quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Quatro razões para manter Meirelles - Rosângela Bittar

- Valor Econômico

• Haverá uma espécie de reorganização, não reforma de fato

O presidente Michel Temer deverá aproveitar a oportunidade da nomeação do novo ministro-chefe da Secretaria de Governo, em substituição a Geddel Vieira Lima, para fazer mudanças pontuais na sua equipe. Não se trata de reforma ministerial, ideia que, como iniciativa política para sacudir o governo, está desgastada. Mas de leves adequações de nomes e cargos, inclusive para atender aquelas cúpulas partidárias que pretendem trocar seus representantes porque não funcionaram como gostariam.

Até a execução final da ideia de reorganizar o governo, o desenho muda a cada dia, tal o dinamismo da crise política. O ministro Dyogo Oliveira, que seria efetivado no cargo, poderá sair. Com o movimento em direção ao governo feito pelo PSDB, porém, é possível que o presidente troque o técnico do governo petista no Planejamento por outro técnico do governo tucano.

O presidente Temer iniciou também, desde sexta-feira, uma campanha de prestígio e reforço à posição do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Temer não aceitou a fritura do ministro, inspirada pelo PSDB. Entre inúmeras outras vantagens de Meirelles, o presidente enumera pelo menos quatro razões que o fazem apoiar explicitamente a posição do seu ministro: ele tem credibilidade interna e internacional, sua atuação no exterior é melhor do que a atuação de quaisquer outros agentes da economia, reuniu uma equipe competente que tem confiança do mercado e, não menos importante, Meirelles conta com a confiança do presidente da República. No governo repete-se: "Mexer no Meirelles só interessa à oposição."

O PSDB, mesmo sem ministério na área econômica, deve aproximar-se mais do governo Temer e tem sua lealdade reconhecida - seria o partido da base aliada que mais vota com as teses do governo. O partido será mais ouvido, podendo ampliar sua participação quando o presidente promover a recomposição de funções e cargos no Planalto, o que fará depois da eleição para as Mesas da Câmara e do Senado, em fevereiro.

As mudanças foram adiadas porque não havia mais votações importantes no Congresso até o fim dessa legislatura. Pode ser que o presidente altere o cronograma se o plenário do Supremo Tribunal Federal referendar o afastamento de Renan Calheiros da presidência do Senado, com a consequente posse do senador petista Jorge Viana no cargo. Viana está pressionado pelo PT e pode repetir as atitudes de Waldir Maranhão que, ao assumir o posto de Eduardo Cunha cancelou, inclusive, a votação do impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Nesse caso, Temer terá que apressar uma solução definitiva para as negociações do governo com o Senado, Há, ainda para votar o segundo turno da PEC dos gastos e o Orçamento de 2017.

O PP intensificou as queixas do seu representante no ministério, Ricardo Barros, ministro da Saúde, já desestabilizado antes mesmo da eleição municipal e ali mantido até que o cenário político na sua região se clareasse. Agora, porém, o PP quer evitar que o PMDB reivindique o posto que já foi seu. Assim, quer oferecer um nome mais forte ao presidente.

A ser considerado também nessa minirreforma é o Ministério do Trabalho, hoje com Ronaldo Nogueira (PTB-RS). O ministro não disse o que faz ali e toda a negociação com sindicatos e outras entidades tem sido função do Gabinete Civil da Presidência.

Esclarecimento
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso determinou à sua assessoria que fizesse a mim um desmentido categórico à informação aqui publicada, na quarta-feira, revelando que ele autorizara Xico Graziano a escrever e publicar artigo em que lançava seu nome à eleição indireta de presidente da República. Seria para exercer a Presidência, em transição até 2018, caso o Tribunal Superior Eleitoral aprovasse a cassação da chapa Dilma-Temer. Ou, tangido pela crise, renunciasse ao cargo, hipótese em que alguns políticos com liderança na sociedade passaram a acreditar. Nesse caso, não haveria nem presidente nem vice, e Temer não poderia suceder Dilma afastada pelo impeachment.

Para a nova eleição, os candidatos mais comentados têm sido o próprio Fernando Henrique, o ministro Henrique Meirelles, o ex-ministro Nelson Jobim, o deputado Rodrigo Maia, entre outros nomes hoje situados fora da polarização partidária. Nessas conjecturas ignora-se o fato de que, quando depuserem Temer por essa via, o Congresso tomará conta imediatamente da sucessão e não se tem ideia de quem virá desse turbilhão.

Após a publicação do artigo de Graziano, algumas pessoas próximas ao ex-presidente afirmaram que ele teria se aborrecido com a precipitada divulgação de que aceitaria disputar o mandato "pinguela", como ele mesmo define, quando soube da reação do presidente Michel Temer. Foi a pior possível.

Temer considerou, e ainda considera, a suposta aprovação àquele artigo, e as críticas ao seu governo feitas pelo ex-presidente em entrevistas e artigos, como uma rasteira, uma agressão gratuita - principalmente a declaração de que ele não conhece o Brasil. Temer aposta na separação de contas de campanha no julgamento do TSE, portanto não acredita que seu mandato de transição será interrompido. Qualquer ideia em contrário, antes que o tribunal eleitoral tome uma decisão, o deixa agastado.

"O presidente pediu para lhe dizer que o Xico nunca o consultou. Ele estava em Paris e o autor enviou-lhe o artigo já escrito no dia em que foi publicado. Ele ficou danado", disse Helena Gasparian, assessora na fundação que leva o nome de Fernando Henrique. Inclusive, na ocasião, conta, Fernando Henrique pediu que Graziano retirasse do ar uma página do Facebook intitulada "Volta, FHC", movimento que ele desestimula.

"Com certeza ele não sabia, com certeza não foi consultado e com certeza não tem nada a ver com a iniciativa de Xico Graziano, que parou de trabalhar com ele há dois anos", afirmou a dirigente da Fundação. O fato, até hoje, está atravessado na garganta do grupo do Palácio Planalto, e não é aceito ou compreendido. Enquanto na Fundação FHC é definido como algo mais simples: "São inspirações da cabeça de Xico Graziano". Com o agravamento da crise político, entre, principalmente, os Poderes Legislativo e Judiciário, o ex-presidente e o presidente poderão tentar uma nova aproximação.

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