quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Falta trabalho para um terço dos jovens

• Desempregados, subocupados e disponíveis para trabalhar são 37,1% dos brasileiros de 18 a 24 anos

Lucianne Carneiro - O Globo

O Brasil desperdiça mais de um terço da força de trabalho dos jovens. Entre os trabalhadores brasileiros de 18 a 24 anos, 37,1% estavam subutilizados no terceiro trimestre do ano, ou seja, eram desempregados, ou trabalhavam menos de 40 horas semanais e gostariam de ampliar sua jornada, ou faziam parte da chamada força de trabalho potencial — formada por pessoas que não buscaram uma vaga, mas estavam disponíveis para trabalhar e também por quem procurou, mas não estava disponível no momento da pesquisa. Ao todo, eram 6,2 milhões de jovens nessa situação.

A proporção de jovens que se enquadra entre os subtilizados do mercado de trabalho é bem superior à taxa média do país, que foi de 21,2%. O contingente chega a 22,923 milhões de pessoas, considerando todas as faixas etárias. Os dados fazem parte das novas informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) contínua, divulgadas ontem pelo IBGE.

— A subutilização da força de trabalho vai afetar principalmente jovens e mulheres. Historicamente, as taxas são maiores. E esses grupos sentem em um momento de crise na economia. O jovem não tem experiência — afirma o gerente da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo.

Economista do Ibre/FGV, Fernando Holanda de Barbosa Filho lembra que os jovens muitas vezes chegam ao mercado de trabalho pouco qualificados e com pouca experiência:

— O jovem tem menos poder de barganha no mercado de trabalho, já que muitas vezes não tem nem o conhecimento formal nem o prático. A subutilização da força de trabalho é um movimento mais comum entre os jovens.

A economista do Bradesco Ana Maria Bonomi Barufi destaca que os jovens são usualmente mais afetados pelas dificuldades do mercado de trabalho. Além da falta de experiência e da pouca qualificação, ela cita ainda que a queda da renda e o aumento do desemprego acaba empurrando os jovens para o mercado de trabalho:

— Os jovens são impelidos a buscar emprego, e até mesmo acabam deixando os estudos, o que significa que mais pessoas ingressarão na população economicamente ativa e a taxa de desemprego desse grupo tende a subir.

TAXA É MAIOR NO NORDESTE
Em todo o país, o indicador de subtilização da força de trabalho inclui os 12 milhões de desempregados, os 4,8 milhões de pessoas subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas e os 6,1 milhões da força de trabalho potencial. A maior parte do contingente de 22,923 milhões de pessoas nesse indicador de subutilização da força de trabalho está nas regiões Sudeste (8,683 milhões) e Nordeste (8,750 milhões). No Norte, são 2,041 milhões de pessoas e no Sul, 2,122 milhões. Já o Centro-Oeste reúne 1,326 milhão de pessoas. O Nordeste é a região com a maior taxa de subutilização da força de trabalho, de 31,4%, enquanto o Sul é a menor, com 13,2%. No Sudeste, a taxa é de 18,2%.

— A Região Nordeste é a que tem maior subutilização da força do trabalho. Mas, mesmo a Região Sul, com o advento da crise, atinge níveis piores do que tinha no passado — disse Cimar Azeredo.

Em 14 das 27 unidades da federação, houve recordes no indicador de subutilização da força de trabalho no terceiro trimestre. Na avaliação de Fernando Holanda de Barbosa Filho, o mercado de trabalho ainda não chegou ao fundo do poço e a taxa de desemprego ainda vai aumentar.

— Vivemos a maior crise dos últimos cem anos. Quem está empregado tem muita dificuldade para manter o emprego, e quem está procurando também enfrenta dificuldades. O mercado de trabalho vai continuar piorando — disse o economista do Ibre/FGV.

CONTRIBUINTES DO INSS SÃO 65,6%
Os dados divulgados ontem pelo IBGE também mostram que o mercado de trabalho brasileiro é informal e a contribuição à Previdência Social é pequena. Na média nacional, 65,6% das pessoas ocupadas eram contribuintes da Previdência no terceiro trimestre deste ano, ante uma parcela de 34,4% de não contribuintes.

Estados do Norte e do Nordeste tendem a ter taxas mais próximas de contribuintes e não contribuintes, enquanto no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste a maioria dos trabalhadores é contribuinte.

O caso mais extremo é o do Maranhão, onde os não contribuintes são 63,6% dos trabalhadores. No Pará, a parcela é de 58,6%. Santa Catarina, por sua vez, é o estado brasileiro com maior participação dos trabalhadores contribuintes, de 82,1%, seguido por São Paulo, com 76,9%. No Rio de Janeiro, 73% dos trabalhadores contribuem para a Previdência.

— A deficiência em relação à contribuição à Previdência é expressiva nos estados do Norte e do Nordeste. Isso tem a ver com a forma de inserção no mercado de trabalho. Se o trabalhador é informal, a chance de contribuir para a Previdência é muito menor — afirmou Cimar Azeredo.

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