sábado, 4 de março de 2017

Caixa 2 para todo lado

Delator da Odebrecht diz que empresa doou R$ 40 milhões em recursos do departamento da propina

Simone Iglesias | O Globo

BRASÍLIA - A Odebrecht doou aos partidos por meio de caixa 2 cerca de R$ 40 milhões só nas eleições de 2014. A cifra é uma estimativa feita a partir do depoimento do ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Júnior. No interrogatório ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o empresário foi bem explícito quanto à origem desses recursos: todos seriam provenientes do “Departamento de Operações Estruturadas” da Odebrecht, área da empresa responsável pelo pagamento de propinas.

O executivo disse que “todos os grandes partidos” receberam dinheiro legal e também por meio de caixa 2 da Odebrecht e subsidiárias. Segundo Benedicto Júnior, a empresa doou em 2014 um total de R$ 200 milhões. Essa cifra foi definida numa reunião entre Marcelo Odebrecht e executivos da companhia. Deste total, 60% saíram da construtora; de 20 % a 25% de empresas terceirizadas ligadas a Odebrecht; e de 15% a 20% (R$ de 30 milhões a R$ 40 milhões) por meio de caixa 2.

Desses R$ 40 milhões, relatou o empresário, R$ 9 milhões foram para as campanhas dos tucanos Aécio Neves à Presidência da República; Pimenta da Veiga, ao governo de Minas Gerais; e de Antonio Anastasia, ao Senado. Esse dinheiro também foi partilhado com Dimas Fabiano (PP), eleito deputado federal. Ao menos R$ 3 milhões, segundo Benedicto Júnior, foram pagos a Paulo Vasconcelos, que atuou como marqueteiro da campanha de Aécio.

RELATO DURA MENOS QUE UM MINUTO
Como o foco do depoimento de Benedicto Júnior ao TSE foi a chapa Dilma-Temer, que está sob investigação da Justiça Eleitoral, o relato envolvendo o PSDB durou menos de um minuto, segundo uma fonte que acompanhou a oitiva contou ao GLOBO. Benedicto Júnior disse que não poderia ajudar em mais detalhes envolvendo as campanhas presidenciais por dois motivos: o primeiro, porque os grandes candidatos eram atendidos por Marcelo Odebrecht, dono da empresa; o segundo, porque sua mulher estava tratando um câncer em 2014 e por alguns períodos ele não acompanhou os desdobramentos das negociações.

Um dos momentos em que não atuou foi no acerto entre Marcelo e Paulo Skaf, então candidato ao governo de São Paulo pelo PMDB, de recebimento de R$ 6 milhões. Benedicto contou que se tivesse sido consultado, teria orientado Marcelo a não doar recursos a Skaf porque ele não tinha chance de vencer. O empresário salientou, no entanto, que o acerto ocorreu porque Marcelo e Skaf têm relação de amizade. Ele não soube dizer se a doação foi realmente feita.

A assessoria jurídica do PSDB divulgou nota afirmando que Benedicto Júnior não relatou “em nenhum momento” ter havido pedido de caixa 2 pelo presidente do partido, o senador Aécio Neves (MG). Na nota, o partido não esclareceu como teriam sido repassados os valores mencionados por Benedicto. Os advogados também não disseram se os recursos foram ou não declarados à Justiça Eleitoral.

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