domingo, 19 de fevereiro de 2017

A impopularidade de Temer – Editorial | O Estado de S. Paulo

O governo de Michel Temer não pode ceder à tentação de se desviar do caminho da responsabilidade fiscal na vã tentativa de reverter o grande mau humor dos brasileiros em relação à sua administração, detectado em recente pesquisa de opinião.

Lançar-se ao populismo inconsequente neste momento, a fim de ganhar a simpatia do eleitorado, significaria uma desastrosa marcha atrás num processo que vem se revelando bem-sucedido em seu propósito de superar, com consistência, a monumental crise econômica legada pela imprudência lulopetista. Mais do que nunca, Temer precisa demonstrar firmeza de propósito e conduzir o País a porto seguro, sem cogitar – como já se ouve, aqui e ali, de auxiliares do presidente – de criar uma “agenda positiva”, que é o nome que se dá a iniciativas que resultam quase sempre em aumento dos gastos públicos.

A pesquisa em questão, feita pela MDA para a Confederação Nacional do Transporte (CNT), mostra que apenas 10,3% dos brasileiros aprovam o governo, contra 14,6% em outubro. Já os entrevistados que consideram a administração ruim ou péssima subiram de 36,7% para 44,1% no período. Também o desempenho pessoal de Michel Temer piorou. Hoje, 24,4% dos entrevistados aprovam o presidente; em outubro, eram 31,7%. A rejeição a Temer subiu de 51,4% para 62,4%.

Parece evidente que Temer está sendo responsabilizado pela piora de alguns indicadores econômicos vitais, especialmente o do desemprego, que atinge hoje mais de 12 milhões de pessoas, sem contar outros tantos milhões que deixaram de procurar emprego em razão do desalento. Sem dispor de uma comunicação eficiente, o governo Temer não consegue demonstrar ao cidadão comum que as medidas tomadas para reequilibrar as contas, reduzir a inflação e preparar o terreno para a retomada da economia funcionam de maneira gradual e que não é possível, num passe de mágica, recolocar o País nos trilhos.

Assim, Temer paga em popularidade – que nunca foi grande – por seus acertos, já que os erros, como todos os brasileiros minimamente informados sabem, foram cometidos, em escala jamais vista, pela presidente Dilma Rousseff. O presidente tem diante de si uma escolha crucial: pode se conformar em não ser popular e terminar seu mandato entregando um país com as contas arrumadas, pronto para voltar a crescer – feito pelo qual certamente será reconhecido no futuro –, ou pode dar ouvidos àqueles que apostam em distribuição de “bondades” para melhorar sua imagem.

Ao atalho do populismo geralmente recorrem os que julgam que o dinheiro público é infinito. O Brasil, aliás, está na atual situação de penúria em razão justamente desse tipo de mentalidade, que, no entanto, ainda angaria muitos votos, especialmente nas regiões mais pobres. É por essa razão que o ex-presidente Lula da Silva, a despeito de sua responsabilidade direta pela atual crise, aparece na pesquisa da CNT como líder entre os possíveis candidatos na eleição presidencial de 2018.

A pesquisa indica que a intenção de voto em Lula cresceu em todos os cenários, inclusive no segundo turno. É evidente que uma sondagem como essa, a mais de um ano da eleição, não serve para prever resultados, especialmente quando se observa que, na pesquisa espontânea, em que não são apresentados nomes aos entrevistados, quase 70% disseram que não têm candidato ou que votarão em branco ou nulo. Mas o aspecto que salta aos olhos é que Lula – mesmo tendo sido o presidente cujo governo começou a romper o pacto da responsabilidade fiscal necessário à estabilidade, mesmo tendo sido o inventor de Dilma Rousseff, a pior governante da história brasileira, mesmo tendo sido, portanto, o mentor intelectual da grande crise que engolfou o País – inspira nostalgia em uma parte considerável dos eleitores.

Para esses eleitores, a volta de Lula à Presidência seria suficiente, como por encanto, para o Brasil retornar a sua “época de ouro”. É claro que o chefão petista, que nunca desceu do palanque, nada faz além de alimentar essa fantasia, dia e noite. Diante disso, o que se espera dos atuais governantes do País, que precisam lidar com a realidade, é que não se deixem impressionar por esse apoio a Lula, pois quem não tem responsabilidade pode prometer o que quiser.

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