quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Trump surpreende e é eleito presidente dos Estados Unidos

• Magnata, que prometeu construir um muro na fronteira com o México, expulsar imigrantes ilegais e proibir a entrada de muçulmanos nos Estados Unidos, será o 45º presidente do país após derrotar a democrata Hillary Clinton

Cláudia Trevisan – O Estado de S. Paulo

/ NOVA YORK - Contrariando virtualmente todas as projeções dos institutos de pesquisas, Donald Trump venceu na madrugada desta quarta-feira, 9, a eleição presidencial dos EUA, derrotando a democrata Hillary Clinton. Outsider que nunca ocupou um cargo público, o bilionário será a pessoa com menos experiência política a comandar a maior economia e o mais poderoso aparato militar do planeta.

A vitória do magnata foi confirmada às 5h30, quando a apuração apontou sua vitória no Estado de Winconsin e ele chegou a 276 delegados – 6 a mais do que os 270 necessários para ser eleito – contra 218 de Hillary. Às 6h30, a apuração ainda estava em andamento, mas o placar de delegados no colégio eleitoral continuava inalterada.

A incerteza em torno de seu governo e de suas propostas derrubaram os mercados acionários globais e provocaram desvalorização de 12% da moeda do México, o país que se transformou no principal bode expiatório dos ataques de Trump ao comércio internacional e à imigração.

O Partido Republicano manteve a maioria na Câmara e no Senado, o que deixará a legenda no comando dos poderes Executivo e Legislativo – é a primeira vez que isso ocorre desde 1928. Mas não está claro como será a relação do presidente eleito com integrantes da elite de seu próprio partido, muitos dos quais se opuseram à sua candidatura.

A vitória de Trump foi impulsionada por forças nacionalistas semelhantes às que levaram à vitória do Brexit, outro evento que colocou em xeque a capacidade dos institutos de pesquisas. Às 5h50 (horário de Brasília), Trump disse em seu discurso da vitória ter recebido a ligação de Hillary reconhecendo a derrota democrata. “É hora de caminhar juntos. Serei o presidente de todos os americanos”, disse o presidente eleito.

Seus ataques à globalização e ao comércio internacional mobilizaram trabalhadores brancos americanos sem educação superior, que impuseram uma derrota histórica a Hillary em locais que votaram no Partido Democrata nas últimas eleições presidenciais. Trump venceu na Pensilvânia, em Michigan, Ohio e Iowa, que integram o chamado “cinturão da ferrugem”, locais que sofreram com o processo de desindustrialização do país nas últimas décadas.

Com sua candidatura insurgente, o bilionário capturou o desejo de mudança de eleitores que se consideram esquecidos pela classe política e ameaçados por transformações que não controlam. Muitos se sentem deslocados pelo processo de globalização e não se reconhecem em uma sociedade cada vez mais diversa.

“As pessoas sentem que estão sendo deixadas para trás pela velocidade das mudanças econômicas, sociais e culturais nos EUA e acreditam que não têm um lugar na mesa em que as decisões são tomadas”, disse Tom Russall, um vendedor de 23 anos que aguardava o resultado da apuração em frente ao quartel general montado pela campanha de Trump em Nova York.

Na medida em que a contagem avançava, aumentava o público no local e diminuía o que estava reunido em um centro de convenções de Nova York para a frustrada festa de celebração da vitória de Hillary. Na calçada em frente ao hotel em que o candidato estava, seus seguidores gritavam “USA, USA” e “lock her up”, o grito de guerra usado na campanha para pedir a prisão da democrata.

Cerca de 30 minutos antes de a confirmação da vitória de Trump, o diretor de campanha de Hillary, John Podesta, discursou para os apoiadores da democrata que acompanham a votação no QG montado em Manhattan e afirmou que ela não faria nenhum discurso na madrugada (manhã de quarta, em Brasília). “Não teremos nada para dizer nesta noite. Então me escutem: todos deveriam ir para casa e dormir. Teremos mais para falar amanhã”, disse Podesta.

“Nós precisamos de um líder forte”, disse Mitch Pilcer, um americano-israelense que carregava uma bandeira de Israel. “As políticas democratas para o Oriente Médio provocaram instabilidade e uma onda de refugiados.”

Desde o início da campanha eleitoral, Trump apresentou uma visão dos EUA como um país decadente, invadido por imigrantes e refugiados, mergulhado na violência e humilhado no exterior por aliados e adversários. O bilionário cultivou a imagem de um líder forte, representante da “lei e da ordem”, com poder de resolver sozinho os problemas do país.

O resultado da eleição revelou profundas divisões na sociedade americana. As pequenas cidades do interior votaram em massa para Trump, enquanto os grandes centros urbanos mantiveram a fidelidade ao Partido Democrata. A hostilidade entre eleitores dos dois candidatos atingiu patamares nunca registrados na história recente dos EUA: 96% dos eleitores de Hillary têm uma visão desfavorável de Trump, enquanto 95% dos que votaram no bilionário têm uma imagem negativa da democrata.

Sob o slogan “Tornar a América Grande de Novo”, o bilionário prometeu deportar 11 milhões de imigrantes que vivem de maneira ilegal no país e construir um muro na fronteira com o México. Trump também adotou um discurso populista de rejeição à globalização e a tratados de livre comércio e disse que trará empregos industriais de volta aos EUA com a punição de empresas que transfiram suas linhas de montagem a outros países.

O candidato defendeu o uso da tortura contra suspeitos de terrorismo e chegou a propor a suspensão da entrada nos EUA de praticantes da religião muçulmana. Com ataques frequentes ao politicamente correto, Trump distribuiu ofensas de maneira generalizada durante a campanha, iniciada com a acusação de que os mexicanos que entram no país são estupradores e assassinos e encerrada pouco depois da divulgação de um vídeo no qual diz que pode fazer o que quiser com as mulheres por ser famoso.

Sodagens realizadas nos dias que antecederam a eleição davam uma vantagem de cerca de 3 pontos porcentuais a Hillary em âmbito nacional e projeções realizadas por institutos de pesquisa davam à candidata uma probabilidade de 68% a 98% de chance de ganhar a corrida presidencial.

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