quinta-feira, 9 de março de 2017

‘É preciso salvar a política’, afirma Aécio

'Abriremos espaço para um salvador da pátria?', indaga Aécio em jantar

Deputados da base e da oposição, como Chico Alencar (PSOL-RJ) se reuniram em restaurante de Brasília

Marina Dias -Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Já se passava da meia-noite desta quarta-feira (8) quando o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), definiu o pensamento de grande parte da classe política do país diante da Operação Lava Jato: "Todo mundo vai ficar no mesmo bolo e abriremos espaço para um salvador da pátria? Não, é preciso salvar a política", afirmou o tucano sentado a uma mesa de oito lugares no Piantella, restaurante reduto de políticos em Brasília.

"Um cara que ganhou dinheiro na Petrobras não pode ser considerado a mesma coisa que aquele que ganhou cem pratas para se eleger", continuou Aécio, em defesa da tese de que caixa dois para financiar campanhas eleitorais deve ser diferenciado do crime praticado por quem obteve recursos para enriquecer pessoalmente.

O discurso fazia eco à recente nota do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que, em defesa do próprio tucano, afirmou que era importante fazer "distinções" entre quem recebeu recursos de caixa dois e quem obteve dinheiro para enriquecer.

Segundo FHC, esses são "dois atos, cuja natureza penal há de ser distinguida pelos tribunais" e que o segundo método é "crime puro e simples de corrupção".

"Visto de longe tem-se a impressão de que todos são iguais no universo da política e praticaram os mesmos atos", diz a nota de FHC. "No importante debate travado pelo país distinções precisam ser feitas. Há uma diferença entre quem recebeu recursos de caixa dois para financiamento de atividades político-eleitorais, erro que precisa ser reconhecido, reparado ou punido, daquele que obteve recursos para enriquecimento pessoal, crime puro e simples de corrupção", completou o ex-presidente.

Aécio chegou pouco depois das 22 h, logo após a saída do presidente Michel Temer, a um jantar em homenagem aos 50 anos de profissão do jornalista e blogueiro de "O Globo", Ricardo Noblat, que reuniu ministros, ex-ministros e parlamentares de todos os matizes.

O tucano cumprimentou alguns dos convidados e logo se sentou a uma mesa redonda que, entre outros, contemplava o deputado de oposição Chico Alencar (PSOL-RJ) que, em tom bastante descontraído, avisou o presidente do PSDB: "Não dá para ter essa conversa franca com Sarney e Renan".

Aécio sorriu. O deputado se referia aos ex-presidentes do Senado José Sarney (PMDB-AP) e Renan Calheiros (PMDB-AL), em quem Alencar disse ali não confiar.

O tucano ouviu atentamente ao colega de Congresso e afirmou que os dois precisavam conversar mais.

"Vamos fazer um partido, eu e você? O partido do bem", brincou Aécio.

Foi a vez de Alencar sorrir e continuar ouvindo o discurso do senador tucano.

"Vamos nos autoexterminar?", questionou Aécio em referência à disputa entre partidos diante das denúncias vazadas de dezenas de delações firmadas entre empresários, políticos e agentes públicos com a força-tarefa da Lava Jato.

"É preciso salvar a política. Não podemos deixar que tudo se misture", completou o tucano.

DEPOIMENTOS
O tom de Aécio diante do deputado do PSOL e de seu colega de Câmara Heráclito Fortes (PSB-PI), que também estava à mesa do Piantella, complementava um vídeo divulgado pelo próprio tucano após vazamento do conteúdo dos depoimentos do ex-presidente da Odebrecht Marcelo Odebrecht e do ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedito Júnior, o BJ, ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), na semana passada.

De acordo com BJ, a empreiteira doou R$ 9 milhões em caixa dois para campanhas eleitorais do PSDB em 2014, ano em que Aécio concorreu ao Palácio do Planalto.

O pedido de ajuda financeira, segundo o ex-executivo da Odebrecht, teria sido feito pelo próprio Aécio. BJ afirma que, como presidente do partido, o tucano solicitou doações de recursos para outros candidatos da legenda.

Em sua defesa, Aécio afirma que pediu apoio para "inúmeros candidatos", mas que jamais solicitou que a ajuda fosse feita por meio de caixa dois.

Segundo o senador, o próprio Marcelo afirmou em seu depoimento que "os recursos transferidos ao PSDB foram feitos oficialmente, em caixa um" e que uma das doações, inclusive, não foi feita.

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