segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Indústria reage em dezembro e cresce 3%

Por Arícia Martins | Valor Econômico

SÃO PAULO - Puxado por um dezembro já um pouco melhor, 2017 parece ter começado com ritmo menos desanimador para atividade econômica, que pode se estabilizar já neste primeiro trimestre. Os dados do mês do passado sugerem que o quarto trimestre de 2016 não foi de todo ruim para a atividade.

Com base em indicadores antecedentes da indústria já divulgados, economistas avaliam que a produção mostrou um repique no último mês do ano passado, com alta de cerca de 3%, depois da surpresa negativa com os dados de novembro. A expansão, concentrada nas fábricas de veículos, tende a compensar o desempenho fraco esperado para o varejo em igual período e evita tombo mais forte, na casa de 1%, do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos três meses.

As notícias um pouco mais positivas para a economia no último bimestre do ano passado, depois de quatro meses seguidos de resultados aquém do esperado, ajudam também o início de 2017. Para analistas e empresários ouvidos, os dados relativamente melhores, ao lado do ciclo de afrouxamento monetário, dão fundamentos para que a confiança volte a crescer.

Segundo a Anfavea, entidade que reúne as montadoras, a produção total de veículos avançou 40,6% em dezembro, na comparação com igual mês do ano anterior. Com ajuste sazonal, a variação corresponde a uma alta de 14,5% ante novembro, nos cálculos da MCM Consultores.

O salto de dois dígitos na produção de veículos é o principal fator que deve ter impulsionado a produção total no mês, mas outros dados também tiveram alta. Medido pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) em parceria com a Tendências Consultoria, o fluxo pedagiado de veículos nas estradas cresceu 4,8% na passagem mensal, dado dessazonalizado.

Termômetro para a emissão de embalagens, a expedição de papelão ondulado subiu 3,3% no período. Nesse caso, o cálculo conta com ajuste do Bradesco. Em relação a dezembro de 2015, no entanto, as vendas caíram 2,8%, segundo informações prévias da ABPO, que representa as empresas do setor. Para Sergio Ribas, diretor da entidade, o número do mês passado ainda não marca um ponto de inflexão da atividade, mas, ao menos, mostra que não houve piora adicional.

Ribas avalia que a expedição de papelão deve voltar ao campo positivo nos primeiros três meses de 2017, na comparação anual. O corte em ritmo mais rápido da taxa Selic, diz ele, pode dar uma injeção de ânimo em empresários e consumidores, o que contribui para um início de ano melhor para a atividade. Além disso, a base de comparação baixa do primeiro trimestre de 2016 deve ajudar as vendas nos primeiros três meses de 2017.

O primeiro trimestre de 2016 também foi o mais fraco para as vendas de aços planos, que tendem a crescer em igual intervalo deste ano, diz Carlos Loureiro, presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda). Depois da queda de 2,3% em novembro, ante igual mês de 2015, as vendas do setor devem ter subido ligeiramente em dezembro, prevê Loureiro.

Para o empresário, o setor - que fornece insumo para a indústria automobilística, fabricantes de máquinas e equipamentos e para a construção civil - "parou de piorar" no segundo semestre de 2016, em resposta ao ajuste de estoques na indústria, principalmente no setor automotivo.

Em sua avaliação, todas as medidas tomadas pelo governo para reaquecer a economia, com destaque para a redução dos juros, devem surtir efeito mais acentuado sobre a atividade somente no segundo semestre.

A perspectiva de flexibilização mais célere da política monetária, que deve chegar a corte de cinco pontos na Selic, assim como indícios de retomada mais firme da atividade no fim de 2016, reforçam a projeção de expansão perto de 1% do PIB na média de 2017, afirma relatório da LCA Consultores.

Com base nos indicadores antecedentes já conhecidos, Rodolfo Margato, do Santander, estima que a produção industrial avançou 3% de novembro para o último mês de 2016, feitos os ajustes sazonais. O comércio varejista, porém, deve ter mostrado comportamento "bastante negativo" no mês, diz, devolvendo parte da alta de 2% das vendas restritas (não incluem automóveis e material de construção) e de 0,6% das ampliadas em novembro, resultado que foi impulsionado pelos descontos das promoções do Black Friday.

"Apesar dos vetores em direção contrária, dezembro foi um mês favorável para a atividade econômica", diz Margato, para quem a expansão da produção em dezembro parece ter sido disseminada, ainda que mais influenciada pelo desempenho de veículos. A dúvida, pondera, é se a trajetória mais positiva vai continuar nos próximos meses. "Acreditamos num meio termo", comenta, o que significa uma recuperação bastante gradual da atividade geral em 2017.

Além da indústria, os serviços também contribuíram positivamente com a atividade no último mês do ano passado, acrescenta Leandro Padulla, da MCM. Em seus cálculos, o volume prestado de serviços aumentou 1,4% sobre novembro, puxado por segmentos mais ligados à indústria, como serviços prestados às empresas e de transportes.

Com os dados disponíveis até novembro, menciona Padulla, o "tracker" do PIB da consultoria indica retração de 0,7% do indicador entre o terceiro e o quarto trimestres de 2016. Já incluindo as projeções da consultoria para dezembro, o recuo diminui para 0,1%. "Não necessariamente será essa queda, mas, se vierem parte dos resultados positivos esperados, a retração deve ficar entre 0,3% e 0,4%", prevê. O PIB deve voltar ao campo positivo no primeiro trimestre de 2017, afirma o economista, ainda que com alta pequena, de 0,2%.

"Se antes as projeções estavam na casa de 1% para a queda do PIB no quarto trimestre, agora voltaram a ficar em torno de -0,5%", diz Margato, do Santander, o que relaciona aos índices antecedentes mais positivos de dezembro e à variação acima do esperado do comércio no mês anterior. Ele também prevê desempenho próximo à estabilidade do PIB na abertura deste ano.

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