quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Falta de transparência com despesas marca campanha na Câmara

Daniel Carvalho, Débora Álvares | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A duas semanas da eleição, os candidatos à presidência da Câmara percorrem o país atrás de votos de deputados usando dinheiro do partido, do próprio bolso e de vaquinha de colegas da Casa. Um deles viaja com avião que diz ter sido "emprestado".

Quase todos, no entanto, resistem a revelar detalhes das despesas até agora. Como a disputa não segue a legislação eleitoral, eles não são obrigados a prestar contas do gasto.

A Folha enviou um questionário aos candidatos da Câmara e do Senado. Todos responderam, mas a maioria foi evasiva.

Apesar de não admitir publicamente que é candidato à reeleição, o presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ) já percorreu sete capitais -Florianópolis (SC), São Paulo (SP), Recife (PE), Maceió (AL), Salvador (BA), Aracaju (SE) e Campo Grande (MS). Nesta quinta-feira (19), deve ir a Fortaleza (CE) e Vitória (ES).

Até o início da noite de quarta (18), não havia registros na FAB (Força Aérea Brasileira) de que esteja utilizando aeronaves oficiais para os deslocamentos.

Segundo a assessoria de Maia, o DEM, seu partido, paga as viagens. Os valores não foram informados. As refeições são bancadas por cada parlamentar convidado, de acordo com ele.

"Não há candidatura posta ainda. O deputado Rodrigo Maia está consultando lideranças nos Estados sobre a possibilidade de disputar a presidência da Casa", informou a assessoria.

Jovair Arantes (PTB-GO) começou a rodar o país na semana passada e disse que pretende passar pelas 27 capitais até 2 de fevereiro, dia da eleição na Casa. Em uma semana já foi a PR, SP, SC, ES, RS, RJ, MG, BA e SE. Nesta quinta-feira (19), deve ter agendas em AL, PB e RN.

Jovair não detalhou seus recursos da campanha. Também não revelou quanto arrecadou na vaquinha com aliados nem os gastos até o momento. "Ainda não foi feito um balanço", informou.

Além de contratar um assessor de imprensa especialmente para a campanha, Jovair produziu material gráfico como adesivos, panfletos e vídeo promocional. Em nota, informou que a comunicação foi paga por ele. As refeições em cada cidade são custeadas por "apoiadores da campanha nos Estados".

Para circular pelo país, Jovair utiliza uma aeronave particular emprestada pela Globo Aviação-Táxi Aéreo e Manutenção Ltda. A empresa está em nome de duas filhas do empresário Pedrinho Abrão, ex-deputado pelo PTB-GO.

A Folha procurou a empresa, mas foi informada que ninguém se manifestaria.

RECURSOS PRÓPRIOS
O único a detalhar valores, Rogério Rosso (PSD-DF) disse já ter gasto R$ 12 mil de "recursos próprios" com passagens aéreas, hotéis, táxis e refeições. Rosso afirmou que, para economizar, recorre a sites de promoções de passagem e tem uma estrutura de campanha enxuta.

"Não tenho material gráfico impresso, mas apenas digital produzido por mim mesmo e não contratei assessoria de imprensa para a campanha". Ele disse estimar gastos entre R$ 20 mil e R$ 25 mil até o final da campanha.

Isolado pelo partido, Rosso não descarta unir-se a Jovair já no primeiro turno.

Enquanto não há uma definição, segue a agenda de viagens. Já foi a Recife, João Pessoa, Goiânia, São Paulo, Natal e Fortaleza.

Único candidato oposicionista, André Figueiredo (PDT-CE) disse não ter gasto "praticamente nada". "Fizemos impressos que ainda não paguei, mas a conta não deve chegar a R$ 2.000 e vai sair do meu bolso", diz.

Figueiredo afirmou ainda não saber se viajará, mas que, se for o caso, o custo será bancado pelo partido.

"Estou muito propenso a não fazer viagens. Penso que são inócuas. O que vai determinar o posicionamento de cada parlamentar não vai ser o posicionamento do candidato no seu Estado", disse.

No Senado, cuja eleição será no dia 1º de fevereiro, Eunício Oliveira (PMDB-CE), tido como favorito, não tem feito viagens. Seu único adversário até o momento, José Medeiros (PSD-MT) informou ter gasto do próprio bolso até agora cerca de R$ 4.000 com combustível. Ele afirma que não pretende ter mais despesas.

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