quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Opinião do dia – Silvio Pons

O colapso da União Soviética não era inevitável. Foi Gorbachev quem o provocou involuntariamente. Se ideal de “socialismo de rosto humano” levou-o a introduzir reformas insustentáveis para os parâmetros do sistema, que deflagraram a autodissolução. O impulso reformador nasceu da tentativa de redefinir uma missão que permitisse à URSS e ao comunismo se reinserirem na dinâmica do mundo global, depois de terem sido relegados a sua margem. Excluiu-se a possibilidade de entrincheiramento no orgulho imperial, na rivalidade de potência, na tradição totalitária. Tal caminho poderia fazer sobreviver o Estado soviético por certo tempo, mas não enfrentaria pela raiz a crise de legitimidade. Gorbachev e seu grupo dirigente tomaram a direção oposta, até rechaçar a cisão entre socialismo e democracia gerada pelo leninismo. Seu fracasso desnudou as insuperáveis contradições inerentes à tentativa de reformar o comunismo soviético e a impossibilidade de legitimá-lo como projeto universalista.
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Silvio Pons é professor de História da Europa Oriental na Universidade de Roma Tor Vergata e diretor da Fundação Instituto Gramsci. Entre seus livros estão Stalin e la guerra inevitable (1995) e Berlinguer e la fine del comunismo. ‘A revolução global – História do comunismo internacional 1917-1991’, p. 555. Contraponto / FAP/ Fundação Instituto Gramsci, 2014.

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