quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Inflação de 2016 fica abaixo do teto da meta pela primeira vez em 2 anos

Lucas Vettorazzo | Folha de S. Paulo

RIO - O ano de 2016 encerrou com inflação em 6,29%, divulgou o IBGE nesta quarta-feira (11).

Em dezembro, o IPCA, índice oficial de preços ao consumidor, avançou 0,30%.

O centro de expectativas de economistas consultados pela agência internacional Bloomberg calculava o IPCA em 0,34% em dezembro e apontava avanço de 6,34% no ano.

Foi a primeira vez desde 2014 que o índice oficial de inflação ficou abaixo do teto da meta do governo, de 6,5%.

A redução do consumo de bens e serviços no país em decorrência da recessão econômica fez ceder a inflação, que teve seu auge em 2015, ao atingir 10,67%, maior percentual de uma década.

Na ocasião, o país vivia o reflexo do movimento chamado tarifaço, resultante do represamento de preços, como o da energia, de maneira artificial pelo governo no ano anterior. O resultado foi aumento de preços generalizado, tanto na cadeia produtiva quanto no setor de serviços.

Em discurso na abertura de uma reunião com ministros de infraestrutura, o presidente Michel Temer comemorou a inflação oficial ter ficado dentro do teto da meta.

"Ninguém esperava que ao final do ano se chegasse abaixo da meta estabelecida. Toda a projeção para este ano é a redução ainda maior da inflação para ficar no centro da meta. Essa penso que seja uma boa notícia", disse Temer.

ALIMENTAÇÃO E BEBIDAS
Em dezembro, o grupo alimentação e bebidas foi o destaque na pressão de alta, segundo o IBGE, passando a subir 0,08% no mês contra queda de 0,20% em novembro. Na outra ponta, o grupo habitação apresentou queda de 0,59% nos preços, depois de subir 0,30% em novembro na comparação mensal.

Segundo o IBGE, o principal impacto para baixo na inflação em dezembro (-0,13 p.p.) veio da energia elétrica, com queda de -3,70% nos preços. Essa redução se deveu à volta da bandeira tarifária verde em 1º de dezembro, em substituição à amarela.

Em 2016, o principal impacto sobre a inflação também veio de alimentação e bebidas, com alta de 8,62% contra 12,03% em 2015, exercendo peso de 2,17 ponto percentual.

O maior impacto individual do ano coube à alimentação fora de casa, com 0,63 ponto percentual depois de os preços terem subido 7,22%.

Já a inflação de serviços, que vem sendo observada pelo BC e com o setor sofrendo os efeitos da demanda fraca, viu a alta desacelerar em 2016 a 6,50%, contra 8,09% em 2015. Só em dezembro, subiu 0,65%, frente a 0,42% de novembro.

CONSUMO
Em 2016, com o avanço do desemprego, os brasileiros reduziram o ritmo de consumo, o que diminuiu, por consequência, a pressão sobre os preços.

Em janeiro, a inflação começou alta, em 1,27%, mas cedeu nos três meses seguintes, até ter uma leve alta em maio. O motivo era que, embora já não houvesse mais a pressão da tarifa de energia, a grande vilã da inflação do ano anterior, os alimentos subiam por problemas nas safras pelo país.

Chuvas em abundância no Sul e secas no Nordeste fizeram disparar preços de alimentos importantes na cesta de compras do brasileiro. O cenário impediu que a inflação cedesse de forma mais contundente ao longo do ano.

Em setembro, o índice de inflação ficou em 0,08%, menor taxa para o mês em 18 anos. A desaceleração da inflação abriu espaço para o corte na taxa básica de juros, a Selic.

No mês seguinte, em outubro, o Banco Central cortou a Selic pela primeira vez em quatro anos, para 14%. Em novembro, o BC fez o segundo corte e levou a taxa para 13,75%.

A próxima reunião do Copom (Conselho de Política Monetária) do BC ocorre nesta quarta-feira.

O governo enxerga na redução da taxa de juros uma oportunidade de reativar a economia. Juros baixos incentivam o consumo, mas o movimento pode levar a pressão de preços e inflação.

O mercado prevê, contudo, queda contínua da inflação neste ano, principalmente em razão da paralisação da economia.

A previsão é que o IPCA encerre 2017 em 4,81%, segundo Boletim Focus do Banco Central, divulgado na última segunda-feira (9). A partir deste ano, o intervalo de tolerância para a inflação cai para 1,5 ponto percentual. Ou seja, o teto recuará para 6% ao ano.

Sobe e desce da inflação
Maiores altas em 2016
• Feijão-mulatinho: +101,59%
• Feijão-preto: +78,05%
• Tangerina: +74,47%
• Multa de trânsito: +68,31%
• Feijão-macassar (fradinho): +58,35%
• Manteiga: +55,17%
• Leite condensado: +53,95%
• Farinha de mandioca: +46,58%
• Feijão-carioca (rajado): +46,39%
• Banana-maçã: 41,12%

Maiores quedas em 2016
• Cebola: -36,50%
• Batata-inglesa: -29,03%
• Tomate: -27,82%
• Laranja-bahia: -26,43%
• Repolho: -24,02%
• Cenoura: -20,47%
• Manga: -14,05%
• Maracujá: -12,05%
• Energia elétrica residencial: -10,66%
• Carne de carneiro: -9,73%
Colaborou Dimmi Amora, de Brasília

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