segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Reformas sem parar – Editorial | Folha de S. Paulo

Em qualquer momento da história contemporânea do Brasil, um presidente que conseguisse aprovar leis que limitassem o aumento da despesa do governo federal seria autor de um feito notável. Fazê-lo durante uma das maiores crises econômicas, sob rejeição maciça, seria ainda mais impressionante.

Michel Temer (PMDB) está a meio caminho de ter êxito na empreitada, que depende de uma dura reforma da Previdência, sem o que o teto de gastos se torna inviável ou disfuncional.

Temer, porém, pretende ir além. Quanto mais abaladas suas bases políticas, mais reformas propõe.

Decidido a reforçar seus laços com os setores sociais restantes que o apoiam, o peemedebista redobra suas apostas de reformas econômicas. É um comportamento inverso ao do padrão dos governos, que em momentos de dificuldades em geral revertem populismo.

O presidente anunciou no final do ano a mudança nas leis do trabalho. Trata-se de alterações no âmago das relações sociais: as que definem rendimentos, distribuição de renda, poupança nacional e interações entre gerações. Ademais, anunciou que mexerá no sempre relegado entulho tributário e que vai apoiar a reforma política.

Temer resolveu se tornar imprescindível para quem acredita na necessidade urgente de refazer a regulação econômica do país —para grupos políticos que demandam a limpeza do terreno arruinado da economia a fim de governar um país mais ordenado e liberal a partir de 2019. Faria todos os "males", em posição de sacrifício ou de bode expiatório.

Recorde-se que o governo não fez aprovar apenas o teto. Com ainda maior rapidez, levou a cabo mudanças nas leis de estatais, do petróleo, de energia e tantas outras. Cumpre assim todas as promessas do núcleo do seu plano de governo.

Ocorre que tal programa, de vários méritos, não foi aprovado nas urnas. Temer sofre de grande desprestígio popular; quase dois terços dos cidadãos gostariam de eleger já outro mandatário. A atividade econômica continuará a regredir até meados de 2017.

Há mais. O governo federal adentrará o ano com a tarefa de administrar a catástrofe das contas de Estados e municípios, que absorverá recursos políticos e econômicos por meses a fio.

É quase certo que as delações de tantas operações anticorrupção vão desmantelar o restante do núcleo original do comando de Temer, se não causarem desarranjo ainda maior em Brasília.

A história de generais que abriram excessivas frentes de combate não costuma terminar bem. Não há como prejulgar o sucesso da estratégia nem como negar seu mérito, em tese. A princípio, no entanto, o ímpeto parece imprudente.

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