segunda-feira, 27 de março de 2017

Capitalismo de Estado | Paulo Guedes

- O Globo

FHC diz que o Brasil não gosta do capitalismo. Mas se esqueceu de dizer que vem há décadas praticando sua degenerada versão intervencionista

Autoproclamado “vanguarda do atraso” da classe política brasileira, FHC personifica com transbordante vaidade e algum merecimento o único estadista entre nossos ex-presidentes vivos. Mesmo admitindo que seja sofrível a base de comparação, ou até mesmo por isso, torna-se importante cada um de seus alertas.

“O Brasil não gosta do sistema capitalista. Os congressistas, os jornalistas, os universitários Estado, ser conservador não eles gostam do é melhor capitalismo.de intervenção, que ser Eles liberal”,(...) gostam enfim, diagnostica do o príncipe florentino da sociologia nativa, do alto de sua hegemônica e obsoleta plataforma social-democrata. Em seu entendimento, o melhor é ser social-democrata “de esquerda”, e o menos ruim é ser conservador “de direita”.

Essa aliança de despreparados em assuntos econômicos e oportunistas em matéria de política é a matriz dos problemas sistêmicos do excesso de gastos públicos, da corrupção, do desemprego e do baixo crescimento. Foi costurada pelo “socialismo de punhos de renda” e aprofundada pelo “socialismo do chão de fábrica”. Intelectuais e trabalhadores foram corrompidos pela engrenagem dirigista. De obras públicas refinarias à à compra fiscalização de legislação da carne. favorável, de Emílio Odebrecht confirmou também a Sérgio Moro o caráter sistêmico da degeneração da política pelo capitalismo de Estado. “O caixa 2 para financiamento das campanhas sempre existiu, desde a época de meu pai à minha época e também à de Marcelo”.

Foi pequena a distância para a compra de tráfico de influência. Gerações sucessivas de empresários comprariam gerações sucessivas de políticos. O capitalismo de Estado evolui para o capitalismo de quadrilha, desmoralizando ao mesmo tempo as instituições democráticas e o sucesso empresarial, que teria vindo não pelos méritos em mercado, e sim pelos favores públicos.

As reformas necessárias são profundas. Retardar a reforma da Previdência é um erro colossal. A incapacidade de se articular uma saída construtiva para as finanças de estados e municípios, na linha de um pacto federativo, ameaça esvaziar a desejável abrangência da reforma previdenciária, com o Estado continuando a fabricar desigualdades. Essa é a especialidade do capitalismo de Estado.

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