terça-feira, 21 de março de 2017

Imigração domina debate na França

A imigração foi o tema central do debate entre os cinco principais candidatos à Presidência da França. Os dois primeiros colocados nas pesquisas trocaram acusações.

Confronto de Macron com Le Pen toma debate

Ex-banqueiro acusa candidata da extrema-direita de dividir sociedade

- O Globo

-PARIS- Com quase 40% dos eleitores ainda indecisos, os cinco principais candidatos à Presidência da França se enfrentaram ontem em debate na TV — um confronto que causou comoção nas redes sociais e levantou questões polêmicas, como o fechamento das fronteiras e a laicidade no país. Mas, apesar das discordâncias em muitos dos temas, os poucos embates aconteceram entre os dois grandes favoritos: Marine Le Pen, da Frente Nacional, de extrema-direita, e Emmanuel Macron, que se vende como um outsider e acusou a adversária de mentir e dividir a sociedade francesa.

— Os partidos tradicionais, aqueles que por décadas não conseguiram resolver os problemas de ontem, também não serão capazes de fazê-lo amanhã — disse o ex-ministro da Economia e banqueiro, de 39 anos, um dois mais testados na noite. — Proponho uma política rigorosa, firme e realista na questão migratória. Uma gestão coordenada na proteção das fronteiras.

O candidato conservador François Fillon, por sua vez, se propôs a estabelecer cotas para refugiados, mas também defendeu uma política migratória “o mais fechada possível”. Já Le Pen foi clara, reafirmando sua política de fechar completamente o país a imigrantes:

— Quero acabar com a imigração legal e ilegal — afirmou a candidata, que aparece com quase 26% das intenções de voto, empatada com Macron. — Não podemos confiar nos países europeus vizinhos para controlar um fluxo de imigrantes em que terroristas continuam se infiltrando.

Um dos momentos mais tensos do debate foi em relação à laicidade, outro tema-chave no país. E o ataque mais duro da noite veio de Macron, que acusou Le Pen de dividir a sociedade com seus ataques a outras religiões.

— A laicidade é o que protege os que creem e os que não creem — defendeu.
Antes, Le Pen acusara Macron de ser a favor do burquíni, traje de banho de corpo inteiro usado por mulheres muçulmanas que causou semanas de controvérsias no país no verão passado.

— Você está mentindo (aos eleitores), distorcendo a verdade — rebateu Macron. — Não preciso de ventríloquo. 

‘NÃO QUERO SER VICE DE MERKEL’ 
Le Pen também foi direta em outro tema espinhoso: a saída do país da União Europeia (UE). Defensora do Brexit (a saída britânica), a candidata disse que não queria que a França se tornasse uma “região vaga” do bloco e exigiu “fronteiras nacionais”, afirmando que os franceses não poderiam confiar “em uma Grécia arruinada” ou “numa Itália com dificuldades para controlar o fluxo imigratório”.

— Eu não quero ser a vice-chanceler de Angela Merkel — sentenciou, referindo-se à líder alemã, que apoia a integridade da UE. — A segurança da França é muito mais prioritária que financiar a União Europeia.

O combate ao terrorismo, outro tema que afeta diretamente os franceses, também serviu a Le Pen para defender suas propostas mais radicais de controle de fronteiras. Nesse sentido, ela teve o apoio de Fillon:

— A forma como esta crise foi tratada criou um enorme problema para a Europa. São políticas criticadas pelos próprios aliados de Merkel — afirmou ele.

Na metade final do embate, que durou quase três horas e meia, Macron deu outra alfinetada na principal rival, dessa vez por conta de uma investigação contra ela. Denunciada por malversação dos recursos públicos, Le Pen havia acusado juízes de investigá-la por interesses políticos, algo que, de acordo com Macron, não é mais que uma “grande difamação”. Mas o assunto, que tomou conta da disputa nas últimas semanas, acabou ocupando relativamente pouco tempo no debate:

— Na França existe uma Justiça e ela é independente — disse o candidato.

Apenas Jean-Luc Mélenchon, do Partido de Esquerda, se atreveu a dizer que os dois candidatos têm problemas de transparência. Há uma semana, Fillon — que chegou a estar na dianteira das pesquisas — foi formalmente colocado sob investigação por pagamentos irregulares com dinheiro público a sua mulher, Penelope, e a dois filhos. Durante o confronto, Fillon se esquivou e propôs a criação de uma comissão que deverá fazer propostas ao Parlamento para regular conflitos de interesses e regras de transparência.

— Não nos coloquem no mesmo saco — pediu Mélenchon, referindo-se a Fillon. — É preciso proibir que se possam empregar familiares, exatamente o que criou tantos problemas ao candidato conservador.

NACIONALISMO EM XEQUE
Já o candidato dos Republicanos tentou impulsionar sua campanha apresentando um programa prevendo cortes nos gastos.

— Quero ser o presidente que vai libertar os franceses do excesso de burocracia — disse Fillon.

A Rússia e os Estados Unidos de Donald Trump também entraram no confronto. Le Pen acusou os outros candidatos, principalmente Macron, de “falar muito e dizer pouco”. O adversário rebateu irritado:

— Quero uma política forte, mas responsável, ao contrário da senhora — afirmou, reafirmando seu europeísmo contra o nacionalismo de Le Pen.

Assim como Trump, já elogiado por Le Pen, a ultraconservadora acusou os rivais de “culpar os franceses” por seus erros econômicos e defendeu o isolacionismo comercial. Num cenário mundial de incerteza, após o Brexit e a eleição de Trump, analistas se preocupam com uma possível vitória da candidata.

— Me importo com empregos dos franceses, não me interessam outros países — disse ela.

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