quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

O efeito social do ajuste - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

• Quem quiser que o subestime; a redução dos juros e o controle do custo de vida tendem a gerar uma certa onda de otimismo, seja dos agentes econômicos, seja da população

O ano-novo começou com duas boas notícias na economia: a queda da taxa de inflação, que ficou em 6,29%, abaixo do teto da meta, de 6,5%, da política monetária (em 2015 estava em 10, 67%), e a redução da taxa de juros em 0,75% ponto percentual, que passou de 13,75%,para 13% ao ano, a maior em quase cinco anos e o terceiro corte seguido. Inflação e taxa de juros são como Cosme e Damião, andam sempre juntas. A decisão mostra que o BC acelerou o ritmo de redução dos juros.

Há duas razões para a decisão unânime das autoridades monetárias. A primeira é bem objetiva: a inflação caiu. A segunda, muito subjetiva: pode ser que tenham errado na dose da taxa de juros e provocado uma recessão maior do que se esperava em 2016, projetando expectativas pessimistas para 2017. Mas essa discussão é boa para os acadêmicos; para os agentes econômicos, o que interessa é que os juros estão baixando. Se não errarem a mão e a inflação for para o centro da meta, que é de 4,5%, a economia deve reagir mais cedo.

É aí que a sorte está lançada. O maior efeito social do ajuste fiscal, ao contrário do que imagina a oposição, não são a recessão e o desemprego. Esses são efeitos imediatos, que acabam compensados a médio e longo prazos com a reestruturação do Estado e a reorganização da atividade econômica. Quando o ajuste é bem-sucedido, com a redução da inflação, tem impacto imediato na vida das pessoas, dentro de casa e na rua. Ou seja, se o Banco Central acertar a mão na redução dos juros e a inflação continuar caindo, o ambiente se modificará completamente.

É aí que as previsões catastrofistas do ano velho, que previam uma convulsão social em 2017, estarão completamente frustradas. Resguardas as devidas distâncias, foi mais ou menos o que aconteceu no governo Itamar Franco, quando foi lançado o Plano Real, pelo então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder nas pesquisas para a Presidência em 1994, foi convencido por seus dois principais conselheiros econômicos à época, a professora e deputada Maria da Conceição Tavares (PT-RJ) e o ex-ministro e então deputado Aloizio Mercadante (PT-SP) de que o plano seria um fracasso. O Real deu certo, enquanto Lula torcia para dar errado. O resultado foi a eleição de Fernando Henrique à Presidência da República.

Estamos, porém, numa situação muito diferente: na economia, àquela época, a hiperinflação transferia renda do trabalho para o capital, do Estado para as empresas e da Nação para o sistema financeiro internacional de forma brutal. Na política, não existia a Operação Lava-Jato. Havia até uma onda de otimismo em relação à democracia brasileira, que havia acabado de apear do poder um presidente eleito, Fernando Collor de Mello, que renunciou ao mandato às vésperas de ter seu impeachment aprovado pelo Senado. Ou seja, seria um exagero comparar o governo Itamar com o de Temer.

Mas existe uma sutil semelhança entre os dois governos de transição: o impacto social da queda da inflação como resultado do ajuste fiscal. Quem quiser que o subestime; a redução dos juros e o controle do custo de vida tendem a gerar uma certa onda de otimismo, seja dos agentes econômicos, seja da população de um modo geral. O resultado político disso será um certo alívio para o presidente Michel Temer, pois a tendência da economia agora é sair da recessão, o que repercutirá mais cedo ou mais tarde nos níveis de emprego. O mundo gira e a Lusitânia roda. É assim que funciona.

Candidato
Há um certo desespero e precipitação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao se lançar candidato ao Palácio do Planalto com quase dois anos de antecipação. Tudo bem que ser candidato a presidente da República virou uma espécie de emprego para o líder petista, desde 1989, e isso acabou dando certo, tanto que se elegeu em 2002 e se reelegeu em 2006. O que não deu certo foi ser dublê de lobista após deixar o poder. As declarações de ontem, em Salvador, durante o encontro do Movimento dos Sem-Terra, revelam a intenção de transformar a candidatura num escudo contra os cinco processos no qual já é réu na operação Lava-Jato.

“Todo mundo quer ser presidente, o Moro, o Serra, Alckmin, o Grampinho. Ótimo. Mas eles não podem é tomar o governo na marra, têm que disputar na urna”, disse Lula, mirando no juiz federal de Curitiba, no ministro das Relações Exteriores, no governador de São Paulo e no prefeito de Salvador, ACM Neto. Lula acusou Moro, responsável pela Operação Lava-Jato em primeira instância, de ter participação no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, que ele classificou de golpe. E voltou à velha ladainha anti-imperialista, na qual revela a sua antipatia por Barack Obama, que encerra o mandato: “A bancada do PT tem a obrigação de investigar a participação do governo americano no golpe, em parceria com Moro. O Brasil é independente há 500 anos e não vamos aceitar interferências estrangeiras”, disse. “Eles não estão apenas tentando me criminalizar, mas criminalizar meu governo”, declarou. Será que isso ainda cola?

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