sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

‘Desculpe, a Odebrecht errou’, diz a nota da empresa

• Até então, empreiteira vinha reafirmando a posição de que não estava envolvida em fraudes

Cleide Carvalho e Silvia Amorim - O Globo

-SÃO PAULO- Em nota com o título “Desculpe, a Odebrecht errou”, publicada hoje em anúncios de duas páginas em jornais, a empreiteira reconhece ter se envolvido em práticas de corrupção e pede desculpas por não ter tomado antes a iniciativa de reconhecer seu envolvimento. Afirma que “aprendeu várias lições com os seus erros” e diz estar “comprometida, por convicção, a virar essa página”.

“Não importa se cedemos a pressões externas. Tampouco se há vícios que precisam ser combatidos ou corrigidos no relacionamento entre empresas privadas e o setor público. O que mais importa é que reconhecemos nosso envolvimento, fomos coniventes com tais práticas e não as combatemos como deveríamos. Foi um grande erro, uma violação dos nossos próprios princípios, uma agressão a valores consagrados de honestidade e ética. Não admitiremos que isso se repita”, diz a nota.

No início da Operação Lava-Jato, a empreiteira adotou posição de enfrentamento com os procuradores responsáveis pelas investigações. As notas anteriores divulgadas pela construtora criticavam diariamente a condução das investigações e tinham como marca registrada negar “veementemente qualquer ilícito”.

Na comunicação de ontem, a empresa afirma: “Definitivamente, não precisávamos ter cometido esses desvios”. A empresa se compromete, por exigência do acordo, a ter uma atuação “ética, íntegra e transparente”, “sem exceções nem flexibilizações”.

O anúncio relaciona dez compromissos que a empresa se compromete a cumprir de agora em diante, como combater e não tolerar qualquer forma de corrupção, extorsão e suborno; recusar negócios que conflitem com esse compromisso e “jamais invocar condições culturais ou usuais do mercado como justificativa para ações indevidas”.

DESCULPAS TAMBÉM AOS EMPREGADOS
Emílio Odebrecht, dono da empresa, divulgou também um comunicado interno aos funcionários pedindo desculpas a eles e suas famílias. “Pelos constrangimentos que causamos, fruto de erros que cometemos no passado e que, reafirmo, não se repetirão”. Emílio também lamenta que, em função da redução das operações, a empresa tenha perdido milhares de empregados.

Até ontem, a postura da Odebrecht frente às investigações da Lava-Jato tinha sido bem diferente. Uma das notas oficiais divulgadas em 2015 dizia: “A Odebrecht nega veementemente ter feito qualquer pagamento ou depósito em suposta conta de qualquer diretor ou ex-diretor da Petrobras. A Odebrecht mantém, há décadas, contratos de prestação de serviços com a Petrobras, todos conquistados de acordo com a lei de licitações públicas”.

Mesmo após a prisão de Marcelo Odebrecht, o tom permaneceu o mesmo. Em sua defesa por escrito entregue a Moro naquele ano, Marcelo disse que era “absurda e inconsistente” a acusação de formação de cartel com outras construtoras no esquema na Petrobras: “Nunca ouvi falar, nem soube desse tipo de atuação de qualquer empresa do grupo. Além disso, não me parece sequer fazer sentido essa afirmação, considerando que a Petrobras convida participantes de suas licitações que são previamente cadastrados, pré-qualificados e define preços. A alegação da existência de indícios de cartel com participação da Odebrecht se mostra, portanto, absolutamente inconsistente e absurda”.

Anúncios como os publicados hoje foram pagos pela Odebrecht para rechaçar as acusações de que era alvo. Em junho de 2015, um deles dizia que as denúncias contra ela decorriam de “equívocos de informação e interpretação”. Só no fim de 2015 que a postura ofensiva começou a ser substituída por um silêncio da empreiteira a cada nova acusação divulgada pela Lava-Jato.

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