segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Temer nega benefícios a Geddel e critica ex-ministro da Cultura

Presidente diz que não defendeu interesse particular de ex-ministro em conversa com Celero

• Não há motivo para demitir Padilha e crise seria menor se Geddel tivesse saído antes, afirma peemedebista

Gustavo Uribe, Daniel Carvalho, Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer negou ter agido em benefício de seu ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) no episódio da liberação de um empreendimento imobiliário na Bahia e criticou neste domingo (27) o ex-ministro Marcelo Calero (Cultura), pivô da crise.

Em entrevista coletiva no Palácio do Planalto, o presidente afirmou que, na conversa com Calero, só sugeriu que ele procurasse a AGU (Advocacia- Geral da União). A intenção, ainda segundo Temer, não era atuar em favor de interesses pessoais do ex-ministro Geddel Vieira Lima, mas solucionar um conflito entre o Iphan estadual [da Bahia] e o Iphan nacional [subordinado à Cultura]. "É algo que faz parte das atribuições da AGU", disse Temer.

O Iphan da Bahia já tinha dado aval para a construção do empreendimento, um edifício de 30 andares no centro histórico de Salvador em que Geddel Vieira Lima comprou um apartamento. Mas o Iphan nacional negou o pedido afirmando existir risco para os demais prédios em seu entorno.

Em entrevista à Folha, já depois de ter deixado o cargo, Marcelo Calero afirmou ter sofrido pressão de Geddel Vieira Lima para que o Iphan nacional liberasse a construção do empreendimento.

Logo depois, Calero foi à Polícia Federal e disse ter sofrido pressão do próprio presidente Michel Temer em favor de Geddel.
Calero gravou diversas conversas, mas não aquela em que discutiu o assunto com Temer, algo que está sendo investigado pela PF.

O presidente Temer voltou a negar que "enquadrou" Calero, como ele declarou à PF, e disse que esse "comportamento autoritário" não faz parte de seu estilo.

Para Temer, caso Calero o tenha gravado em conversa no gabinete presidencial, cometeu uma medida "agressiva", "clandestina" e "irrazoável". Em sua avaliação, gravar uma conversa com um presidente sem conhecimento dele é "quase indigno" e uma "iniciativa gravíssima".

Mesmo assim, o presidente afirmou que considera pedir ao Gabinete de Segurança Institucional que passe a gravar todas as conversas que acontecem no gabinete presidencial. "Assim podemos fazer de um limão, uma limonada", disse o presidente.

O Ministério da Justiça anunciou na semana passada que irá apurar se a conversa entre o ex-ministro e o presidente foi gravada.

A informação é ainda extraoficial e não confirmada por Calero, que negou em nota que tenha pedido uma audiência com o peemedebista para gravá-lo, como sugere o Palácio do Planalto.

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