sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Esperando o Copom - Claudia Safatle

- Valor Econômico

• Em busca de impulso para a recuperação cíclica da economia

A economia ainda busca o fundo do poço, na espera de estímulos que seriam encontrados hoje na redução da taxa de juros, avaliam fontes oficiais. Juros mais baixos ajudariam as empresas e famílias a superar o gargalo do endividamento, incentivariam o consumo, que impulsionaria o investimento.

Se os prognósticos do Monitor do PIB-FGV, estiverem certos, não só a recuperação não começou, como a recessão pode estar até se agravando. Isso seria visto na confrontação do terceiro trimestre, quando a retração foi de 0,99%, contra o segundo trimestre do ano (ver gráfico abaixo), configurando o sétimo período consecutivo de PIB negativo.

Comparando o terceiro trimestre com idêntico período de 2015, porém, a queda se atenua de 3,4% para 3%. Para o economista Claudio Considera, que coordena os trabalhos do monitor e prefere olhar a performance da atividade nesse período (ano contra ano), o certo é que a resistência à recuperação da economia está sendo maior do que se esperava. O monitor procura antecipar os dados do IBGE para a atividade econômica.

Considera refez a série de 2014 e 2015 com base na revisão de dados do IBGE e encontrou um crescimento de 0,5% para 2014 (acima do 0,1% original) e recessão de 3,5% em 2015 (menor do que a retração inicial de 3,8%).

A partir da constatação de que a economia está com dificuldade de reação, fica a pergunta sobre o que fazer para que 2017 não seja mais um ano de frustração, com o aumento do desemprego e redução da massa salarial.

Chama a atenção o "tombo" do investimento, dado pela formação bruta de capital fixo, cuja retração chegou a 11% no terceiro trimestre deste ano em relação a igual período de 2015, conforme o monitor. Houve queda de 10,9% em setembro, motivada sobretudo por máquinas e equipamentos (menos 18,5%) e "outros" componentes (menos 24,8%). Pelo lado da demanda, aliás, todos os componentes tiveram contração, à exceção do consumo do governo, que ficou estagnado em setembro. O consumo das famílias continua em retração. Esta foi de 3,8% no terceiro trimestre frente a igual período do ano anterior e de 2,3% em setembro.

Volta-se à pergunta sobre de onde tirar oxigênio para dar à economia algum impulso de recuperação cíclica, tendo em vista a enorme capacidade ociosa. Claudio Considera acredita que o único vetor de crescimento disponível para o país, hoje, é o das privatizações e concessões, que deveriam começar a acontecer logo. A previsão do Ibre-FGV é de um PIB de 0,6% para 2017; a do governo caiu de 1,6% para 1%.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) identifica, em recentes estudos técnicos sobre a economia brasileira, que no curto prazo, vários fatores cíclicos parecem pesar sobre o consumo, "incluindo a fragilidade no mercado de trabalho (crescimento mais lento da renda), taxas de juros mais altas (domésticas e internacionais) e uma potencial reavaliação dos niveis apropriados de dívida e serviços da dívida por parte das famílias e dos bancos, que poderia desencadear um período de desalavancagem e crescimento mais lento do credito".

Fica claro, nessas alternativas, que a taxa de juros seria o único instrumento, em tese, sob controle do governo, mas esta obedece a uma outra missão, de levar a inflação para a meta de 4,5% em 2017. A inflação na meta, além de garantir a estabilidade econômica, também contribuiria para o aumento da renda disponível.


O estudo do staff do FMI cita como fontes de crescimento no longo prazo, com impacto no curto prazo, as reformas estruturais como a da previdência, a desindexação dos benefícios sociais da variação do salário mínimo e a tributária, para simplificar a complexa e onerosa estrutura de impostos, além dos investimentos na expansão da infraestrutura.

O Copom faz sua última reunião do ano na próxima semana. Será a primeira depois da eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos. Até a vitória do candidato republicano, as expectativas do mercado convergiam para um corte de 0,5 ponto percentual da taxa básica de juros (Selic).

Trump é um risco à convergência da inflação para a meta de 4,5% ao ano a partir de 2017. Sobretudo pelos movimentos que a nova administração nos Estados Unidos pode produzir sobre o câmbio.

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, ressaltou em recentes intervenções que esse novo cenário fortalece o dólar e encarece os financiamentos externos ao país. Ontem, o dólar Ptax era cotado a R$ 3,3987, com alta de 0,18% sobre o dia anterior. Embora esse seja um patamar mais elevado do que os R$ 3,30 usados na elaboração do último relatório trimestral de inflação do Banco Central, não deve trazer forte alteração na expectativa de inflação.

Os dados da inflação corrente animam. O IPCA-15 fechou o mês de novembro com variação de 0,26% - o menor resultado para novembro desde a variação de 0,23% em 2007, segundo o IBGE.

O Copom manteve a essência da mensagem de política monetária mesmo após a eleição de Trump. Já o mercado migrou majoritariamente para um corte de 0,25 ponto percentual da Selic na semana que vem. O governo deposita na trajetória de queda dos juros boa parte da esperança na recuperação.

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