quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Ata do Copom reforça aposta de redução mais rápida de juros

• Analistas esperam cortes de 0,5 a 1 ponto nas próximas reuniões

Bárbara Nascimento | O Globo

-BRASÍLIA E DAVOS (SUÍÇA)- O atual cenário econômico é favorável a uma antecipação do ciclo de queda dos juros. Essa foi a avaliação do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, durante sua reunião da semana passada, quando reduziu a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual, para 13% ao ano. Para especialistas ouvidos pelo GLOBO, com a inflação ancorada e a atividade econômica fraca, o BC sinalizou estar confiante para continuar a reduzir a taxa com mais fôlego, ainda neste semestre. A expectativa é que a autoridade monetária mantenha a tendência iniciada na última reunião e deixe de lado as diminuições tímidas da Selic, com um corte que pode ir de 0,50 ponto até 1 ponto.

O Copom destacou que o corte nos juros favorece a retomada da economia sem prejuízo para o objetivo de convergir a inflação para o centro da meta, de 4,5%, até 2018. No cenário de referência utilizado pelo BC, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiria 4% este ano. Ontem, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, afirmou, no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, que a política monetária não é a única ferramenta para retomar a atividade:

— Ela complementa outras políticas do governo e reformas estruturais que estão sendo implementadas.

Na semana passada, o Copom surpreendeu os analistas, que esperavam um corte de 0,5 ponto. As áreas econômicas dos grandes bancos, como Bradesco e Itaú, apostam que o comitê manterá os cortes de 0,75 ponto nas próximas reuniões. Já o boletim Focus divulgado na última segunda-feira aponta uma redução de 0,5 ponto.

“Dado o cenário de atividade econômica fraca e inflação convergindo para a meta, acreditamos que o Copom irá cortar a taxa Selic novamente em 0,75 p.p. nas próximas duas reuniões”, afirma o Itaú Unibanco em relatório.

— Parece que, definitivamente, esse ritmo de corte veio pra ficar. Com a expectativa de inflação ancorada, a preocupação passa a ser a atividade. Então, o BC quer reduzir a taxa o mais rapidamente possível para ajudar a economia — completa a sócia da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro, que espera cortes de pelo menos 0,75 ponto pelas próximas quatro reuniões.

Na ata, os diretores do BC ponderam que possíveis revisões na magnitude dos cortes dependerão das expectativas de inflação e da evolução de uma série de fatores de risco, entre eles as pressões internas e o direcionamento da política econômica americana com Donald Trump, que assume na sextafeira. “A extensão do ciclo e possíveis revisões no ritmo de flexibilização continuarão dependendo das projeções e expectativas de inflação e da evolução dos fatores de risco mencionados acima”, diz o texto.

— Existe uma série de condicionantes para determinar o comportamento na próxima reunião. Um grande risco é o cenário externo, que pode alterar os parâmetros utilizados pelo BC. Mas este sinaliza que está mais confortável em reduzir os juros — afirma o economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho.

ATIVIDADE FRACA E INFLAÇÃO EM QUEDA
Na avaliação do BC, o desempenho da economia continua “aquém do esperado” e com “alto nível de ociosidade dos fatores de produção”, que se refletem no baixo índice de utilização da capacidade industrial e, principalmente, na taxa de desemprego. Esse cenário sugere, segundo o Copom, que a retomada será ainda mais lenta do que o inicialmente previsto. Por outro lado, uma atividade econômica fraca favorece a queda da inflação, o que colabora para uma redução mais rápida dos juros.

“A frustração com a economia colocou-se como principal fator para a decisão do Copom de aceleração do ritmo de corte da taxa de juros, em ambiente com evidências de desinflação mais disseminada e ancoragem das expectativas. Segundo o BC, a decisão contribuirá para a estabilização e para a recuperação da economia à frente”, avaliou o banco Bradesco, em nota.

Alessandra Ribeiro, da Tendências, destaca que há um intervalo para que a redução efetiva da Selic impacte a atividade econômica. Geralmente, explica, ele é de seis a nove meses:

— Mas há uma percepção de que, neste momento da economia, esse efeito possa ser um pouco mais demorado. Ainda há essa dúvida.

Apesar da recente queda dos indicadores de inflação — o IPCA fechou 2016 abaixo do teto da meta, em 6,29% —, o comitê ponderou que alguns componentes desse índice são mais sensíveis ao ciclo econômico e requerem atenção contínua. O BC aponta ainda como risco a demora natural na aprovação e implementação das reformas encabeçadas pelo governo e as incertezas no cenário externo, sobretudo nos Estados Unidos.

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