quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Drama do desemprego está longe de diminuir

A taxa de desemprego chegou a 11,5% em 2016. Em dezembro, 12,3 milhões de brasileiros estavam em busca de uma vaga, número recorde. Em dois anos de recessão, o total de desempregados no país aumentou em 5 milhões. E analistas preveem que, apesar dos primeiros sinais de melhora na economia, o desemprego só voltará a ficar abaixo de 10% no fim de 2019.

Desemprego sem trégua

• Taxa chegou a 11,5% em 2016. Em dezembro, 12,3 milhões de pessoas estavam em busca de vaga

Daiane Costa | O Globo

A taxa de desemprego e o número de pessoas sem trabalho no país encerraram 2016 batendo novos recordes e, na previsão de economistas, devem voltar à casa de um dígito somente em 2019. No último trimestre de 2016, 12% da força de trabalho, o equivalente a 12,3 milhões de pessoas, estavam sem emprego. Com isso, a taxa média de desemprego do ano ficou em 11,5%, contra os 8,5% registrados em 2015. Só nos últimos dois anos, a recessão deixou cinco milhões de pessoas sem trabalho no país. São brasileiros que perderam o emprego ou estavam fora do mercado e se viram obrigados a buscar uma colocação diante da queda da renda da família, mas encontraram uma economia retraída, que praticamente não contratou.

Desde 2014, o grupo de trabalhadores na indústria foi o que mais encolheu (12,5% ou menos 1,65 milhão de empregados), seguido pela construção civil (queda de 6,6% ou 513 mil pessoas).

— São números que mostram que a pior consequência da recessão ocorreu no mercado de trabalho. É uma piora muito acentuada desde 2014. A população empregada encolheu em quase dois milhões de pessoas e houve destruição de vagas disseminada nos setores, impactando mais indústria e construção civil primeiramente e, no ano passado, serviços e comércio — analisa Rodolfo Margato, economista do Santander.

O coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, ressalta que os efeitos da crise no mercado de trabalho ficam evidentes ao se analisar a combinação de três indicadores:

— A população de 14 anos ou mais, considerada em idade de trabalhar, aumenta 5,8% em relação a 2012. A expectativa é que a população ocupada suba pelo menos nessa proporção, mas ela só aumentou 1% entre aquele ano e 2016, e o número de desempregados aumentou 65%. Então, em cinco anos, temos uma alta de 4,7 milhões de pessoas sem emprego.

A taxa do ano de 2016 é a maior média para um ano fechado desde o início da série histórica, iniciada em 2012. A população desocupada passou de 8,6 milhões, na média de 2015, para 11,8 milhões, em 2016 (alta de 37%).

ALÍVIO A PARTIR DO SEGUNDO SEMESTRE
É consenso entre especialistas que a partir do segundo semestre deste ano a taxa comece a cair lentamente. O pico da deterioração do mercado de trabalho deve ocorrer no primeiro semestre deste ano, com a taxa podendo chegar a 13,5%, previsão do Santander, com a média de 2017 ficando em 12,8%. Nas contas do Ibre/FGV, mais otimista, essa alta não passará dos 12,3%, e a média do ano não deve ficar maior do que 12%.

— Para 2017, nossa projeção é que a recuperação do mercado de trabalho ocorra pela absorção de pessoas pela informalidade, seja no trabalho por conta própria ou por contratações sem carteira — explica Bruno Ottoni, economista do Ibre/FGV.

Em nota, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial lembrou que as famílias, em tempos de crise, adotam estratégias para se defender do desemprego, como aceitar ocupações de menor qualidade, em postos de trabalho informal, com rendimentos menores ou em funções que não correspondem integralmente às competências do trabalhador. Movimento observado nesses dois últimos anos, quando houve aumento de ocupados em trabalho sem carteira ou por conta própria e declínio daqueles com carteira assinada. Os dois anos de recessão reduziram o rendimento médio real de todos os trabalhos em 2,6%, para R$ 2.029. Em 2014, esse valor estava em R$ 2.083.

Ottoni observa também que um movimento que ocorreu em 2016 e contribuiu para a taxa de desemprego não ser ainda maior voltará a aparecer este ano: ao não encontrar uma oportunidade de trabalho, há quem deixe de procurar, saindo das estatísticas de desemprego por esse período.

Para Margato, do Santander, mesmo com a previsão de melhora da atividade econômica a partir deste ano, o desemprego ainda deve seguir vitimando o grupo recorde de mais de dez milhões de pessoas, com a taxa em dois dígitos pelo menos até o primeiro semestre de 2019:

— O mercado de trabalho sempre responde lentamente à melhora da atividade. Mesmo se as nossas previsões de aumento do PIB na ordem de 0,7% em 2017 e de 3% ao ano em 2018 e 2019 se confirmarem, não será suficiente para compensar a queda brutal que os dois anos de recessão causaram.

Sobre a média anual de 2016, ele endossou a análise de Ottoni:

— A força de trabalho apresentou crescimento menor em 2016 e isso aliviou a métrica anual. Mas esse alívio se deu por uma razão ruim, que foi o desalento, as pessoas deixando de procurar, e não devido à criação de vagas.

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