domingo, 25 de setembro de 2016

Opinião do dia – Fernando Henrique Cardoso

Vê espaço para um levante no qual os insatisfeitos com o impeachment se somem aos afetados pela crise, aos descontentes com as reformas...?
Os assolados pela crise ainda não se manifestaram. Quem esteve na rua antes foi outro tipo de gente e quem está agora é militância. Com essa grande massa não houve conexão. Pode haver? Pode. É perigoso? É.

Há como evitar isso?
Tem que conversar o tempo todo com a sociedade. Dizer que é em nome de um país mais equânime, com menos privilégios. Não pode descer goela abaixo as medidas de austeridade.

É preciso insistir em valores que não são do mercado, são das pessoas. Se não explicar que a tragédia deriva dos erros do governo anterior, vai cair na cabeça dele. Já, já o PT vai começar a gritar que é culpa do Temer.

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Fernando Henrique Cardoso é sociólogo, foi presidente da República, entrevista à Folha de S. Paulo, 25/9/2016

TCU sugere bloqueio de bens de Dilma

• Relatório do Controle Externo analisou responsabilidades na compra de Pasadena

- O Globo

Relatório produzido pelo secretário de Controle Externo da Administração Indireta do Tribunal de Contas da União (TCU), Luiz Sérgio Madeiro, sugere o bloqueio dos bens da ex-presidente Dilma Rousseff e outros ex-diretores do Conselho de Administração da Petrobras no período em que a estatal comprou 50% da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. O relatório de Madeiro diverge do parecer da equipe de auditores que analisou o caso, e concluiu pela não responsabilização dos ex-integrantes do Conselho, conforme noticiou o jornal “O Estado de S. Paulo”.

A partir de agora, caberá ao ministro Vital do Rego, relator do caso, decidir se acolhe as sugestões do secretário ou da auditoria. Se quiser, o ministro poderá apresentar um terceiro relatório, diferente dos dois outros já elaborados. Depois de concluído, o relatório do ministro terá ainda que ser aprovado pelo plenário do tribunal. Segundo a assessoria do TCU, não há prazo determinado para a o encerramento das análises e decisão final sobre o assunto, que já foi tratado de deliberações anteriores.

A missão de Padilha para conter o ‘Fora Temer’

• Um dos conselheiros mais próximos do presidente, Eliseu Padilha cuida da comunicação do governo à reforma da Previdência

Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Passava de 13 horas quando uma frase do ex-presidente Juscelino Kubitschek encerrou a palestra na Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), no último dia 19, em São Paulo. “Creio na vitória final e inexorável do Brasil”, dizia o mineiro sorridente, encarnado no Power Point com um chapéu na mão. Animado com os aplausos, o palestrante arrematou: “Eu espero que tenha conseguido substituir à altura o ministro José Serra”.

A modéstia exibida diante daquela plateia de empresários pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, não condiz com seu poder no governo. Convidado na última hora para falar sobre os desafios do País pós-impeachment, no lugar do chanceler Serra – escalado para acompanhar o presidente Michel Temer na viagem a Nova York –, Padilha encaixou o compromisso na apertada agenda e só retornou a Brasília às 22 horas.

Principal tendência do PT contesta posição de Lula sobre eleição na sigla

Catia Seabra – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Maior força interna do PT, a CNB (Construindo um Novo Brasil) está contestando, formalmente, seu mais ilustre integrante: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Após uma série de reuniões internas, dois representantes da corrente divulgaram um documento em que acusam de caciquismo os autores da proposta de realização de um congresso interno para a escolha da nova direção do partido.

A ideia foi apresentada pelo presidente do PT, Rui Falcão, há 15 dias, com o endosso da esquerda do partido. Segundo petistas, Lula está entre seus apoiadores e não rejeitou a proposta quando discutida em reunião, em Brasília, com senadores e deputados petistas. O ex-presidente prega a "oxigenação" do PT.

PT sofre para manter poder em berço de Lula

• Em São Bernardo do Campo, campanha foca mais na atual gestão petista do que na imagem do ex-presidente

Sérgio Roxo - O Globo

Depois de oito anos no poder, o PT sofre para manter o comando de São Bernardo do Campo, berço político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do partido. Com poucos recursos e um estreante em eleições, a legenda aposta numa arrancada na reta final da disputa para ir ao segundo turno, enquanto os dois principais adversários, veteranos em pleitos na cidade, duelam pelo título de “maior antipetista”.

Com Lula desgastado pelas investigações da Lava-Jato, restou ao escolhido do PT, Tarcisio Secoli, apoiar a candidatura muito mais na gestão do atual prefeito, Luiz Marinho, do que na imagem do líder petista. Até agora, o ex-presidente não participou de nenhuma atividade da campanha e também não tem evento previsto na cidade até o próximo domingo, dia da eleição, apesar da amizade com o candidato — nos tempos de Lula no Planalto, Tarcisio era frequentador assíduo dos churrascos na Granja do Torto.

A mudança de rumo que os dois principais adversários de Tarcisio — Alex Manente (PPS) e Orlando Morando (PSDB) — planejam para a cidade pode ser simbolizada na intenção de acabar com o Museu do Trabalhador. A obra, com orçamento de mais de R$ 21 milhões, se arrasta desde 2012 e já teve o prazo original de conclusão estourado. Conhecido em São Bernardo como “Museu do Lula”, a ideia dos opositores ao PT é evitar um monumento que enalteça o ex-presidente. O projeto prevê a criação de um espaço para homenagear o movimento sindical e, como consequência, Lula.

Um destino que se mistura com o declínio do PT

• Candidato à reeleição, prefeito de São Paulo vê sua candidatura naufragar em ritmo semelhante ao de seu partido

Sérgio Roxo - O Globo

Ser ou não ser petista. Esse é o dilema que o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, vive em sua tentativa de reeleição. Com medo de ser contaminado pelo desgaste da legenda, reduziu o tamanho da estrela símbolo do partido e tirou a palavra PT do seu material de propaganda. Ao mesmo tempo, bate no peito para dizer que está há 30 anos no mesmo partido e que deve seu mandato à militância petista.

O padrinho político e principal cabo eleitoral de 2012, o ex-presidente Lula, também até agora não apareceu no horário eleitoral. A estratégia, por enquanto, não rendeu dividendos eleitorais. Passados mais de 35 dias de campanha, Haddad apenas oscilou nas pesquisas de intenção de voto (hoje tem 10% no Datafolha). E o que é pior não conseguiu se conectar com o eleitorado simpatizante do partido.

O desafio de cortar na carne

• Encarregados de promover mudanças em seu próprio quintal, os políticos têm o dever de pensar no interesse comum e transformar o modo de fazer política no País

José Fucs – O Estado de S. Paulo

O estudante paulistano Guilherme Romão se diz “desiludido” com a política e os políticos do País. Aluno do último ano do curso de Direito na PUC de São Paulo e estagiário de um escritório de advocacia, Romão, de 23 anos, conta que, nas três eleições em que cumpriu a obrigação cívica do voto, procurou escolher candidatos que realmente o representassem e pudessem contribuir para elevar o nível do debate e melhorar a gestão pública. O resultado, porém, não foi o que ele esperava. “O que mais me desanima é a corrupção e a sensação de que os políticos estão sempre pensando em se favorecer ou em favorecer um partido, nunca a sociedade”, afirma. “Eu até acredito que existam políticos que levem a política a sério, mas o sistema acaba sendo mais forte que as boas intenções.” Ainda assim, Romão não perdeu a esperança de que a forma de se fazer política no País possa mudar, ao contrário de alguns de seus colegas de faculdade, que dizem acreditar que o Brasil “não tem jeito”. “Tem de existir um caminho”, afirma. “Só que eu não sei qual é.”

Parlamentarismo e voto distrital devem ficar para depois

• Para facilitar a aprovação de reforma no Congresso, os dois temas não são prioritários na agenda

José Fucs - O Estado de S. Paulo

Elas não estão entre as propostas prioritárias da agenda política no momento. Mesmo que estivessem, provavelmente não passariam pelo crivo do Congresso Nacional, por não ter apoio suficiente, ameaçar privilégios ou contrariar interesses eleitorais dos parlamentares ou dos grupos ligados a eles. Mas, se fossem implementadas, poderiam provocar uma mudança considerável na forma de se fazer política no Brasil.

Entre as propostas em tramitação em Brasília, com alto potencial de transformação da vida política do País, a adoção do parlamentarismo como sistema de governo é a mais “revolucionária”. O debate voltou à tona nos últimos tempos com o aprofundamento da crise política que resultou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. No momento, há três Propostas de Emenda Constitucional (PEC) em tramitação no Senado Federal para adoção do parlamentarismo. Há também uma PEC do ex-deputado Eduardo Jorge (PV), que está parada no Supremo Tribunal Federal (STF) desde 1997, por causa de uma ação do então deputado Jaques Wagner (PT), que questionou a sua inconstitucionalidade por alterar o sistema de governo sem consulta popular.

País vai às urnas com milhares de candidaturas indeferidas

• Políticos continuam na disputa graças a recursos ainda não julgados

A uma semana do pleito, são 13.856 candidatos nessa situação. Se forem condenados em definitivo, não poderão exercer mandatos. TSE admite que dificilmente conseguirá julgar todos os casos no prazo

Faltando uma semana para as eleições, 13.856 candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador continuam na disputa, mesmo com registros cancelados ou negados pela Justiça. Eles entraram com recursos e poderão ser votados, mas não terão condições de exercer os mandatos, se eleitos, conta Juliana Castro. A palavra final deverá ser do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que recebeu só 91 recursos até agora, devido à redução dos prazos de campanha. Nesse mesmo período em 2012, havia recebido 5 mil. O presidente do TSE, Gilmar Mendes, admite que pode não haver tempo de julgar todos até a diplomação dos eleitos, em dezembro, deixando o resultado sub judice, sem que os eleitores saibam quem foi o vencedor.

A incerteza de uma eleição sub judice

• Com campanha mais curta, país irá às urnas com milhares de candidaturas penduradas na Justiça Eleitoral

Juliana Castro - O Globo

O primeiro turno das eleições municipais, no próximo domingo, terá a participação de milhares de candidatos cujos registros foram negados ou cancelados pela Justiça Eleitoral, mas seguem na disputa apoiados em recursos ainda não analisados. Até o momento, 13.856 postulantes a prefeito, vice-prefeito e vereador estão nessa situação. Eles até poderão receber votos para vencer, mas não é certo que exercerão os mandatos para os quais foram eleitos.

Em todos os casos, os candidatos foram rejeitados por alguma irregularidade que, em tese, os impediria de concorrer. Juízes eleitorais de primeira instância invalidaram os registros de candidatura, mas eles aguardam que seus recursos sejam julgados nos tribunais regionais eleitorais (TREs) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Sem uma decisão definitiva, todos aparecerão com a votação zerada no sistema de apuração na noite de 2 de outubro. No entanto, saberão os votos que receberam porque o número é divulgado em paralelo.

Entrevista. FHC: Lula vive momento delicado, não jogarei pedra

• 'Desastre' na economia dificulta nome do governo para 2018, afirma Cardoso

Com quadro atual, Meirelles não será o 'FHC de Temer', diz o próprio FHC

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) faz um diagnóstico pessimista a quem pretende usar a gestão de Michel Temer para se projetar e recolher dividendos nas eleições de 2018.

"Não vejo que o governo tenha como tirar proveito [eleitoral] dessa situação em dois anos", disse, em entrevista à Folha.

Nem o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, poderia se projetar organizando a economia e repetindo fórmula lançada pelo próprio FHC, em 1993, ao assumir a pasta durante o tormentoso governo de Itamar Franco?

"Não creio. E não é que haja uma diferença entre mim e Meirelles. É a situação." Para o tucano, mesmo que o ministro consiga sensibilizar a sociedade, ele só irá expor "sangue, suor e lágrimas".

FHC diz que Temer precisa olhar apenas para a história e vê fadiga de material na política. Instado a citar um líder, não achou ninguém.

• Folha - O PSDB se tornou "censor" do governo?
Fernando Henrique Cardoso - O que o PSDB fez? Uma vez que não tinha alternativa senão apoiar o impeachment –era óbvio que era inevitável–, teve que assumir uma responsabilidade. Acho que fez bem ao condicionar isso a que o governo atue [segundo uma agenda].

Psicodramas - Fernando Gabeira

- O Globo

Grão Mogol, Minas — De novo na estrada, e o intenso trabalho ao ar livre é o antídoto para a tristeza de ver não só o momento econômico, mas também a longa agonia do sistema político brasileiro. Não são animadoras as notícias que vêm de esquerda, direita e centro. Em toda parte, os parâmetros políticos são subvertidos. Lula, por exemplo, fez um pronunciamento para anunciar que era candidato. Comparou-se a Jesus Cristo e insultou numa só frase todos os funcionários públicos concursados do Brasil.

Os admiradores fazem vista grossa. Os livros do século passado definem a classe operária como a eleita para transformar a História. Eles querem um presidente operário, ainda que delirando. Lula disse coisas que contrariam o mais elementar senso político. A única saída é colocá-lo à força no modelo marxista e, sobretudo, não levar em conta o que diz. No fundo é adotar a mesma tática que adotei quando disse que Lula tinha habeas língua. Buscar um sentido é perder tempo.

Um país onde a justiça varia não pode ser considerado democrático – Ferreira Gullar

- Folha de S. Paulo

Aquela foi uma semana marcada por importantes acontecimentos. Começou com a cassação do mandato de Eduardo Cunha por um escore arrasador, seguiu-se a posse de Cármen Lúcia na presidência do Supremo Tribunal Federal, depois as acusações contra Lula por procuradores da operação Lava Jato e finalmente a resposta do ex-presidente negando fundamento às acusações.

A maneira como aquelas acusações foram feitas não pegou bem, e pior é que, como este jornal divulgou, elas se apoiam numa delação que foi cancelada.

Quero me ater, no entanto, à significação que tem para o país a presença da ministra Cármen Lúcia na presidência do STF, conforme constatamos nas mais diversas manifestações de apoio e otimismo pelo acontecimento. E, se ele já valeu por si só, cabe ressaltar a significação da cerimônia de posse em si mesma.

Direitos e deveres – Merval Pereira

- O Globo

O combate à corrupção no Brasil está entrando em uma fase delicada, em que a defesa de interesses escusos se mistura com a de garantias de direitos individuais e das empresas privadas, abrindo um debate que pode ser rico para o aperfeiçoamento de nossas instituições. Um mau sinal é que essas reações se avolumam à medida que a força da lei se aproxima da classe política.

A tentativa de legislar sobre o caixa 2 eleitoral para tipificá-lo como crime específico tinha, na verdade, a intenção, compartilhada pelos líderes dos maiores partidos no Congresso, de favorecer a interpretação de que o que aconteceu antes da nova lei não poderia ser classificado de crime, mas infração eleitoral sujeita a multas, e não a cadeia. Como candidamente afirmou um dos principais ministros de Temer, sem ser admoestado de maneira a não deixar dúvida de que o Palácio do Planalto nada tinha a ver com aquela conversa.

Fatiamento da crise - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

• Dilma, Lula, PT, Mantega, Lava Jato, Temer, quem vai conseguir se salvar?

Por onde começar? São tantos escândalos, nomes, empresas, erros... Lula vai ser preso? Dilma caiu na rede? O PT tem ou não jeito? Moro e a Lava Jato estão botando os pés pelas mãos? E Temer, a quantas anda? Então, vamos por partes.

O ex-presidente Lula tornou-se réu pela segunda vez, agora nas mãos do juiz Sérgio Moro e arrastando com ele Marisa Letícia. De quebra, o juiz determinou o exame das peças que a família levou de Brasília para o depósito bancado pela OAS. São de Lula ou do acervo da Presidência?

Dilma Rousseff escorrega por mais de uma via para a Lava Jato. Como informa o repórter Fábio Fabrini, novo relatório do TCU pede o bloqueio de bens, entre outros, dela e de Antonio Palocci pela refinaria de Pasadena, que causou imensos prejuízos à Petrobrás e ao País. E o ministro Guido Mantega, do Conselho de Administração da Petrobrás, é acusado de pedir dinheiro a Eike Batista, que tinha contratos bilionários com a empresa, para pagar dívidas de campanha de Dilma.

Janot foca no PMDB - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

• Embora amparado pela Constituição, é um enorme constrangimento para o presidente Michel Temer ter sido citado na Lava-Jato

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, mudou o foco das investigações da Operação Lava-Jato em nível federal do PT para o PMDB, ao conseguir autorização do ministro-relator do caso no Supremo Tribunal Federal, Teori Zavaski, para abertura de procedimentos preliminares da delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Entraram na alça de mira do Ministério Público Federal 28 políticos de oito partidos (PMDB, PT, PP, PCdoB, DEM, PDT e PSB), mas o principal alvo é o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O presidente da República, Michel Temer também é citado, mas, segundo a Constituição, não pode ser investigado por fatos anteriores ao exercício do mandato enquanto exercer o cargo.

Próximos passos - Míriam Leitão

- O Globo

• São os fatos, e não o MP, que conspiram contra Lula.

Quando houve o mensalão, a maioria do país acreditou no que o então presidente Lula disse: que fora traído e de nada sabia. E assim ele se reelegeu. Na Lava-Jato, é impossível usar o mesmo ilusionismo, então Lula se transforma em vítima, não dos amigos e assessores, mas dos procuradores que “futucam”. A operação continuará em atividade, apesar das celeumas, porque há muitos campos de trabalho.

Lula continua um grande estrategista. Diz que ninguém o bate no Brasil, exceto Jesus Cristo, e assim seus interlocutores se esquecem que ele perdeu três eleições presidenciais. Ele se coloca como candidato em 2018 com dois propósitos. O primeiro é de se fazer vítima de perseguição política. O segundo é que ele sabe que o poder se alimenta do futuro do poder. Portanto, se houver uma chance de ele voltar a ser presidente, será olhado com mais reverência pelos que circulam em torno dos governos no Brasil.

Muito além da arrumação das contas - Rolf Kuntz,

- O Estado de S. Paulo

• Não basta conter: é preciso racionalizar o gasto público e revalorizar a eficiência

A grande promessa do presidente Michel Temer, tirar o Brasil do atoleiro e abrir caminho para a volta ao crescimento seguro, continua encerrada no mundo das palavras. Ele ainda precisa vencer o primeiro obstáculo político. Tem de conseguir a aprovação, no Congresso, do teto para aumento do gasto público. Esse limite está previsto na Proposta de Emenda Constitucional (PEC) n.º 241. Se a mudança for aprovada, o aumento da despesa total será limitado pela taxa de inflação do ano anterior. Não haverá, portanto, elevação real do dispêndio. Componentes do Orçamento, como educação e saúde, poderão crescer além do teto, mas para isso será preciso reduzir outros itens. Administradores e políticos, tanto do Executivo quanto do Legislativo, poderão mostrar suas verdadeiras prioridades e seu compromisso com os valores alardeados. É fácil defender belos objetivos – em geral mais associados à gastança que a resultados – quando os limites políticos do Orçamento são mais elásticos.

Eleição fantasma - Dora Kramer

- O Estado de S. Paulo

• Situação do PT nos três maiores colégios eleitorais dá a medida de sua derrocada

Ano atípico este de 2016. Impeachment presidencial, cassação do mandato de um presidente da Câmara, prisões, delações, Lula acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e obstrução de Justiça, meio mundo político na mira da Lava Jato, suspeita de que ministro comandava a economia enquanto arrecadava fundos “por fora” para o PT. Com tudo isso e muito mais, a campanha eleitoral passou praticamente em branco no cenário nacional.

Quando a gente se dá conta de que a eleição de prefeitos e vereadores é daqui a uma semana, soa muito repentino. Já? Pois é. O rebuliço reinante na República atraiu todas as atenções e deixou em segundo plano a movimentação dos aspirantes a administradores do nosso cotidiano. Das decisões dos eleitos dependerá o maior ou menor grau de conforto ou desconforto na vida das cidades e de seus habitantes. Portanto, o voto de domingo próximo é crucial para o próprio bem (ou mal) do eleitor.

Novo homem novo – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

A eleição para a Prefeitura de São Paulo consagrou um candidato que nunca havia sido testado nas urnas. Ele começou atrás nas pesquisas, mas decolou na carona da popularidade do padrinho. Depois de ser chamado de poste, deixou no escuro todos os políticos tradicionais que o esnobavam.

O enredo da vitória de Fernando Haddad em 2012 ensaia se repetir quatro anos depois. O poste da vez é o tucano João Doria, que acaba de assumir a liderança da corrida paulistana. Ele chegou a 25% das intenções de voto no Datafolha. Se mantiver a curva ascendente, deverá disputar o segundo turno contra Celso Russomanno ou Marta Suplicy.

Uma eleição em tempos de festas e crises – Editorial / O Globo

• Numa campanha curta, o que é positivo, o eleitor precisa ter cuidado diante de propostas sedutoras, embaladas em populismo, inexequíveis por definição

Numa campanha mais curta — o que não é mau —, os candidatos precisam ter maior capacidade de estabelecer uma sintonia fina com o eleitorado. Mas talvez não seja por isso que as pessoas ainda estejam pouco mobilizadas em torno da disputa para a prefeitura do Rio. Deve-se considerar que não apenas a cidade, mas todo o país, acaba de sair do longo e estressante processo que foi a tramitação do impeachment de Dilma Rousseff. Parece haver uma ressaca de embates políticos.

Uma eleição melancólica – Editorial / O Estado de S. Paulo

Causa profunda decepção perceber que, às vésperas da votação para a escolha do novo prefeito de São Paulo, nenhum candidato tenha se mostrado realmente à altura do enorme desafio de governar esta cidade. As semanas de campanha revelaram um nível de mediocridade poucas vezes visto na história paulistana, com os postulantes engalfinhando-se por irrelevâncias, que só dizem respeito ao embate político dos caciques partidários, totalmente indiferentes ao destino de São Paulo. Decerto desencantados, os moradores, que esperavam ouvir propostas sérias para resolver os inúmeros problemas locais, terão agora de se esforçar para escolher o candidato menos ruim.

Infelizmente, São Paulo revelou-se, nesta eleição municipal, um microcosmo da política nacional. Naquela esfera, como se sabe, vem triunfando, há mais de uma década, além do fisiologismo e da corrupção, o profundo descompromisso com o interesse nacional. Certos políticos parecem trabalhar apenas para si mesmos, de acordo com uma rasteira contabilidade de ganhos e perdas pessoais. Para que o saldo dessa conta seja sempre positivo, mente-se compulsivamente, recorre-se ao gangsterismo puro e simples, pisoteia-se a verdade.

De dentro e de fora – Editorial / Folha de S. Paulo

A Lava Jato nunca viveu sob tanto risco quanto agora. Sofre ameaças externas, como seria de esperar, mas também internas, o que provoca consternação e surpresa.

No campo da política, a manobra vergonhosa quase levada a cabo na segunda-feira (19) atesta quão longe os congressistas se dispõem a ir no intuito de esterilizar as investigações. Por muito pouco não terminou aprovado um projeto cujo objetivo era simplesmente anistiar caixa dois praticado até agora.

A despeito da repercussão negativa do episódio, o ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) se sentiu à vontade para defender o perdão. "Esse debate tem que ser feito sem medo, sem preconceito, sem patrulha e sem histeria", afirmou ao jornal "O Globo" o articulador político da administração Michel Temer (PMDB).

Supremo sinaliza aval à reforma trabalhista – Editorial / O Globo

• Em pelo menos duas decisões, ministros do STF consideraram válidos acordos feitos entre patrões e empregados, mesmo em sentido contrário à CLT

Estabelecido pelo governo que, entre as reformas, a criação do teto para as despesas públicas e a atualização da Previdência são prioritárias — a emenda do limite máximo anual dos gastos já tramita na Câmara —, a proposta de modernização das normas que regulam as relações de trabalho ficou para o ano que vem.

Empresários não gostaram, mas é mesmo urgente tomar medidas que comecem a dar garantia de que o Brasil conseguirá reverter a tendência de quebra do Tesouro, um processo de insolvência cujo avanço é medido pelo aumento do peso da dívida pública no PIB. Que deve chegar a perigosos 70% este ano, depois de ter sido 55% em 2006. E não para de subir.

A uma Bailarina - Paulo Mendes Campos

Quero escrever meu verso no momento
Em que o limite extremo da ribalta
Silencia teus pés, e um deus se exalta
Como se o corpo fosse um pensamento.

Além do palco, existe o pavimento
Que nunca imaginamos em voz alta,
Onde teu passo puro sobressalta
Os pássaros sutis do movimento.

Amo-te de um amor que tudo pede
No sensual momento em que se explica
O desejo infinito da tristeza,

Sem que jamais se explique ou desenrede,
Mariposa que pousa mas não fica,
A tentação alegre da pureza.