quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Expectativa com os próximos passos do mercado de trabalho – Editorial | Valor Econômico

O ano de 2016 terminou com a divulgação de dados negativos do mercado de trabalho em novembro. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, foram fechados 116,7 mil postos, no 20º mês consecutivo de encolhimento do mercado. O número é menor do que as 130,6 mil vagas formais cortadas em novembro de 2015, e a situação não ficou pior porque o comércio reforçou a equipe de vendas para atender o aumento da demanda de fim de ano, neutralizando em parte as demissões em outros setores da economia.

O varejo abriu 57,5 mil postos, a maioria nas áreas de vestuário e acessórios, alimentos, calçados e artigos para viagens. A expectativa de aumento das vendas não se confirmou, mas o setor fechou o mês com um saldo positivo de 58,9 mil vagas. A indústria de transformação continuou encolhendo e fechou 51,9 mil vagas, seguida pela construção civil, com 50,9 mil e pelo setor de serviços, com 37,9 mil.

O número de vagas formais fechadas de janeiro a novembro de 2016 chegou a 858,3 mil e a previsão é que o ano termine com mais de um milhão de postos encerrados que, somados ao 1,6 milhão de 2015, acumulará perto de 3 milhões nos dois anos. O estoque de vagas formais de trabalho está no menor patamar desde 2012, em 38,8 milhões, em comparação com 40,3 milhões de um ano antes.

Em 12 meses, houve a redução de 1,5 milhão de vagas e, nessa base de comparação, o destaque continua sendo a indústria, que perdeu cerca de 1 milhão de postos de trabalho, o equivalente a uma queda de 8,2% no número de trabalhadores. Em seguida vêm a construção, que demitiu 702 mil empregados; a agricultura, com 438 mil; e informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas, com 256 mil.

No mesmo dia, o IBGE divulgou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do trimestre de setembro novembro, quando a taxa de desocupação atingiu 11,9%, acima dos 11,8% do trimestre anterior. O número de desempregados chegou a 12,1 milhões. Um ano antes, o desemprego estava em 9% e o número de desocupados era de 9 milhões; e dois anos antes, de 6,5% com 6,5 milhões de desocupados, quase metade do número atual. A população empregada diminuiu 2,1% dos 92,2 milhões de novembro de 2015 para 90,2 milhões.

Para os técnicos do IBGE, a variação representa uma estabilização estatística, após dez trimestres seguidos de aumento do desemprego. Mas isso pode ter como origem nada menos do que o desalento, fenômeno que engrossa a população não economicamente ativa com pessoas que desistem de buscar emprego por vários motivos, desde a dificuldade de encontrá-lo até insatisfação em relação ao salário ou a simples desistência de disputar uma vaga. Nota-se ainda que até o emprego informal vem encolhendo.

Sobre os rendimentos, há certa estabilidade. Os rendimentos reais das pessoas ocupadas chegaram em média a R$ 2.032, em comparação com R$ 2.041 no mesmo período do ano passado. A massa de rendimento real, de R$ 178,9 bilhões, não mostrou variação significativa em comparação ao trimestre encerrado em agosto, e recuou 2% em comparação com igual período do ano anterior, sustentada pela política de correção do salário mínimo.

Esses resultados inspiraram previsões negativas no mercado financeiro. Para alguns, os índices só não são piores por causa do desalento. Entre os mais pessimistas, o desemprego pode chegar a 13,5% neste ano, com as demissões agora aumentando nos setores de comércio e serviços. Para esses, a população desempregada pode ser engrossada em 1 milhão e superar os 13,5 milhões de pessoas. Já o governo conta com uma melhora no segundo semestre, posição compartilhada pelos mais otimistas.

A realidade é que tudo vai depender do comportamento da economia. Se o pior ficou para trás e o nível de atividades reagir como se espera após as medidas de ajuste adotadas pelo governo e o programa de concessões deslanchar, é de se esperar uma reativação das contratações em alguns setores, que podem contagiar os demais. Deve-se levar em conta, porém, que o mercado de trabalho sempre reage com defasagem aos movimentos da economia. Se a retração iniciada em fins de 2014 afetou mais incisivamente o emprego em 2015, a recuperação também levará tempo para produzir uma melhora.

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