domingo, 27 de novembro de 2016

Conexão com artistas e políticos brasileiros

• Temer ressalta defesa das ideias, Lula diz que perdeu um irmão, e FH lembra gentileza e convicção

Isabel Braga, Luiza Souto - O Globo

BRASÍLIA E SÃO PAULO - Poucos meses depois de ter tomado o poder em Cuba, Fidel Castro fez a primeira de suas oito visitas ao Brasil, onde, além dos compromissos políticos, sempre que podia incluía na agenda encontros com estudantes e intelectuais. Era maio de 1959, e o comandante veio pessoalmente agradecer ao Brasil de Juscelino Kubitschek por ter reconhecido o novo governo cubano. Ele retornou somente 31 anos depois, em 1990, para a posse de Fernando Collor.

A partir daí, voltou em outras seis oportunidades: 1992, 1995, 1998, 1999, 2001 e 2003, quando veio para a posse de Lula. Com um grande número de admiradores entre artistas e intelectuais, Fidel ontem foi lembrado por aqueles que o conheceram, como Gilberto Gil.

— Ele foi um grande ícone da política internacional. Uma vez, em Havana, quando ministro, passei com ele algumas horas. Era bem maluquinho — disse Gil.

A atriz Leandra Leal, que o conheceu ainda criança, postou nas redes sociais uma imagem dela no colo do cubano. “Hoje, mesmo tendo consciência de todas as suas contradições, tenho muita honra de ter conhecido o comandante Fidel Castro”, escreveu ela.

A cantora e compositora Ana de Hollanda lembra que esteve com o líder cubano duas vezes, em 1987 e 1990.

— Ele gostava de falar, era muito engraçado, divertido. Para mim, ele fechou uma era: a do idealismo, do sonho de se conseguir um mundo mais justo. Claro que houve erros, mas o principal ele fez — disse.

POLÍTICOS DESTACAM LIDERANÇA
No campo político, Fidel sempre contou com o apoio brasileiro contra o embargo americano. E manteve um contato mais próximo principalmente nos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.

Ontem, por meio da assessoria de imprensa, o presidente Michel Temer disse que Fidel foi um líder de convicções. “Ele marcou a segunda metade do século XX com a defesa firme das ideias em que acreditava.”

Lula, por sua vez, afirmou que Fidel representou para os povos da América e os trabalhadores dos países mais empobrecidos uma voz em defesa de seus direitos. “Para os povos de nosso continente e os trabalhadores dos países mais pobres, especialmente para os homens e mulheres de minha geração, Fidel foi sempre uma voz de luta e esperança”, disse.

Em depoimento emocionado nas redes sociais, Lula contou que conheceu o cubano em 1980, em Manágua. “Sinto sua morte como a perda de um irmão mais velho, de um companheiro insubstituível do qual jamais me esquecerei. Será eterno seu legado de dignidade e compromisso por um mundo mais justo.”

Fernando Henrique, em nota, também destacou a importância de Fidel e da Revolução Cubana para a difusão do sentimento latino-americano e a importância para que os países da região se sentissem capazes de afirmar seus interesses. FH lembrou que o governo brasileiro sempre se opôs ao embargo econômico dos Estados Unidos à ilha e ressaltou a fluidez das relações entre Brasil e Cuba. 

Acrescentou que Fidel não vai “presenciar as nuvens carregadas” do governo Donald Trump nos EUA. FH afirmou, ainda, que a morte de Fidel marca o fim de um ciclo no qual “há que se dizer que, se Cuba conseguiu ampliar a inclusão social, não teve o mesmo sucesso para assegurar a tolerância política e as liberdades democráticas”.

O ex-presidente lembrou que esteve várias vezes com o líder cubano no Brasil, no Chile e em outros países, e que o Fidel que ele conheceu, a partir dos anos 1990, era um homem “gentil, convicto de suas ideias, curioso e bom interlocutor”.

O ministro das Relações Exteriores, José Serra, afirmou que Fidel marcou profundamente a política cubana e o cenário internacional. Em nota, ele disse que o cubano entra para a História como uma das lideranças políticas mais emblemáticas do século XX. “Sua trajetória resume os dolorosos conflitos e contradições de um período histórico conturbado, no qual ideais de desenvolvimento e justiça social nem sempre se conciliaram, em nossa região, com o respeito aos direitos humanos e à democracia”, destacou.

Por meio de sua assessoria, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que “Fidel foi uma figura marcante do século XX e, independentemente de crenças políticas, é preciso reconhecer sua importância para o povo de Cuba.”

Na contramão das mensagens de pesar, o deputado federal do Partido Social Cristão (PSC) Jair Bolsonaro publicou um vídeo no Facebook em que dizia: “Fidel Castro morreu... O exterminador de liberdades e promotor da miséria se foi. O mundo democrático deseja-lhe estadia eterna nas profundezas do inferno”.

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