sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Temer: ‘Nunca caí de pinguela’

• Presidente diz que não pensa em renúncia

O presidente Michel Temer, no primeiro café da manhã com a imprensa desde que assumiu o Planalto, afirmou ontem que não renunciará e que recorrerá caso o TSE casse a chapa Dilma-Temer. Usando a metáfora do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que chamou seu governo de “pinguela”, o presidente recorreu à memória de sua infância: “Quando eu era menino, tinha um riacho perto da minha casa onde brincávamos atravessando uma pinguela. Sabia que nunca caí? Se é ponte ou pinguela, não importa. O que importa é atravessar.”

‘Se é ponte ou pinguela, nunca caí’

• Temer diz que não vai renunciar e garante que vai recorrer se TSE cassar a chapa

Simone Iglesias e Eduardo Barretto - O Globo

-BRASÍLIA.- No primeiro café da manhã com jornalistas desde que assumiu a Presidência, há sete meses, Michel Temer disse ontem que não vai renunciar e que recorrerá ao máximo se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidir cassar a chapa que o elegeu como vice da ex-presidente Dilma Rousseff. Ontem no Palácio do Alvorada, que ainda não recebeu as mudanças da família Temer, o peemedebista exaltou a boa relação que tem com o Congresso Nacional, direcionou os ataques para a divulgação de delações premiadas da Operação Lava-Jato e garantiu o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, no cargo.

Na fase mais baixa de sua popularidade, com 10% de aprovação, Temer também ressaltou feitos do governo, atacou a gestão Dilma e anunciou um pacote de bondades: saque sem limites das contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) inativas até o fim de 2015, o que contemplaria mais de 10 milhões de trabalhadores, e queda nos juros do cartão de crédito em mais de 50%. Com o anúncio da reforma trabalhista logo depois do encontro, Temer afirmou que o governo ganha um “belíssimo presente de Natal” e garantiu que conseguirá pacificar o Brasil. Dividiram com Temer a cabeceira da extensa mesa os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Dyogo Oliveira.

O gesto reforçou a necessidade que o governo tem em fazer sinalizações para o mercado, especialmente após a retomada da economia ficar aquém do projetado pelo governo. Quando questionado sobre a fraca recuperação econômica, o trio era alinhado: falava que a nova gestão herdou uma “recessão profunda” e uma situação “dificílima”. Temer contemporizava, justificando que nunca prometeu que haveria “céu azul” assim que ele assumisse a Presidência da República. O presidente avalia fazer um pronunciamento em cadeia de rádio e TV amanhã, véspera de Natal, às 20h30m.

Somente um mês depois da demissão do exministro da Secretaria de Governo e antigo companheiro de Palácio do Planalto, Geddel Vieira Lima, Temer falou publicamente sobre o caso: disse que foram dias “angustiantes”. Como fez ontem com Padilha, Temer havia chegado a garantir, em pronunciamento, Geddel no cargo. O presidente disse que não tem “nada” contra a Operação Lava-Jato. A primeira das 77 colaborações premiadas da Odebrecht a serem divulgadas, do ex-diretor de Relações Institucionais Cláudio Melo Filho, envolveu diretamente o núcleo do governo, incluindo o presidente. Ele criticou que políticos citados por delatores sejam “definitivamente condenados" antes de investigações, o que gera um clima de “instabilidade”, reclamou.

NÃO RENUNCIA
“Confesso não pensar nisso. Se a chapa for cassada, respeito a decisão do Judiciário. Claro que antes disso haverá recursos e mais recursos”.

DELAÇÕES
“Há o fato de que todos que tenham os nomes mencionados viram definitivamente condenados. O delator é alguém que falou de outrem, mas isso aí ainda vira um inquérito. Soltam uma delação por semana e cria um clima de instabilidade. Quem for mencionado vai se defender. O que não é possível é levar 70, 80 semanas para as delações virem à luz.”

PADILHA
“Não tirarei o chefe da Casa Civil não. Ele continua firme e forte”.

GEDDEL
“Foi uma coisa angustiante. Naqueles cinco ou seis dias, houve momentos muito agitados”.

PINGUELA
“Quando ouvi essa expressão ‘pinguela’ (usada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso), essa expressão delicada, em que há muitas amarguras e paixões por trás, a primeira coisa que lembrei foi da minha infância. Quando eu era menino tinha um riacho perto da minha casa, onde brincávamos atravessando uma pinguela. Sabia que nunca caí? Se é ponte ou pinguela, não importa. O que importa é atravessar”.

BASE
“Do PSB nunca chegou a mim alguma manifestação de que queira sair do governo. Nas votações, o PSB sempre me deu um número significativo de votos. Do PSDB tenho um extraordinário apoio. Tenho um reiterado apoio. Isso (crítica) é assim mesmo, fiquei 24 anos no Parlamento. Uma palavra aqui, outra palavra acolá, mas são episódicas”.

DÍVIDAS DOS ESTADOS
“Está se fazendo uma tempestade em copo d’água. Se não constar da lei as exigências, quando a Fazenda Pública examinar os pedidos de recuperação, irá exigir as contrapartidas necessárias, é um contrato. As contrapartidas foram colocadas no texto a pedido dos governadores. Se não foram encartadas na lei, a União pode exigir essas e outras que não estavam na lei”.

PLANO B
“Não há plano B. O Plano é esse que estamos implementando. Jamais afirmei que tão logo eu assumisse o céu ficaria azul”.

DIÁLOGO COM O CONGRESSO
“Uma das chaves do nosso governo é a palavra diálogo. O Executivo não governa sozinho, governa com apoio do Legislativo. Nós propusemos o teto dos gastos públicos, sendo certo que os orçamentos seriam revisáveis apenas pela inflação do ano anterior. Seria muito confortável passar esses dois anos na Presidência sem mexer nos temas polêmicos, como aparentemente era o tema dos gastos. Mas foi tão confortável tratar desse tema, que a medida foi aprovada com quórum expressivo na Câmara e no Senado”.

EMPREGO
“Ao lado do chamado diálogo, colocamos no governo a ideia de uma conexão de responsabilidade fiscal com responsabilidade social. Significa fazer com que retome o emprego. Para isso, tem que sair da recessão, retomar o crescimento e a empregabilidade. Digo com frequência que um dos primeiros fundamentos da constituição é a dignidade da pessoa humana. E nada mais indigno que o desempregado, que se sente excluído”.

PROGRAMAS SOCIAIS
“Parece que só há preocupação com a economia, mas também ligamos para questões sociais. Há muito tempo não se revalorizava, e nós revalorizamos em 12%. Parece pouco, mas são R$ 300 milhões que circularão por mercadinhos. No caso do “Minha Casa Minha Vida", ainda ontem (quarta-feira) eu estava em Mogi das Cruzes entregando 450 casas, mas simbolicamente eram 40 mil casas que entregamos este mês. E no orçamento há uma previsão de cerca de 500 a 600 mil casas em 2017.

 E falo do programa que implantamos, que é o Cartão Reforma, que abre possibilidade para quem ganha menos de R$ 1.800 para fazer uma pequena reforma. Movimenta o setor de produção de materiais de construção”.

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