quinta-feira, 2 de março de 2017

Marcelo Odebrecht confirma encontro com Temer, mas diz que não acertou valores

Mônica Bergamo | Folha de S. Paulo

O empreiteiro Marcelo Odebrecht confirmou nesta quarta-feira (1º) ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que jantou com o presidente Michel Temer no Palácio do Jaburu, em Brasília, durante a campanha presidencial e que discutiu com ele uma contribuição para a campanha eleitoral de 2014, que seria destinada ao seu grupo político no PMDB.

Temer era candidato a vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff.

Odebrecht negou, no entanto, que tenha acertado com Temer um valor de contribuição.

Ele afirmou acreditar que os montantes a serem doados tenham sido acertados previamente entre Eliseu Padilha, homem de confiança de Temer e hoje ministro da Casa Civil, e Claudio Melo Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht.

O empreiteiro disse que, antes do jantar com Temer, recebeu um pedido de contribuição direto de Paulo Skaf, presidente da Fiesp que era candidato ao governo de São Paulo. O empresário pediu R$ 6 milhões. Os dois são amigos pessoais e Odebrecht prometeu ajudá-lo.

Ainda em seu depoimento, o empresário disse que, no fim do jantar com Temer, teria dito a Padilha e a Claudio Mello que os dois reservassem uma parte do total destinado ao PMDB para Skaf. Depois, soube que Skaf recebeu menos que os R$ 6 milhões que havia pedido. Odebrecht ainda relatou que Duda Mendonça, publicitário que fez a campanha de Skaf, teria aparecido para tentar receber uma parte dos recursos.

VERSÃO
Em sua delação premiada, Melo Filho afirma que o acerto foi feito diretamente por Marcelo Odebrecht no encontro que o então presidente da empreiteira teve com Temer. "No jantar, acredito que considerando a importância do PMDB e a condição de possuir o Vice-Presidente da República como Presidente do referido partido político [PMDB], Marcelo Odebrecht definiu que seria feito pagamento no valor de R$ 10.000.000,00."

Deste total, R$ 4 milhões, segundo Melo, teriam sido destinados ao PMDB via Eliseu Padilha. Uma parte do dinheiro teria sido entregue no escritório de José Yunes, um dos melhores amigos de Temer. Yunes diz que serviu apenas de "mula involuntária" de Padilha, atendendo a um pedido dele de receber um "pacote" em seu escritório.

Os outros R$ 6 milhões, segundo Melo, seriam destinados à campanha de Paulo Skaf ao governo de São Paulo.

GUIDO
Em seu depoimento, o empreiteiro falou também que se encontrou várias vezes com Dilma Rousseff, mas que contribuições para campanhas eleitorais dela eram acertadas com o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.

Ele contou, por exemplo, que Mantega, ainda no governo de Lula, ajudou a aprovar uma medida provisória que beneficiou o setor petroquímico e que significou um ganho de R$ 2 bilhões ao grupo Odebrecht.

Não houve pedido direto de propina em troca do auxílio.

Mas o empresário diz que se criou uma expectativa de que a empresa contribuiria para a campanha presidencial de Dilma em 2010.

Mantega teria dito que a expectativa era de que a contribuição chegasse a R$ 50 milhões. Parte do dinheiro, segundo Odebrecht, pode ter sobrado e sido destinada também à campanha de 2014. Outra parte do dinheiro seria para pagar os serviços do marqueteiro João Santana.

No depoimento, o empreiteiro disse que chegou a fazer pagamentos "por fora", via caixa dois, no exterior, a Santana.

A Odebrecht tinha uma conta-corrente que se destinava a atender pedidos do PT.

Marcelo Odebrecht disse ainda que na reta final da campanha foi procurado por Aécio Neves (PSDB-MG), candidato à Presidência pelo PSDB. Ele disse que acertou uma ajuda para candidatos apoiados pelo tucano. O interlocutor de Aécio teria sido Osvaldo Borges, que foi presidente da Codemig (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais) durante o governo Aécio (2003-2010).

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