quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Novo alívio - Celso Ming

- O Estado de S. Paulo

A inflação continua surpreendendo para melhor. Em janeiro, foi de 0,38%, abaixo das expectativas até de quem ganha dinheiro no mercado financeiro com projeções de inflação e juros. Em 12 meses, ficou nos 5,35%, também abaixo das apostas vigentes até a semana passada.

O recuo da inflação em 12 meses é hoje o principal indicador que aponta para melhora do nível geral de saúde da economia.

O Banco Central faz um levantamento semanal com cerca de 100 instituições financeiras, consultorias e departamentos econômicos de empresas. É a Pesquisa Focus que vinha apontando uma projeção mediana de inflação em janeiro de 0,47%, substancialmente mais alta do que a que acabou saindo. Nesse mesmo universo pesquisado pelo Banco Central há um segmento mais restrito, o dos Top 5, os cinco analistas de mercado que mais acertam projeções. Pois também eles cravaram inflação mais alta (de 0,41%) do que a que de fato aconteceu.

Pode aparecer alguém que estranhe quem ponha ênfase na melhora da inflação quando leva em conta que a inflação de dezembro foi mais baixa, de 0,30%. Como poderia ser considerada melhora uma inflação mais alta no mês seguinte? É que janeiro é sempre um mês em que, no Brasil, ocorrem inúmeros reajustes de preços definidos por lei ou por decisão do governo. Assim, levando-se em conta a sazonalidade, janeiro deste ano foi bem melhor. No ano passado, por exemplo, foi de 1,27%.

O recuo reforça a expectativa de que, no fim deste ano, a acumulada fique muito próxima ou até abaixo da meta, de 4,50%. Na semana passada, os Top 5 passaram a trabalhar com 4,49%. Assim, a convergência para a meta, esperada até recentemente para somente em 2018, pode acontecer já neste ano.

Se a inflação está se comportando melhor do que o esperado, o que esperar da política monetária (política de juros), cujo principal objetivo é empurrar a inflação para o centro da meta? Por enquanto, reforçam-se as expectativas de que o Banco Central seguirá derrubando os juros básicos (Selic), hoje de 13,00% ao ano, na dose de 0,75 ponto porcentual por vez. A aposta geral é a de que, no fim deste ano, os juros sejam de um dígito (abaixo de 10% ao ano), mais precisamente de 9,50% ao ano, ainda assim, um nível alto, de nada menos de 4,0% em termos reais (descontada a inflação).

No entanto, a continuação do atual processo de desinflação só terá sucesso se as contas públicas voltarem ao equilíbrio. Por enquanto, o governo federal está conseguindo retomar o controle do déficit público, que é ainda muito elevado (de 2,47% do PIB no fim do ano), mas vai sendo lentamente revertido, graças à condução mais austera do Orçamento e também às vitórias obtidas no Congresso, especialmente com a PEC do Teto dos Gastos (PEC 241, na Câmara, ou PEC 55, no Senado).

O custo cobrado da população ainda é ardido: desemprego de 12% e crescimento insatisfatório da atividade produtiva e da renda nacional (perspectiva de evolução do PIB em 2017 de apenas 0,5%). Mas, atenção, esse custo não se deve à política de ajuste; deve-se aos erros de política econômica cometidos nos governos anteriores.

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