segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Crédito dá sinais de reação e deve apoiar expansão do PIB – Editorial | Valor Econômico

Depois de registrar a maior contração desde a edição do Plano Real, em 1994, o mercado de crédito bancário começa a emitir os primeiros sinais de estabilização. Essa é mais uma estatística que indica que a recessão está no fim e que, com alguma sorte, o Produto Interno Bruto (PIB) voltará a se expandir ainda neste primeiro trimestre.

Em dezembro, o estoque de crédito bancário aumentou 0,1%, na comparação com novembro, segundo dados do Banco Central. Foi uma alta modesta, mas é o segundo número positivo seguido nas estatísticas mensais. Em 2016, o volume de crédito bancário recuou 3,5%.

Os spreads bancários, que representam a diferença entre os custos médios de captação dos bancos e os juros médios cobrados dos clientes, apresentaram em dezembro a maior queda mensal desde fins de 2012. O estoque de financiamentos de veículos ficou estável, após uma queda livre que durou 23 meses. As linhas de capital de giro de curto prazo estão sendo restabelecidas e o crédito imobiliário começa a se expandir com mais vigor.

A melhora nas condições de crédito ocorreu pouco depois de o Banco Central começar um ciclo de afrouxamento monetário, com cortes modestos na taxa de juros em outubro e novembro, de 0,25 ponto percentual cada. Muitos vão argumentar que, se o BC tivesse cortado os juros mais cedo, o crédito já teria crescido mais. A realidade é que o afrouxamento monetário só ajuda a alavancar o crédito se for sustentável.

Muito antes de o BC cortar os juros, os custos de captação dos bancos já vinham caindo, refletindo a melhora na percepção de risco do mercado financeiro. Mas, em um primeiro momento, os bancos não repassaram esses ganhos para os clientes. Só houve a queda consistente dos spreads bancários, em dezembro, depois que a batalha para domar as expectativas de inflação estava bem encaminhada.

Os efeitos devem ser potencializados nos próximos meses, depois que o Banco Central intensificou o ritmo de cortes de juros, com baixa de 0,75 ponto percentual. De forma geral, os bancos, com exceção das instituições financeiras oficiais, têm níveis confortáveis de capital. O índice médio de inadimplência, em 3,7%, é moderado.

Ainda há muita gordura nos juros bancários para ser cortada nos próximos meses. Em dezembro, o "spread" médio do crédito bancário foi de 22,5 pontos percentuais. Apesar da expressiva queda em relação ao mês anterior, de 1,1 ponto percentual, ainda segue bem acima da mínima histórica. O spread chegou a 13,8 pontos em dezembro de 2013.

Não apenas os preços, mas também as quantidades dão sinais de recuperação no mercado de crédito. Um bom exemplo é o que ocorre nos financiamentos de veículos. Esse mercado viveu uma verdadeira euforia até 2010, impulsionado pelo aperfeiçoamento da alienação fiduciária e pelo aumento da renda da população. Como costuma ocorrer nos "booms", houve excessos, como financiamentos com prazos maiores que cinco anos. A partir de 2011, os índices de inadimplência subiram.

Os bancos levaram alguns anos digerindo os maus negócios e a situação se agravou com a recessão, que retraiu as vendas domésticas de veículos. Em fins de 2016, porém, as concessões de crédito para aquisição de veículos começaram a ganhar força. Em dezembro, as novas operações contratadas foram suficientes para repor os vencimentos de empréstimos antigos.

O crédito bancário deixa a UTI justamente quando a economia dá sinais de estabilização. Em dezembro, houve alta de 5% na produção de veículos, pelos dados dessazonalizados, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Outros dados antecedentes, como produção de papelão ondulado e pedágios de veículos pesados nas rodovias, tiveram dados positivos. "De fato, tivemos uma inflexão (do crescimento) para valer", disse o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles ao Valor.

Ao contrário do ciclo econômico passado, no entanto, o crédito não deverá ser o motor que vai puxar o crescimento. A capacidade de endividamento das famílias segue limitada pela queda da renda e os altos níveis de desemprego. Mas o crédito poderá ajudar a sustentar a atividade econômica assim que ela entrar em trajetória de expansão.

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