sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Centrão pressiona e Temer recua de indicação de tucano

Depois de escolher o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy, para a Secretaria de Governo no lugar de Geddel Vieira Lima, o presidente Michel Temer recuou da decisão. O motivo foi a pressão do centrão. O presidente ouviu de líderes da base aliada a queixa de que Imbassahy, pré-candidato à presidência da Câmara, ajudaria, como ministro, a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ). O centrão tem ao menos dois candidatos à sucessão de Maia.

Escolha, recuo e confusão

• Temer decide nomear tucano para Secretaria de Governo, mas reação do centrão adia anúncio

Simone Iglesias, Maria Lima e Evandro Éboli - O Globo

-BRASÍLIA- O líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), foi escolhido para assumir a Secretaria de Governo, deixada há duas semanas pelo peemedebista Geddel Vieira Lima (BA). O nome foi acertado entre o presidente Michel Temer, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, como forma de incluir os tucanos, descontentes com a gestão de Temer, no núcleo político do governo. No entanto, uma ampla mobilização ao longo do dia vinda do centrão, um dos pilares da base aliada, fez o Palácio do Planalto adiar o anúncio da nomeação, inicialmente previsto para ontem à tarde. O presidente preferiu aguardar e tentar resolver o conflito na base.


— A mobilização do centrão criou uma dificuldade. Mas a tendência é essa — avalia um auxiliar presidencial.

— O presidente só não bateu o martelo. Ele pediu calma — explicou outro.
O desafio de Temer agora é tentar isolar a escolha do secretário de Governo da eleição para a presidência da Câmara. O líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), afirmou ainda pela manhã que a ida de Imbassahy para a vaga de Geddel seria um reforço importante na articulação política, justamente em função do fato de haver vários grupos na base governista da Câmara.

— Imbassahy é um líder altamente qualificado, está saindo fresquinho da Câmara, onde a articulação é mais delicada, conduz muito bem a bancada, conhece a administração pública, o que é muito importante — disse o tucano.

LÍDERES DO CENTRÃO FORAM AO PLANALTO
À tarde, porém, veio a reação. Líderes de partidos que integram o centrão, como Jovair Arantes (PTB-GO) e Aelton Freitas (PR-MG), foram ao Palácio do Planalto para se reunir com Temer e reclamar da indicação de Imbassahy. O tucano era pré-candidato a presidente da Câmara, e sua nomeação como ministro, teme o centrão, ajudará na reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tem acordo com o PSDB para se manter no comando da Casa. Pelo menos dois integrantes do centrão já se lançaram candidatos para enfrentar Maia: Jovair e o líder do PSD, Rogério Rosso (DF).

Além disso, o centrão desejava indicar o ministro da Secretaria de Governo e sugeriu o nome de Jovair. Geddel era visto como um grande interlocutor dos deputados do centrão no Palácio do Planalto. Jovair disse ao GLOBO que não é hora de o governo Temer “arrumar confusão”:

— O que sei é que foi feito uma sondagem ao Imbassahy, mas não é hora de o governo fazer esse tipo de coisa. O momento é delicado, estamos no meio de uma disputa na Casa, e os dois grupos que discutem essa questão (sucessão na Câmara) são da base do governo. Seria inconveniente uma ação que poderia parecer ingerência ou ajuda para um dos lados. O que o governo menos precisa é de confusão — disse Jovair, que, apesar de deixar claro que é contra a nomeação de Imbassahy, elogiou o tucano: — Não que eu tenha qualquer coisa contra o Imbassahy. É um excelente nome, um cara qualificado. Seria um ministro excelente. Tem uma vivência política interessante. Mas não é hora.

Publicamente, Rosso adotou um tom de cau— tela, mas demonstrou incômodo com o fato de Temer não ter conversado com os deputados sobre a decisão de indicar Imbassahy para o seu Ministério. Questionado sobre a escolha do tucano, Rosso tergiversou.

— Tenho convicção de que o presidente Temer, em caso de confirmar a escolha do líder Imbassahy, um dos melhores parlamentares da Câmara, vai informar toda a base da sua decisão e da importância da união da base neste momento de início de tramitação da reforma de Previdência.

Para tentar evitar um racha em sua base, o governo busca soluções para acomodar os aliados. Uma delas seria colocar Rosso ou Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) na liderança do governo na Câmara em 2017; a vaga hoje é ocupada por André Moura (PSC-SE). O centrão, porém, quer mais espaços. O grupo era a base do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e, desde sua saída do poder, vem perdendo espaço.

À noite, após o recuo do governo, o secretário-geral do PSDB, Silvio Torres (SP), que de manhã dizia ter sido informado que a nomeação sairia ainda ontem, reclamava: Como conseguem fazer tanta confusão? Senadores da oposição discursaram no plenário do Senado acusando o PSDB de estar articulando “um golpe dentro do golpe” para tomar o comando da economia do governo, derrubar Temer e eleger indiretamente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para um mandato-tampão até 2018. O primeiro passo seria a indicação de Imbassahy.

Segundo o líder do PT, Humberto Costa (PT-PE), a estratégia é desestabilizar o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e “tomar de assalto” os ministérios da Fazenda e do Planejamento.

— Esse presidente irrelevante sabe que não termina o governo e cede o que pode para se manter no cargo. Os tucanos tomam de assalto o Ministério da Fazenda e colocam lá alguém para despistar, colocam lá alguém para colaborar. Esse nome seria Armínio Fraga. É assim que os tucanos sabem fazer política, ameaçando e extorquindo esse débil presidente para chegar à Presidência no tapetão. É o golpe dentro do golpe. Derrubam esse presidente aparvalhado e elegem FH para o mandato- tampão — discursou Costa. (Colaboraram Evandro Éboli e Eduardo Barretto)

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