terça-feira, 1 de novembro de 2016

E 2018? Os ‘alckmistas’ estão chegando

• Vitórias do governador tucano em SP e derrota de Aécio em BH alteram balança de poder no PSDB

Maria Lima - O Globo

-BRASÍLIA- Fechadas as urnas das eleições municipais, o PSDB saiu como o grande vencedor, governando o maior eleitorado e comandando 30% das cidades médias e grandes. A vitória nacional só não foi mais completa em função da derrota do presidente nacional do partido, Aécio Neves (MG), em Belo Horizonte. Líder mais influente na legenda, Aécio viu seu principal rival na disputa pela vaga de candidato à Presidência em 2018, o governador paulista Geraldo Alckmin, obter vitórias simbólicas no estado mais populoso do país que ampliaram o capital político dele. Agora, diante do aumento da rivalidade, dirigentes e parlamentares do PSDB já começaram ontem a alertar para o desafio de a legenda se manter unida e, para tal, reconhecem que será necessário dar a Alckmin mais espaço nos cargos de comando do partido — hoje sob influência massiva de Aécio.

Nos próximos seis meses, os tucanos enfrentarão três disputas internas por cargos. A avaliação geral é que nos embates pela liderança do partido na Câmara e no Senado, em dezembro, e luta pela presidência da Câmara, em fevereiro, Alckmin não tem trânsito para impor um candidatos. Mas, segundo os tucanos, ele fará pressão para garantir em maio mais cargos na eleição da Executiva Nacional do partido, órgão decisivo para tentar pavimentar a escolha de seu nome como candidato a presidente em 2018.

GERALDO GANHA ESPAÇO
Hoje, o líder licenciado do Senado, Cássio Cunha Lima (PB) — “aecista” de primeira hora —é o nome mais forte para suceder ao mineiro no comando do PSDB. Mas já se fala também no deputado Carlos Sampaio, paulista mas não necessariamente considerado “alckmista”.

— No partido, o Geraldo tem mais força para pleitear mais participação. Acho improvável ter disputa. Vai ter muito jogo de pressão, mas a tradição é ter candidato único — diz o deputado Jutahy Magalhães (BA), mais ligado ao ministro das Relações Exteriores, José Serra, outro postulante a ser candidato a presidente da República pelo partido.

— Fatos políticos mudam expectativas e protagonistas. Acho que as conversas devem envolver também outras lideranças do PSDB, como governadores e senadores — defende o secretário geral do PSDB, deputado Sílvio Torres (SP), o nome mais ligado a Alckmin na Câmara.

Mais cauteloso, o líder do governo no Senado e vice na chapa de Aécio em 2014, Aloysio Nunes Ferreira (SP) diz que o PSDB adquiriu enorme capital político e cresce na mesma proporção sua responsabilidade “na travessia cheia de obstáculos para chegar em 2018”.

— Nenhum líder político digno de apreço, sobretudo se tiver aspiração à presidência da República tomará iniciativa de iniciar uma guerra interna de olho apenas nos seus interesses. Quem o fizer ficará mal perante o partido e os eleitores que deram a vitória ao PSDB — alerta Aloysio Nunes Ferreira.

AÉCIO MINIMIZA RESULTADO
Diante das análises de que sai enfraquecido por perder a eleição em BH, Aécio elogiou ontem Alckmin, mas avisou que a escolha do candidato do partido a presidência em 2018 não será feita apenas por resultados locais. Ele fez questão de creditar a conquista de 34 milhões de votos ao resgate das bandeiras do partido, defesa do equilíbrio das contas públicas, ao engajamento firme e de liderança no processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, e da apresentação rápida de uma agenda de reformas ao governo Temer.

— Eu gostaria de ter ganhado em Belo Horizonte, mas os delegados do partido vão definir o melhor caminho com muita responsabilidade. Alckmin e Serra são grandes nomes, mas vamos ter serenidade. Não contem comigo para colocar o carro na frente dos bois. Não vamos antecipar. Serão avaliados números, resultados de todos os estados, mas não só isso — disse Aécio.

Aécio disse que é preciso ter muito cuidado ao fazer um link direto das eleições municipais de 2016 com a eleição de 2018, lembrando que em 2014 a ex-presidente Dilma Rousseff e o governador Fernando Pimentel, do PT, tiveram uma vitória fragorosa em Minas Gerais e hoje um foi cassado e o outro enfrenta grande dificuldade. Ele ressaltou que o PSDB teve vitórias importantes em todo o estado de Minas Gerais, onde conquistou 133 municípios, sendo sete dos 10 maiores colégios eleitorais.

— Em Belo Horizonte não vencemos, mas vencemos muito bem em Minas Gerais. Política é isso, vamos olhar para a frente, compreendendo que nós não podemos perder nossa coerência — disse o senador tucano.

De volta a Brasília, Aécio já mostrou disposição de retomar a liderança do partido e o debate interno sobre o resultado das eleições. Marcou para o próximo dia 24 uma reunião com prefeitos eleitos e governadores para discutir e unificar uma pauta social já para a eleição de 2018. É o primeiro passo para ampliar o espaço junto ao eleitorado do PT.

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