terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Forte revés – Editorial/Folha de S. Paulo

Passados cem dias desde que assumiu o Poder Executivo de forma definitiva, o presidente Michel Temer (PMDB) enfrenta a maior crise de sua administração.

De um lado, avançam as tratativas em torno da delação premiada da Odebrecht. Nada menos do que 77 pessoas ligadas à empresa fecharam acordo para cooperar com os investigadores da Lava Jato em troca de penas mais brandas.

Na sexta-feira (9), a revelação de detalhes da colaboração de um ex-executivo da empreiteira indicou o quanto os depoimentos devem ser devastadores para o governo.

O relato de Claudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht, implica o próprio Temer em negociações escusas com a empreiteira. Citado 43 vezes pelo delator, o presidente teria pedido apoio a campanhas do PMDB em 2014.

Figuras centrais para o Planalto também têm seus nomes envolvidos em circunstâncias indecorosas. Melo Filho menciona, por exemplo, Eliseu Padilha (ministro da Casa Civil), Moreira Franco (secretário do Programa de Parcerias em Investimentos), José Yunes (assessor especial da Presidência) e Romero Jucá (líder do governo no Senado).

Como sempre, vale lembrar que a delação ainda precisa ser comprovada e que os políticos negam ter participado de irregularidades. Mesmo assim, sobretudo pela verossimilhança da história, o núcleo do governo sofreu forte revés.

Ameaçado no flanco das investigações, Temer se encontra pressionado também pela opinião pública. Pesquisa Datafolha mostrou no final de semana a rápida queda de popularidade do presidente.

Se em julho 31% dos brasileiros consideravam o governo ruim ou péssimo, agora a fatia saltou para 51%; meros 10% avaliam a gestão peemedebista como ótima ou boa. Não surpreende que, nas simulações eleitorais para 2018, Temer alcance no máximo 4% das intenções de voto e atinja 45% de rejeição.

O principal motivo para o desgosto parece estar na economia. Nesse período, passou de 30% para 41% a parcela dos que acham que a situação econômica vai se degradar e caiu de 38% para 28% a dos que apostam em melhora; 40% dos entrevistados dizem que o atual governo é pior que o anterior.

Acuado nesses dois fronts e decerto ciente de que sua gestão não entregou muito do que prometeu para este ano, Michel Temer pretende acelerar a agenda econômica no intuito de conquistar algum respaldo na sociedade.

É o que lhe resta, e não há tempo a perder. Se o governo terminar sugado pelo vórtice da crise política, dificilmente conseguirá salvar a economia, num ciclo vicioso que o país conhece muito bem.

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