sábado, 21 de janeiro de 2017

Protestos tomam conta de ruas de Washington

• Confrontos violentos com a polícia e atos de vandalismo deixam mais de 200 presos

Henrique Gomes Batista, Ligia Hougland | O Globo

WASHINGTON - Enquanto a festa seguia protocolar no National Mall — a esplanada que reúne a Casa Branca, o Capitólio, os principais museus e monumentos da capital americana — a poucas quadras dali o clima, em alguns locais, era de guerra. O enfrentamento entre polícia e manifestantes, que deixou mais de 200 presos, contrastava com o ambiente decorado e com o clima pacífico dos protestos na maior parte da cidade. Em muitos locais apoiadores e opositores de Trump conviviam pacificamente, mesmo com cartazes, camisetas ou broches relativamente ofensivos ao outro grupo.

Assim como ocorreu em outros pontos da cidade, o encontro das forças policiais com grupos mais radicais causou depredação, reprimida com bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral e spray de pimenta. Nas proximidades da Praça McPherson, no centro de Washington, os sons das bombas eram ouvidos a todo o momento.

— Fazia tempo que não via manifestações assim, antes acontecia com grupos contrários ao FMI — disse uma moradora que preferiu não se identificar, lembrando do período na década passada de grandes atos à frente do Fundo Monetário Internacional, que fica na cidade.

Diversos carros e latas de lixo foram danificados por um grupo de manifestantes, que também ateou fogo a uma limusine. A política afirmou que outros atos tiveram depredações. Apesar dos mais de 200 detidos, o número de prisões tendia a crescer, já que diversos protestos estavam marcados na cidade na noite de ontem. Hoje é esperado o maior protesto: a marcha pelas mulheres, que deve reunir 200 mil pessoas de todo o país.

IRONIA E INDIGNAÇÃO
Nas manifestações pacíficas muitas vezes imperava a ironia como forma de protesto. Pessoas fantasiadas de ursos polares tentavam sensibilizar o público para impedir que Trump desfaça as iniciativas ambientais tomadas por Obama, e diante do Museu Internacional da Espionagem, um grupo que vestia chapéus russos ironizou a relação entre Trump e o presidente russo, Vladimir Putin, carregando cartazes com dizeres classificando o novo presidente como “Marionete de Putin” e “Empregado do mês no Kremlin”.

Mulheres criticaram as frases machistas do magnata no passado e a falta de participação feminina no Gabinete. Imigrantes e latinos protestaram contra a ameaça de deportação maciça de pessoas sem documentos e a construção do muro na fronteira com o México.

Os brados de vitória e apoio ao magnata colidiram com os gritos de indignação dos que prometem lutar contra o novo governo. E o som das sirenes dos carros policiais era um acompanhamento constante.

— Não podemos aceitar um governo composto só por uma elite que quer acabar com os direitos humanos e o meio ambiente — disse a jovem assistente administrativa, Erica Connelly, que veio de Atlanta para mostrar seu repúdio a Donald Trump.

Em frente a Union Station, estação de trem de Washington, centenas de manifestantes contra e a favor de Trump entraram em conflito quase sempre apenas verbal. Em um momento, uma jovem enfurecida com os argumentos conservadores de um universitário apoiador de Trump, atacou o jovem queimando com um cigarro o boné que ele usava exibindo o tema da campanha do novo presidente (“Faça os EUA grandes de novo”).

Uma das raras manifestantes idosas era Lucy Goldberg, uma ativista da Virgínia Ocidental.

— Estou aqui porque sou contra tudo o que Trump representa, especialmente sua ideia de que a Otan é dispensável e sua vontade de criar uma aliança com um ditador como Putin. Alem disso, sei muito bem que os trabalhadores de minas de carvão do meu estado jamais vão ter seus empregos de volta. Trump os enganou só para ganhar votos — disse Lucy.

Os protestos contra o novo governo não ficaram restritos à capital. Em São Francisco, na Califórnia, dezenas de manifestantes formaram uma corrente humana na Ponte Golden Gate, enquanto no centro financeiro da cidade, um grupo bloqueou o tráfego diante de um edifício comercial das organizações Trump.

Em Atlanta, grupos de apoio a imigrantes, muçulmanos e de defesa dos direitos dos negros criticaram a brutalidade policial diante da prefeitura. Já em Nashville, no Tennessee, manifestantes se acorrentaram às portas do Capitólio estadual e fizeram um protesto silencioso durante o juramento presidencial. Em Nova York, protestos prosseguiram sem confrontos com policiais.

— Aqueles que atiram pedras contra policiais dão um grande início à Presidência de Donald Trump — afirmou o comentarista Chris Stirewalt, da Fox News. — Pessoas que não formaram uma opinião e assistem aos protestos pela TV tomarão o lado do novo presidente.

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