segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

'Segredo é coalização mais homogênea', diz professor da FGV

• Para Carlos Pereira, crise política entre Executivo e Legislativo que levou ao impeachment da presidente Dilma Rousseff acabou

Carlos Pereira | O Estado de S. Paulo

Os números do Estadão Dados nos permitem concluir que a crise política entre Executivo e Legislativo que levou ao impeachment da presidente Dilma Rousseff acabou. Esse retorno ao padrão normal do presidencialismo de coalizão não se deu, entretanto, em função de uma “lua de mel” do presidente com a sociedade. Na realidade, a governabilidade é consequência direta da forma como o novo governo decidiu montar e gerenciar sua coalizão.


A ascensão do PT ao poder produziu um modelo de gestão de coalizão muito peculiar. Caracterizou-se por grande número de parceiros ideologicamente heterogêneos e pela concentração de recursos no partido do presidente. Temer promoveu mudanças radicais nesse padrão. A despeito da altíssima fragmentação partidária, ele construiu a coalizão ideologicamente mais homogênea desde a transição para a democracia.

Além disso, é a coalizão mais proporcional desde os anos 1980, sendo o governo que menos concentrou poder no partido do presidente. E a preferência mediana de sua coalizão é muito mais próxima da mediana do Congresso. Se esse padrão se mostrar sustentável, é de se esperar ainda maior sucesso dos interesses do Executivo no Congresso, mesmo diante de uma agenda carregada de reformas constitucionais.

A sensação de continuidade da crise política tem natureza distinta do impeachment. Ela não decorre de problemas de governabilidade, mas sim da busca de sobrevivência por políticos envolvidos em escândalos de corrupção. Acusações de exageros do Judiciário contrastam com o apoio de 96% da população à Operação Lava Jato. A intolerância à corrupção aparece como nova crença dominante no Brasil e a Lava Jato pode ser a janela de oportunidade para a consolidação do império da lei.

Nada garante que o presidente Temer conseguirá terminar seu mandato. Caso não consiga, isso não se daria em função da falta de governabilidade, mas sim pelas mesmas razões daqueles que têm causado conflitos em seu governo, quais sejam? Por potenciais problemas com a Justiça.
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*Carlos Pereira é professor da Fundação Getulio Vargas (FGV)

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