quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Volta, FHC - Xico Graziano

- Folha de S. Paulo

Gostaria de expor uma posição política. Faço-o com total desprendimento e isenção. Embora filiado ao PSDB desde sua fundação, pelo partido não falo. Externo posição política independente.

Não pertenço a nenhum grupo, nem o de Aécio Neves, nem o de José Serra, nem o de Geraldo Alckmin. Tenho apreço por todos eles, mas a nenhum devo satisfações.

Tampouco me expresso em nome do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a quem sirvo com dedicação desde sua campanha ao Senado, em 1986.

Mantenho atualmente com ele as melhores relações de amizade, respeito e admiração. Auxilio-o defendendo seu legado nas redes sociais.

Sigo sua liderança e me espelho no exemplo do homem que tem sido capaz de se reinventar a cada instante, tendo se tornado o ponto de equilíbrio dessa nação esfacelada pela crise econômica, social e política.

Para entender a política contemporânea, precisamos escapar da antiga dicotomia entre esquerda e direita. Na sociedade pós-industrial, velhas ideologias pouco importam.

Escasseiam operários, abundam autônomos e empreendedores no mundo tecnológico. Causas sociais, organizadas via internet, substituem a luta de classes.

Notoriamente nossos partidos políticos estão fossilizados, vivem no século passado, perderam legitimidade. As recentes eleições deixaram claro: ninguém aguenta mais a velha política. Os que perderam a ela pertenciam.

Venceram aqueles que sinalizaram distância do fisiologismo. Maus gestores públicos, candidatos fake e populistas, independente do partido, foram barrados nas urnas.

Quem dançou feio, mesmo, foi o PT. Depois da roubalheira que fizeram, era esperado. O PSDB cresceu nacionalmente. Um olhar para as capitais, todavia, mostra diversidade partidária.

João Doria (PSDB) em São Paulo, Alexandre Kalil (PHS) em Belo Horizonte, ACM Neto (DEM) em Salvador, Marcelo Crivella (PRB) no Rio, Geraldo Júlio (PSB) em Recife, Roberto Cláudio (PDT) em Fortaleza: todos representam a vitória contra a embromação política.

Findo o período eleitoral, olhamos para frente. Quer dizer, para 2018.

Qual liderança poderá recolocar o Brasil nos trilhos do desenvolvimento? Como fazer a reforma política tão desejada? Quem conseguirá estabelecer conexão com a sociedade organizada nas redes? É o que todos querem saber.

Creio que somente o ex-presidente FHC se legitima, pela vasta experiência, sensatez e sabedoria, para nos conduzir nessa difícil travessia.

Apesar da maledicência lulopetista, que o atacou ferozmente durante anos, a história resgata sua dignidade na mesma medida em que seus detratores se afundam na Lava Jato.

FHC representa a decência na vida pública. Esse é o maior desejo do brasileiro. Viver num país com civilidade, honestidade, princípios. Um país que ofereça oportunidades, gere bem-estar, dê segurança. Um país tolerante, respeitoso, diverso, unido na defesa da cidadania.

Pode ser que a Justiça acelere o processo político e casse a chapa Dilma-Temer. Nesse caso, o Congresso elegeria um presidente-tampão.

Seria Fernando Henrique, com certeza. Ele prepararia o caminho rumo ao porvir. Michel Temer, porém, poderá seguir até 2018. Aí, a decisão será popular.

Sejamos realistas: ou surge um oportunista de última hora, um salvador da pátria, um vendedor de ilusões, ou corremos o risco de ficar na pasmaceira da política tradicional.

Fernando Henrique é o amálgama do dilema brasileiro. Está velho demais, pode-se argumentar. Bobagem. É o mais espairecido dos velhos políticos. Malgrado sua idade, não perde sua inventividade. É o cara.

Volta, FHC.
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Xico Graziano, doutor em administração pela Fundação Getulio Vargas, é agrônomo e consultor de marketing. Foi deputado federal (PSDB) e chefe de gabinete da Presidência da República (governo FHC

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