quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

O poder de verdade - Carlos Melo*

- O Estado de S.Paulo

Desde a redemocratização, em 1985, o PMDB elegeu presidentes do Senado em 15 ocasiões; terminada a atual Legislatura, em 2019, terão decorrido 30 anos de poder, em 34 possíveis. A pequena interrupção se deu pelas mãos de Antônio Carlos Magalhães (PFL/DEM, rei da Bahia), em duas oportunidades, e uma rápida interinidade – de Tião Viana (PT), em razão da renúncia de Renan Calheiros, já naquele tempo enredado num escândalo.

Pode-se dizer que aquela presidência é um monopólio peemedebista. Na imensa maioria dos casos, os presidentes do Senado são provenientes do Nordeste – talvez, com justiça como compensação ao predomínio do Sudeste e do Sul, na Câmara. O fato é que os dois maiores colégios eleitorais do País – São Paulo e Minas Gerais – não fizeram sequer um presidente nesse período. Eunício Oliveira não foge desse figurino.

O Senado se distingue da Câmara pelo menor número de parlamentares, a serenidade e a senioridade da maioria de seus membros e a cordialidade característica de seus corredores. A Casa é uma espécie de contrapeso aos arroubos dos deputados; a maioria dos senadores age como um colchão de proteção para os sucessivos governos.

Estes dados são reveladores da distribuição do poder político no País e há lógica nisso: o PMDB bem sabe como cobrar pela importância e o papel que assume. A proteção que oferece resulta em cargos, verbas e poder decisório nos ministérios, nas autarquias, nas estatais. Instrumentos que na sequência favorecerão a reeleição de senadores, a formação de uma grande bancada e a perpetuando o ciclo.

É sintomático que durante o período o partido tenha eleito apenas Tancredo Neves – ainda assim pela via indireta, em 1985; tendo o presidente nem sequer assumido o mandato.

Basicamente, o PMDB não disputa a Presidência, o que não lhe impede de não ocasionalmente assumir também o Executivo. Isto tudo é revelador do modo como é a política nos bastidores, nos conchavos, nos acertos e na força das maiorias parlamentares. Os holofotes das eleições presidenciais sobre candidatos ao Executivo brilham muito, mas contam pouco.

*É cientista político e professor do Insper

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