quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Governo sofre ataques de sua base, e Caiado propõe antecipar eleição

Temer diz que delações da Lava-Jato não podem manter país paralisado

Cristiane Jungblut, Maria Lima e Simone Iglesias - O Globo

-BRASÍLIA- Menos de uma semana após virem à tona os primeiros trechos das delações da Odebrecht, incriminando o presidente Michel Temer e a cúpula do Palácio do Planalto, duas alas de sua base aliada fizeram ontem ataques ao governo. Líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO) defendeu a antecipação das eleições presidenciais e disse que, em certas situações, governantes podem fazer um “gesto maior” de abrir mão de seu mandato. Outro sinal de estremecimento veio do PSB, com setores do partido querendo se afastar do Planalto.

Pré-candidato à Presidência, Caiado disse que não se deve temer a antecipação da eleição, defendida pelo PT.

— Podemos chegar ao último fato, que é, para preservar a democracia, ter um gesto maior de poder e mostrar que ninguém governa sem apoio popular. E nessa hora não podemos ter medo de uma antecipação do processo eleitoral — disse Caiado.

Perguntado se estava defendendo a renúncia de Temer, Caiado disse que o presidente saberá avaliar a situação:

— Ele saberá balizar este momento, mas deve ter a sensibilidade que não teve a presidente Dilma. Todo cidadão tem que entender que mandato político não é direito de propriedade. E você deve estar sempre disposto a abrir mão da condição do seu mandato para poder ser auferido pela sociedade brasileira se quer reconduzi-lo. Existem momentos em que você é obrigado a ter gestos maiores para não colocar em risco a democracia brasileira nem a ordem — disse Caiado.

NO PSB, CRÍTICAS À PEC DO TETO No PSB,
com cerca de um terço do partido em rebelião contra a PEC do teto e majoritariamente contra a reforma da Previdência, o Diretório Nacional se reúne amanhã em Brasília para discutir o apoio ao governo. Mas dirigentes socialistas afirmam que não haverá deliberação sobre rompimento.

— Desde o início, o PSB deixou claro ao presidente Temer que colaboraria, mas preservaria sua história. Temos uma proposta de reforma da Previdência própria que vamos apresentar. O governo pensou só na caixinha e não propôs alterações estruturantes para resolver o problema da Previdência — disse o secretário-geral da sigla, Renato Casagrande.

O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) disse que o apoio do PSB ao governo será pontual, e não automático.

— Acredito que a posição do PSB na reforma da Previdência se estenderá para outras matérias — disse Delgado.

Diante dos sinais de agravamento da crise, Temer afirmou ontem, ao discursar em evento no Palácio do Planalto, que o país não pode ficar paralisado. Nesse momento , ele se referia às delações da Lava-Jato:

— A acusação é um longo processo, onde há defesa, isso, aquilo, não é? Então não podemos deixar que isso paralise o país. Não permitiremos que isto aconteça. Pode acontecer, pode vir a notícia que vier, etc, o país não ficará paralisado.

PLANALTO VÊ ‘GESTOS ISOLADOS’
Nos bastidores do Planalto, um auxiliar de Temer disse que o presidente não cogita a renúncia. A avaliação, segundo essa fonte, é que os movimentos pelo rompimento com o governo são isolados. 

Desde domingo, Temer intensificou conversas com parlamentares e dirigentes de partidos aliados. Os governistas avaliam que no PSB as dissidências se concentram em alguns estados, sem respaldo da direção nacional. 

O Planalto sabe que o PSB tem dificuldade para aprovar a reforma da Previdência, mas aposta no diálogo e em mudanças do projeto apresentado ao Congresso para flexibilizar posições contrárias à proposta. (Colaboraram Eduardo Barretto e Leticia Fernandes)

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