma no Senado para votá-la também. O governo continua trabalhando. (Colaborou Maria Lima)

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