sábado, 31 de dezembro de 2016

Crivella começa a enfrentar seu maior desafio – Editorial | O Globo

A prefeitura de Eduardo Paes ostenta números condizentes com uma administração financeira bem defendida contra impactos mais severos da crise fiscal. Mas o horizonte preocupa, por reflexos das turbulências em toda a Federação, de que é difícil, se não impossível, sair incólume. O cenário econômico e fiscal carioca não se assemelha ao do estado, imerso em colapso, agravado por equívocos próprios dos últimos governos fluminenses. Isso não se discute.

Eduardo Paes constituiu uma equipe de economistas, com José Roberto Afonso à frente, da FGV e outras instituições, para fazer uma espécie de auditoria nas contas cariocas. Os fantasmas lançados na campanha eleitoral não se materializaram, pelos números do prefeito. A prefeitura, segundo o inventário, atende aos principais parâmetros da Lei de Responsabilidade Fiscal e, entre outros sinais de equilíbrio, apresenta receitas primárias (exceto as financeiras) acima das despesas correntes. Invejável neste turbilhão.

Marcelo Crivella e sua equipe de transição discordam. Feito este balanço positivo por Eduardo Paes, o seu sucessor a partir de amanhã contestou o quadro róseo, e logo emendou um discurso sobre tempos difíceis que se aproximam.

Admita-se que, do ponto de vista político, Marcelo Crivella assume postura correta: nunca se deve tomar posse com promessas de dias alegres pela frente, mais ainda numa conjuntura de históricas dificuldades como a atual.

Pela competência profissional da equipe contratada para avaliar a gestão de Eduardo Paes, não há por que desconfiar do diagnóstico feito. Deve também ser entendido que o próximo prefeito e assessores se sustentam em projeções, para rejeitar o cenário traçado por Paes.

Afora polêmicas, Marcelo Crivella — em seu primeiro teste no Poder Executivo, desafio maior que o exercício de mandatos no Legislativo — precisa, por óbvio, avaliar as decisões a serem tomadas pelo ângulo da prudência com as finanças municipais, para só avançar na medida do possível e, se necessário, proceder recuos táticos a fim de defender a governabilidade fiscal. Preocupa, por exemplo, a possibilidade de algumas promessas de campanha passarem do limite da sensatez. “Cuidar das pessoas”, por exemplo, tem um custo, a ser bem avaliado pelo novo prefeito.

Não é estimulante, por exemplo, constatar que, para tirar do papel todos os principais projetos anunciados, Crivella possa ter de arcar com despesas novas da ordem de R$ 8,6 bilhões até o final de 2020, como sinalizou reportagem recente do GLOBO. Isso, num ambiente econômico inóspito e, no caso específico da prefeitura carioca, com a perspectiva de uma inexorável redução orçamentária.

Cuidados fiscais à parte, o Rio tem problemas crônicos que não podem deixar de ser enfrentados, caso da favelização. A mobilidade urbana, a despeito dos legados da Olimpíada, também permanece exigindo atenção etc. São desafios que implicam coragem e responsabilidade administrativa, dentro de uma tempestade econômica nacional de alto poder de destruição.


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