domingo, 15 de janeiro de 2017

Eleição na Câmara polariza base de Temer

• Maia garante apoio de partidos, enquanto Jovair busca deputados; PT discute apoio por vaga na Mesa

Isabel Braga | O Globo

-BRASÍLIA- A 17 dias da volta do Congresso aos trabalhos, a eleição presidencial na Câmara se polariza entre dois candidatos da base aliada do governo Michel Temer: o atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que o Palácio do Planalto deixa claro ser seu nome preferido, e o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), integrante do centrão, que se lançou na última semana em evento com discursos de independência em relação ao Executivo.

Até o momento, outras duas candidaturas estão postas, uma da base aliada — o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), com dificuldades de apoio até mesmo em sua própria bancada —e o nome de oposição, André Figueiredo (PDT-CE), que ainda luta por apoio de outros partidos oposicionistas.

A disputa é marcada, ainda, pela dúvida sobre a possibilidade de reeleição de Maia. Seus adversários atacam e até já questionaram o Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar barrar a iniciativa, sem sucesso até o momento. Maia, por sua vez, recorreu a pareceres para tentar tranquilizar os partidos que estão dispostos a apoiá-lo. O debate é se a norma constitucional que proíbe a reeleição dos dirigentes da Câmara eleitos no início das legislaturas se aplica a ele, eleito para um mandato tampão no ano passado, após a renúncia de Eduardo Cunha.

JOVAIR PREGA INDEPENDÊNCIA
Enquanto Maia já garantiu o apoio de partidos importantes, Jovair tenta conseguir votos no varejo, conquistando deputados apesar do sinal pró-Maia das cúpulas partidárias. O líder do PTB tem repetido que sai como candidato avulso e que sua campanha se dedica a conquistar os parlamentares “na sua individualidade”. Aposta no que considera “insatisfação dos deputados” com a condução da Casa, muito atrelada aos interesses do governo Michel Temer. Sua campanha se sustenta no chamado “baixo clero”, o mesmo que levou Cunha ao posto.

No lançamento de sua candidatura — que tem como slogan “Coragem para ser independente” —, os discursos pregavam uma Câmara que não fosse uma “extensão do Palácio do Planalto”. A estratégia de Jovair é colar em Maia o rótulo de candidato oficial do governo. Ironicamente, Jovair reclama com o Planalto pelo apoio explícito dado por ministros ao adversário. Publicamente, no entanto, Temer nega ter preferência entre os candidatos da base.

Ao selar formalmente o apoio à reeleição do atual presidente, o líder do PR, Aelton Freitas (MG), disse que os sinais do Planalto foram no sentido de que Maia é a melhor opção pela governabilidade:

— O Temer não fez nenhum pedido, mas para quem sabe ler, pingo é letra. Entendemos que o Rodrigo é o melhor candidato.

Embora não confirme publicamente sua candidatura, Maia trabalha intensamente nos bastidores para consolidar apoios das cúpulas das legendas. Já assegurou o apoio de PSDB, DEM, PPS e PR, e recebeu sinalização de siglas, como PMDB e PRB. Falta confirmar o apoio do PP, quarta maior bancada da Casa, que ainda se divide entre ele e Jovair Arantes. Com o PSD, as negociações parecem avançadas, mesmo com a candidatura de Rosso.

Esta semana, o PSB se reunirá para discutir o tema. A tendência é a maioria fechar com Maia. O atual presidente da Casa tem, ainda, a simpatia de boa parte da bancada do PCdoB e busca garantir apoio do PT, o que poderia fortalecer seu desempenho e garantir sua reeleição no primeiro turno. Maia já conversou duas vezes com o líder da bancada petista, Carlos Zarattini (SP). Disposto a retomar seu lugar na Mesa Diretora, o PT defende que não haja formação de blocos e já avisou que quer a Primeira Secretaria, mas encontrará resistência da base de Temer. O PSOL tende a lançar candidato próprio, como nas outras eleições.

POSTOS COBIÇADOS NA MESA DIRETORA
Ao mesmo tempo, a Primeira Secretaria é negociada com o PR. Cresce na base a disposição de formar um bloco parlamentar e garantir as melhores vagas na Mesa. Segundo aliados de Maia, se o PT não embarcar na candidatura de André Figueiredo pode ficar com uma das outras três secretarias.

Também nesta semana, o PT reunirá sua bancada, que está dividida, com parte apelando para o pragmatismo e a importância de o partido estar na Mesa Diretora e outra, uma ala mais à esquerda, rechaçando aliança com Maia ou Jovair, que apoiaram o impeachment. Parte dos petistas desdenha do empenho real de André Figueiredo.

— O André avisou da candidatura por telefone. Cadê ele? Está em qual praia do Ceará? Cumbuco? — provoca um petista.

O candidato do PDT se defende, diz que seu nome está posto e que aguarda o posicionamento dos partidos de oposição para intensificar o trabalho. Figueiredo afirma que não é uma espera passiva e alega que tem ligado para deputados.

ROSSO FOCA CAMPANHA NAS REDES SOCIAIS
Rogério Rosso optou por uma campanha mais pitoresca, com a divulgação nas redes sociais de vídeos em atividades descoladas. Em um deles, foi de Brasília a Trindade, cidade religiosa de Goiás, de bicicleta, pedir luz para a campanha. Em outro, toca guitarra. Para muitos colegas, Rosso faz campanha para fora da Câmara, visando o governo do Distrito Federal ou a vaga do Senado em 2018.

A eleição está marcada para 9h do dia 2 de fevereiro. Maia já divulgou o calendário prévio, com a formação de blocos até as 12h de 1º de fevereiro e a possibilidade do registro de candidaturas até as 23h. Na avaliação dos adversários, até os horários mostram como Maia trabalha em seu favor. O tempo para recorrer ao Supremo questionando sua candidatura à reeleição será mínimo e, caso vença a eleição, ficaria ainda mais difícil que os ministros interferissem na disputa.

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