segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Os desafios do PMDB – Editorial/O Estado de S. Paulo

Como marco do encerramento do 9.º Congresso Nacional da Fundação Ulysses Guimarães, o PMDB lançou o livro 50 anos do PMDB - o partido que muda o Brasil. A obra traça um panorama do partido político mais longevo do País desde sua fundação, em março de 1966, até a posse de Michel Temer na Presidência da República.

A extinção dos partidos políticos pelo Ato Institucional n.º 2, de 1965, introduziu o bipartidarismo no Brasil. De um lado, a Aliança Renovadora Nacional (Arena), base de sustentação parlamentar do governo. Do outro, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), então um fraco aglomerado de oposição. Composto por políticos oriundos de partidos extintos pela ditadura, o MDB foi tolerado para servir como um simulacro de partido de oposição que pudesse conferir alguma legitimidade ao governo militar.

Entretanto, mesmo que sofresse forte pressão do regime, o partido desenvolveu musculatura própria capaz de fazê-lo adotar uma postura realmente combativa em relação aos desmandos praticados pela ditadura. O ponto alto dessa política de enfrentamento foi o lançamento da chapa composta por Ulysses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho como candidatos na eleição de 1973, para a qual o então presidente Emílio Médici já havia indicado Ernesto Geisel como seu sucessor. A anticandidatura do MDB, por óbvio, não prosperou, mas foi o ponto de virada do partido que alguns anos depois culminaria na criação do PMDB.

Surgido em 1980 como desdobramento da reorganização do quadro partidário após o fim do bipartidarismo, o PMDB mostrou sua força já nas primeiras eleições estaduais que disputou, em 1982. Conseguiu então eleger nove governadores, incluindo os de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Saiu fortalecido, cresceu e finalmente chegou ao comando do País em 1985, quando Tancredo Neves e José Sarney (este oriundo da Arena) foram eleitos presidente e vice-presidente da República pelo Colégio Eleitoral. Com a morte de Tancredo Neves, José Sarney tornou-se o primeiro presidente do período da redemocratização. De 1985 para cá, o PMDB esteve presente em todos os governos, ora como titular do poder, ora como seu garantidor. Sua pujança como maior partido político do Brasil fez, e faz, do PMDB o fiel da balança no peculiar presidencialismo de coalizão brasileiro.

O PMDB tem agora sob sua responsabilidade a dificílima missão de guiar um país esfacelado por uma grave crise econômica, política e moral, fruto da dilapidação ética e financeira empreendida pelo lulopetismo, em direção à retomada do crescimento econômico, do pleno-emprego e da melhoria da qualidade de vida da população brasileira. Já não seria uma missão fácil para um partido orgânico, solidamente constituído em torno de um projeto para o País e pacificado internamente. Menos ainda para uma agremiação política que hoje mais se aproxima de um conglomerado de pequenas e médias células partidárias do que propriamente uma instituição uniforme e alinhada em seus propósitos.

Pelos dois anos de governo que tem pela frente, o PMDB precisa superar suas dificuldades e disputas internas e unir forças em torno da aprovação das reformas fundamentais para a garantia da estabilidade econômica do País. Se não por princípios partidários, por questão de pragmatismo político no momento definidor de seu futuro.

Para lançar as bases do que pretende ser daqui para a frente, o PMDB precisa fazer uma espécie de balanço de meia-idade e mostrar ao País o compromisso inadiável de vencer os grandes desafios que se lhe apresentam, quais sejam: restabelecer a solidez e a credibilidade da economia brasileira, consolidar uma base parlamentar que permita a aprovação de medidas saneadoras tanto no campo político como no econômico e assegurar o bom andamento da Operação Lava Jato sem quaisquer sinais de hesitação.

Levando a bom termo estas ações, o PMDB será marcado como o partido responsável pela transição pacífica que conduziu o Brasil para as eleições gerais de 2018 melhor do que o encontrou.

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