sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Comoção Choque e apelo por investigação

• Temer cita ‘trajetória impecável’ de Teori; Ajufe pede apuração ágil sobre acidente

André de Souza, Carolina Brígido, Eduardo Barretto, Leticia Fernandes e Maria Lima | O Globo

-BRASÍLIA- A tristeza tomou conta ontem do usualmente frio Supremo Tribunal Federal (STF). Funcionários que lidavam diretamente com o ministro eram vistos chorando quando entravam ou saíam do gabinete onde Teori Zavascki despachava. Além do clima de lamentação, a Associação dos Juízes Federais (Ajufe), cobrou a investigação sobre as causas do acidente de avião.

De Portugal, onde passa férias, o ministro Gilmar Mendes, colega de Teori no STF, chorou ao conversar sobre o assunto.

— Eu não tenho a menor condição de falar agora. Eu era amigo dele. Estou muito arrasado. Já estou voltando ao Brasil e aí falo com vocês (imprensa) — disse por telefone.

A presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, estava no aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, de onde seguiria para o interior de Minas Gerais para visitar o pai, quando soube da morte de Teori. Ela foi informada por Marcio Schiefler, juiz que auxiliava o ministro na Lava-Jato.

— Ela é muito sóbria, mas está arrasada. Tinha uma relação absolutamente próxima com o Teori — disse uma assessora da ministra.

Em nota, Cármen Lúcia classificou Teori como “um dos mais brilhantes juízes do país”. Segundo ela, o trabalho de Teori “permanecerá para sempre, e a sua presença e o seu exemplo ficarão como um rumo do qual não nos desviaremos, cientes de que as pessoas morrem, suas obras e seus exemplos, não".

O presidente Michel Temer, que estava em audiência com o senador José Medeiros (PSD-MT) quando soube da notícia, ficou chocado, segundo parlamentar. “Meu Deus do céu. O ministro Teori estava em um avião que caiu em Paraty”, disse o presidente. Em pronunciamento, Temer decretou luto oficial de três dias. Ele deverá ir ao velório, que vai acontecer em Porto Alegre, a pedido da família de Teori.

— Associo-me a todos os brasileiros ao lamentar a perda de um homem público, cuja trajetória impecável a favor do direito e da Justiça sempre o distinguiram. O ministro Teori Zavascki era um homem de bem e era um orgulho para todos os brasileiros — afirmou.

A ex-presidente Dilma Rousseff, que indicou Teori para a Corte, lamentou, em nota, a morte do ministro. “Hoje perdemos um grande brasileiro. Como juiz e cidadão, Teori se consagrou como um intelectual do direito, zeloso das leis e da Justiça", afirmou.

AJUFE COBRA INVESTIGAÇÃO
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, chamou de “inegável e inquestionável” a contribuição de Teori ao Estado Democrático de Direito. O juiz Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava-Jato em primeira instância, afirmou que estava “perplexo” com a morte do ministro. “Foi um grande magistrado e um herói brasileiro. Exemplo para todos os juízes, promotores e advogados deste país. Sem ele, não teria havido a Operação Lava-Jato. Espero que seu legado, de serenidade, seriedade e firmeza na aplicação da lei, independente dos interesses envolvidos, ainda que poderosos, não seja esquecido”.

Em outro comunicado, os procuradores da força-tarefa da operação afirmaram que Teori teve uma trajetória profissional marcada pela “lisura e seriedade”. Os investigadores disseram ainda que a “atuação firme na relatoria da operação honrou o Supremo e foi um louvável serviço prestado ao país".

O ex-ministro do STJ Gilson Dipp, amigo de Teori, destacou a coerência do ministro:
— Sempre foi um homem sensato, coerente, sério. Comprometido com a legalidade. Não era de muita discussão — lembrou Dipp.

Já o presidente da Ajufe, Roberto Veloso, afirmou, em nota, que o “STF e o Brasil perdem um magistrado culto, sério, honesto e cumpridor de seus deveres" e cobrou a apuração rigorosa do acidente. “Diante das altas responsabilidades a ele atribuídas, em especial a condução dos processos da Lava Jato no STF, é imprescindível a investigação das circunstâncias nas quais ocorreu a queda do avião em que viajava”. (Colaboraram Chico Otávio e Dimitrius Dantas)

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