domingo, 13 de novembro de 2016

Planalto: nomes de consenso para evitar racha

• De olho em disputas na base, Temer busca aliados para presidir Câmara e Senado; governo já atua no bastidor

Júnia Gama, Leticia Fernandes e Simone Iglesias - O Globo

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto está de olho na sucessão para as presidências da Câmara e do Senado, que ocorrerá em 1º de fevereiro de 2017, onde quer ter aliados no comando para o próximo biênio, que serão também os últimos dois anos do governo Michel Temer. Além de assegurar que terá presidentes afinados com o governo em ambas as Casas, há uma preocupação em não provocar rachas na base por conta da disputa. A estratégia é repetir a fórmula usada durante a eleição do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), quando Eduardo Cunha renunciou ao cargo, em julho: não interferir diretamente, a não ser para apoiar um candidato da base contra um da oposição, mas movimentar peças nos bastidores para garantir seus objetivos.

Mesmo que Temer acompanhe as movimentações à distância, ele não está impedindo seus ministros de atuar no Congresso. O secretário de Governo, Geddel Vieira Lima, trabalha pela recondução de Maia. No Planalto, há a convicção de que existe brecha jurídica para Maia concorrer à reeleição. O desafio é Maia se viabilizar sem criar um racha na base aliada.

Por enquanto, Temer não apoiará publicamente nenhum candidato, mas a avaliação do governo é que Maia está tendo bom desempenho e tem uma pauta econômica afinada com o Planalto. Quanto aos demais postulantes, auxiliares de Temer acham que há boas chances de negociação, especialmente com Rogério Rosso (PSD-DF) e Jovair Arantes (PTB-GO). Rosso esteve sexta-feira com Temer. Segundo relatos de auxiliares presidenciais, o ambiente da reunião era de sentir o pulso do presidente com relação à sucessão na Câmara e de abrir a porta para um acordo.

No Senado, o esforço é para que não haja sobressaltos na eleição do líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE), um acordo que vem sendo costurado há meses e que é o melhor cenário para o Planalto, por dois motivos. Primeiro, para evitar arestas com o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), fiel do arranjo, e com o próprio Eunício. Segundo, porque o senador não está no rol de investigados na Lava-Jato, o que lhe dá vantagem diante de Romero Jucá (PMDB-RR), que também é cotado, mas é alvo da operação.

Com a sinalização do Supremo Tribunal Federal de que proibirá réus de ocuparem cargos na linha sucessória, uma eventual eleição de Jucá para a presidência do Senado poderia ser foco de instabilidade. Para azeitar a operação, além de entregar a Jucá a presidência do PMDB de forma definitiva, Temer ofereceu a ele liderança do governo no Congresso, com promessa de turbinar o cargo. A atual líder, Rose de Freitas (PMDB-ES), pediu para ser substituída somente a partir do dia 15, o que será respeitado por Temer.

CENTRÃO QUER CANDIDATO ÚNICO
Em relação a Renan, o governo ainda dialoga sobre qual será seu novo espaço a partir de 2017. Tucanos ensaiaram lançar um candidato para concorrer à vaga, mas avaliam, por enquanto, que não haverá espaço para isto. Na Câmara, Rodrigo Maia ainda tenta uma saída jurídica para contornar o fato de o regimento interno não prever reeleição para os mandatos de dois anos. Mas as primeiras resistências à manobra já surgem.

O centrão tem demonstrado incômodo com a “gula” de Maia e um de seus líderes, Jovair Arantes, disse ser um “casuísmo imoral” a tentativa de Maia se reeleger. O centrão pretende lançar um candidato único, mas ainda não definiu se será Jovair ou Rosso. Deputados do PP e do PR, no entanto, acham difícil que isso seja decidido com tanta antecedência:

— Não acredito que a bancada do PP declare apoio a um nome do centrão até o fim do mês. Ninguém vai fazer um apoio desses para valer 60 dias antes da eleição — disse Eduardo da Fonte (PP-PE).

O PR, que apoiou Rodrigo Maia contra Rosso no segundo turno das últimas eleições, já vê com bons olhos a recondução do atual presidente.

— Acho ele um grande nome. Se a consulta prévia passar e ele se viabilizar, tenho muita simpatia, mas ainda temos que conversar com a bancada — disse Aelton Freitas (MG), líder na Câmara.

No PSDB, há, como pano de fundo, uma disputa interna entre aliados do presidente do partido, senador Aécio Neves (MG), e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ambos postulantes à candidatura presidencial em 2018. Há ainda vaidades pessoais que complicam mais o cenário. Uma parte majoritária dos deputados tucanos quer aguardar para ver se Maia irá viabilizar juridicamente sua reeleição para, somente se a manobra fracassar, lançar um nome. Uma ala tucana acusa o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) de atuar em projeto solo ao incentivar a candidatura de Maia. Dizem, reservadamente, que ele estaria formulando um acordo para ser vice-presidente da Câmara na chapa com Rodrigo Maia.

— É deplorável imaginar que vão negociar vice-presidência com um partido desse tamanho, o que mais cresceu nessas eleições — atacou um deputado do PSDB.

De outro lado, está Antônio Imbassahy (PSDB-BA), em torno de quem Aécio desenhou um acordo, em meados deste ano, em troca do apoio a Maia. A ordem na cúpula tucana é “não entrar para perder” e aguardar para ver se Maia sobreviverá aos questionamentos jurídicos e ao tiroteio do centrão.

Ao que tudo indica, a reeleição de Maia não será simples. As articulações neste sentido, tanto via Planalto, como por aliados do presidente da Câmara, já irritam sobretudo deputados do PSDB, que acusam Maia de descumprir o acordo pelo qual ele apoiaria Imbassahy para 2017.

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